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Irã condena plano de Bolsonaro de transferir embaixada para Jerusalém

Gesto seria reconhecimento da cidade sagrada como capital do Estado de Israel; setor agrícola teme reflexos negativos nas exportações com a mudança

Por Da Redação
31 dez 2018, 12h39

O Irã condenou o plano do presidente eleito Jair Bolsonaro de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Bahram Ghasemi, disse nesta segunda-feira, 31, que tal medida “não vai ajudar a paz, a estabilidade, a segurança e a recuperação dos direitos do povo palestino”.

Ghasemi acrescentou, porém, que “as relações com o Brasil eventualmente continuarão”.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que está visitando o Brasil, disse neste domingo 30 que era uma questão de tempo para que o Brasil mude sua embaixada para Jerusalém.

Bolsonaro indicou no mês passado que pretendia transferir a representação diplomática brasileira, o que gerou ameaças de boicote a produtos brasileiros por parte de estados árabes. A Liga Árabe declarou, na ocasião, que se o plano for mantido, a região tomará as “medidas políticas, diplomáticas e econômicas necessárias” diante de um ato considerado como “ilegal”.

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A transferência da embaixada é um gesto de reconhecimento da cidade sagrada como capital do Estado de Israel, questão que divide árabes e israelenses no conflito no Oriente Médio, além da própria comunidade internacional.

Os palestinos reivindicam a porção oriental da cidade como capital de seu futuro Estado, mas os israelenses a consideram indivisível. Pelo plano de partilha da Palestina, de 1947, a cidade deveria ter status internacional, mas Israel tomou a parte ocidental na guerra de 1948. Anexada pela Jordânia, a porção do Oriente de Jerusalém foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Atualmente, a maior parte dos países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv. Os Estados Unidos fizeram a mudança de sua embaixada para Jerusalém em maio deste ano, gerando protestos. A Guatemala também seguiu a iniciativa americana.

A Austrália anunciou neste mês que o país irá reconhecer formalmente Jerusalém como a capital de Israel, mas indicou que a mudança de endereço da embaixada só ocorrerá quando for alcançado um acordo de paz na região.

A situação do Brasil

O setor agrícola teme reflexos negativos nas exportações com a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou para  Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,6 bilhões de dólares em produtos.

O Irã foi o sexto maior comprador de bens brasileiros, com 4,6 bilhões dólares. Já Israel importou 256 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 64º maior mercado brasileiro.

O Brasil também é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo, e esse comércio pode enfrentar problemas se Bolsonaro irritar os países árabes com a transferência da embaixada. Isso poderia afetar fortemente as exportações para os principais mercados do Oriente Médio das empresas BRF e JBS.

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Os alimentos Halal são aqueles permitidos pela religião islâmica. Entre as carnes, os muçulmanos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo, e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe.

Antes do abate de cada animal, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de mostrar obediência e agradecimento pelo alimento. Peixes são considerados Halal por natureza, porque saem da água vivos. Já os suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam.

Em entrevista a VEJA, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Zeben, afirmou que as intenções do governo brasileiro em mudar sua embaixada são lamentáveis.

“Jerusalém é uma cidade ocupada. As Nações Unidas não reconhecem a soberania israelense sobre a cidade. E é uma tradição do Brasil, desde 1947, respeitar o direito internacional e não dar esse reconhecimento. Isso não é linha do PT, da direita ou da esquerda, mas uma tradição diplomática”, afirmou o embaixador.

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“Teremos a maior boa vontade de explicar ao futuro governo brasileiro a posição palestina”, completou Zeben.

Aproximação entre Brasil e Israel

Em sua visita ao Brasil, o primeiro-ministro de Israel garantiu a mudança da embaixada brasileira para de Tel-Aviv para Jerusalém.

“Bolsonaro disse ‘eu vou mudar a embaixada para Jerusalém, não é uma questão de se, mas uma questão de quando’”, disse Netanyahu. Os dois se reuniram no Rio na sexta-feira 28, primeiro dia da visita oficial do premiê ao Brasil, onde acompanhará a posse do presidente eleito, na próxima terça-feira, 1, em Brasília.

Nos pronunciamentos públicos de sexta-feira, após um almoço e uma reunião, e num evento numa sinagoga, Bolsonaro não tocou no tema da embaixada.

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Já neste domingo 30, o premiê israelense se encontrou com jornalistas brasileiros. Ele destacou que o Brasil é o principal foco de Israel neste momento e que é importante estreitar relações com o país.

Netanyahu disse que conversou com Bolsonaro sobre os benefícios que a tecnologia israelense pode trazer ao Brasil, principalmente nas áreas de agricultura, gestão hídrica e segurança.

Nos próximos meses especialistas israelenses estarão no Brasil para mapear as necessidades brasileiras e avaliar possibilidades de parceiras econômicas.

Netanyahu destacou a forma amigável como foi recebido no sábado 29 durante um passeio à praia de Copacabana. “Entre milhares de pessoas, uma pessoa gritou ‘free Palestine’ [liberte a Palestina], mas milhares de pessoas me aplaudiram”, disse.

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(Com Estadão Conteúdo)

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