As Forças de Defesa de Israel (FDI) apresentaram nesta segunda-feira, 26, um “novo plano operacional” para “retirar a população” de áreas de confronto na Faixa de Gaza. O documento foi elaborado após pedidos feitos pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no início deste mês, quando solicitou aos militares um esquema para que os moradores de Rafah, cidade ao sul que tornou-se alvo de bombardeios nas últimas semanas, fossem retirados do local.
Metade da população de Gaza foi deslocada para o Rafah por orientação anterior do governo israelense. Por lá, estão amontoadas mais de um milhão de pessoas em situação de emergência humanitária – há escassez de medicamentos e os recém-chegados vivem em tendas improvisadas. No início de janeiro, as Nações Unidas alertaram que a fome já era “generalizada” no enclave palestino. Desnutridos, os civis estão mais suscetíveis a doenças infecciosas.
A entrega da proposta foi comunicada pelo gabinete de Netanyahu, que também aprovou nova assistência aos palestinos, “de uma forma que evitará os saques que ocorreram no norte da Faixa e em outras áreas”, alega a declaração. Em entrevista ao programa Face The Nation, da emissora americana CBS, o premiê adiantou que o plano “duplo” prevê o prosseguimento das operações em Rafah, definido como último “reduto de comando” do grupo palestino radical Hamas.
“Não podemos deixar o último reduto do Hamas sem cuidar dele”, disse, acrescentando que ao “iniciar a operação Rafah, a intensa fase de combate estará a semanas de ser concluída, e não a meses, semanas de ser concluída”.
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Posição dos EUA
Há duas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, “reafirmou” seu posicionamento a Netanyahu, advertindo o israelense para não prosseguir com os ataques contra Rafah “sem um plano credível e executável” para garantir a segurança de civis. Mais de 29 mil palestinos foram mortos desde o início da guerra Israel-Hamas, em 7 de outubro.
Em meio à instabilidade na região, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse à emissora americana CNN neste domingo, 25, que os negociadores – Israel, Estados Unidos, Egito e Catar – chegaram a um “entendimento” sobre os contornos gerais para um acordo sobre um cessar-fogo em potencial. Os trâmites continuam nesta segunda-feira, a medida que ocorrem discussões indiretas com lideranças do Hamas para a libertação de reféns.
“Os representantes de Israel, dos Estados Unidos, do Egito e do Catar reuniram-se em Paris e chegaram a um entendimento entre os quatro sobre como seriam os contornos básicos de um acordo de reféns para um cessar-fogo temporário. Não vou entrar em detalhes sobre isso porque ainda está em negociação em termos de definição dos detalhes”, disse Sullivan à CNN.
“Terá de haver discussões indiretas entre o Catar e o Egito com o Hamas porque, em última análise, eles terão de concordar em libertar os reféns. Esse trabalho está em andamento”, acrescentou. “E esperamos que nos próximos dias possamos chegar a um ponto em que haja realmente um acordo firme e final sobre esta questão. Mas teremos que esperar para ver.”
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‘Último prego no caixão’
Na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o prosseguimento da ofensiva total em Rafah seria “o último prego no caixão”, já que a cidade é “o núcleo” de operação de ajuda humanitária em Gaza.
Ele, inclusive, definiu a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) como “a espinha dorsal desse esforço”. Em janeiro, um escândalo fez com que a UNRWA perdesse doações de 16 países. O orçamento do escritório foi comprometido devido ao suposto envolvimento de doze funcionários – dentre os quais nove foram demitidos, dois estão sendo investigados e um morreu – no ataque do Hamas.
Uma investida contra Rafah “não seria apenas aterrorizante para mais de um milhão de civis palestinos ali abrigados; isso colocaria o último prego no caixão dos nossos programas de ajuda”, argumentou. Guterres apelou, ainda, para um cessar-fogo humanitário e à libertação “imediata e incondicional” dos reféns.