Diante da reimposição das sanções econômicas americanas a Teerã nesta terça-feira 7, parte dos iranianos se esquiva de ataques verbais e protestos contra os Estados Unidos e culpa seu próprio governo pela iniciativa da Casa Branca. Também teme que as duras medidas agora em vigor venham a provocar uma derrocada total na combalida economia do país.
Protestos e greves contra a crise econômica e as denúncias de corrupção têm sido frequentes no Irã. Apesar da calmaria desta terça-feira, o clima no país é de desespero, especialmente nos setores mais pobres da sociedade.
“Acho que estão destruindo minha vida. A situação econômica agora é de morte da classe trabalhadora”, lamenta Ali Paphi, operário da construção. “As sanções já estão afetando gravemente a vida das pessoas. Não tenho como comprar comida, pagar o aluguel. Ninguém se importa com os trabalhadores.”
Desde os anúncios do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirada de seu país do Acordo Nuclear com o Irã, de 2015, e de retomada das sanções, em 8 de maio, investidores têm recolhido e abortado seus planos em solo iraniano. A fuga de capitais provocou desvalorização acentuada da moeda local, o rial.
A essa reação de agentes econômicos se somam os casos de corrupção, o desemprego acentuado, a inflação acelerada, o sistema bancário caótico e a atuação de um governo considerado desastroso.
“Os preços aumentam há três ou quatro meses, e tudo de que precisamos agora é mais caro, até antes que as sanções fossem impostas”, comentou Yasaman, fotógrafo de 31 anos.
Hoje, começou a valer o bloqueio das propriedades nos Estados Unidos de empresas e pessoas – inclusive de nacionalidade americana – que tenham participado ou facilitado as operações de compra de títulos do Tesouro, dólares, certificados de ouro e de prata pelo governo do Irã.
A partir de 5 de novembro, será adotada a segunda rodada de sanções, que abrangerão as pessoas e empresas que deram apoio material ao Banco Central iraniano e às estatais petroleiras National Iranian Oil Company (NIOC) e Naftiran Intertrade Company (Nico). As sanções recairão também sobre qualquer pessoa ou empresa que tenha contribuído com os setores de energia, navegação, construção naval, operação portuária e automotivo do Irã.
Nesses casos, as empresas e pessoas envolvidas não poderão mais fazer negócios com companhias e cidadãos americanos. A medida implicará diretamente empresas europeias com negócios e investimentos em curso no Irã.
Beber do próprio veneno
Como muitas pessoas na capital Teerã, Yasaman acredita que os líderes iranianos se verão obrigados a voltar à mesa de negociação com os Estados Unidos, como Trump pretende. “Espero que isso aconteça logo. A maioria acha que os políticos terão de ‘beber do próprio veneno'”, acrescentou Yasaman.
“Beber do próprio veneno” é uma expressão amplamente usada no Irã nos últimos dias. Mas foi dita há anos pelo líder revolucionário iraniano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, ao referir-se ao acordo que pôs fim à brutal guerra de oito anos de seu país com o Iraque, em 1988″.
A maioria dos iranianos não sente a histórica hostilidade em relação aos Estados Unidos, com a qual conviveu durante quatro décadas. Sua revolta agora é dirigida principalmente contra seus próprios líderes.
“Os preços estão subindo novamente, mas o motivo disso é a corrupção do governo, não as sanções dos Estados Unidos”, protesta Ali, decorador de 35 anos.
Como muitos iranianos, ele acredita que o presidente do país, Hassan Rohani, é uma figura impotente para melhorar as coisas. “Rohani não pode resolver os problemas. Já demonstrou várias vezes que não é ele que toma as decisões neste país. Nossos problemas são os nossos representantes e o nosso sistema”, acrescentou.
Os iranianos mais ricos e educados também perderam a esperança. Mas têm a opção de abandonar o país, mesmo sendo essa uma escolha dolorosa. O iraniano-americano Sogand chegou ao Irã pela primeira vez há cinco anos e desfrutou do alívio das tensões internacionais que acompanharam o acordo nuclear de 2015.
Mas nos últimos meses está preocupado com sua dupla nacionalidade e com o fato de muitas pessoas com dois passaportes terem sido presas por espionagem. Por isso, decidiu que era hora de partir.
“Eu me sinto envergonhado por abandonar meus amigos durante esta crise econômica. Eu me sinto culpado por ter recurso para ir embora, e eles, não”, explicou. “Mas a instabilidade econômica e a eliminação de todas as perspectivas financeiras nesse país são o último prego no caixão”, concluiu.
(Com AFP)