Irã vai retomar enriquecimento de urânio em central a 180 km de Teerã
Este é o quarto descumprimento do acordo nuclear anunciado por Teerã; medida ocorre um dia após nova rodada de sanções americanas
O presidente do Irã, Hassan Rohani, declarou nesta terça-feira, 5, que irá reiniciar o enriquecimento de urânio em uma usina que estava inativa desde 2015, quando entrou em vigor o acordo nuclear firmado com várias potências mundiais. Essa é a segunda vez em dois dias que o país anuncia violação ao pacto.
A atividade na Central de Fordo, a 180 quilômetros ao sul da capital Teerã, será retomada a partir de quarta-feira 6, segundo Rouhani. Fordo, que conta com 1.044 centrífugas, é mais a “eficiente” dentre as duas bases de enriquecimento de urânio na república islâmica, segundo a emissora britânica BBC.
O acordo internacional — que visa conter o programa de nuclear iraniano em troca de alívio de sanções econômicas — proibia o Irã de enriquecer urânio em Fordo e estabelecia que o país deveria se limitar apenas a Natanz (também ao sul de Teerã) e suas 5.060 centrífugas “mais antigas”.
Esta é a quarta etapa do plano iraniano de redução de compromissos na área nuclear iniciado em maio. Trata-se de resposta à saída do governo dos Estados Unidos do acordo de Viena em 2018, indicou Hassan Rohani.
Durante as três primeiras etapas, o Irã começou a produzir urânio enriquecido a um nível superior ao limite de 3,67% estabelecido pelo acordo, deixou de respeitar o limite de 300 quilos determinado pelo pacto para armazenamento de urânio pouco enriquecido e ativou a produção de centrífugas avançadas em Natanz.
Na segunda-feira 4, o Irã havia divulgado que aumentara a velocidade de produção de urânio pouco enriquecido durante os últimos dois meses graças às novas centrífugas em Natanz, que são 50 vezes mais rápidas que as permitidas pelo pacto.
Mas Teerã ainda se limita a produzir urânio enriquecido a 4,5% no máximo, muito abaixo dos 90% necessários para o uso militar.
A notícia da reativação da usina ocorre um dia após os Estados Unidos aplicarem sanções econômicas contra nove funcionários do alto escalão do Irã, incluindo o presidente do Tribunal Supremo, Ebrahim Raisi.
“Etapa reversível”
Rohani afirmou que as atividades nucleares em Fordo continuarão sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), assim como as demais atividades nucleares iranianas.
Com o acordo de 2015, Teerã aceitou reduzir drasticamente suas atividades nucleares — para garantir seu caráter exclusivamente civil — em troca de uma suspensão parcial das sanções internacionais que asfixiam sua economia.
A retirada dos Estados Unidos e a política de “pressão máxima” do governo do presidente Donald Trump contra Teerã — principalmente com um arsenal de sanções frequentemente prorrogadas — privam o Irã dos benefícios econômicos que esperava obter com o acordo, segundo o governo de Teerã.
O Irã exige especialmente a possibilidade de exportar seu petróleo, pois as sanções americanas fizeram o país perder quase todos os clientes tradicionais.
“A quarta etapa, como as três primeiras, é reversível”, garantiu Rohani.
(Com AFP)