A Igreja Católica da China reafirmou neste domingo (23) sua lealdade ao Partido Comunista do país (PCC), ao mesmo tempo em que fechou um acordo histórico com o Vaticano sobre a nomeação de novos bispos.
Os cerca de 12 milhões de católicos do país estão divididos entre uma igreja clandestina que até agora se dizia leal ao Vaticano e a Associação Patriótica Católica, supervisionada pelo Estado.
A Santa Sé assinou, no sábado (22), um acordo que dá à Igreja chinesa voz decisiva na nomeação de bispos na China, permitindo indiretamente que o Partido escolha os religiosos que controlarão a instituição.
O pacto espera resolver um dos principais pontos de discórdia entre Pequim e a Santa Sé nos últimos anos, com o Vaticano concordando em aceitar sete bispos que haviam sido nomeados pela China sem o consentimento do papa Francisco.
A Igreja Católica na China, que já obedecia ao PCC, reafirmou sua intenção de “perseverar em seguir um caminho adequado a uma sociedade socialista, sob a liderança do Partido Comunista Chinês”.
O Vaticano disse que o acordo, um avanço depois de anos de negociações, “não é político, mas pastoral”, e espera que isso leve à “plena comunhão de todos os católicos chineses”.
O acordo ocorre quase 70 anos depois que a Santa Sé e Pequim romperam relações diplomáticas. A insistência de longa data do governo da China de que deveria nomear bispos conflitava com a autoridade papal.
O Vaticano disse que agora todos os bispos na China estão em comunhão com Roma, mesmo que a comunidade católica no país ainda esteja dividida entre os católicos que pertencem à Igreja oficial da China e os que são da Igreja que permanece leal ao pontífice.
Um oficial do Vaticano disse recentemente que o acordo permite que o papa vete efetivamente futuras nomeações de bispos por Pequim. O funcionário, que pediu anonimato em razão das negociações diplomáticas envolvidas, descreveu o texto como o “melhor que a Santa Sé poderia alcançar agora”.
Críticas
As perspectivas de tal acordo, contudo, dividiram comunidades de católicos em toda a China. O cardeal de Hong Kong Joseph Zen criticou a medida e afirmou que teme uma maior supressão do governo se o Vaticano ceder mais controle a Pequim.
Em seu blog, Zen criticou a falta de detalhes do documento, incluindo a não menção do status de diversos bispos já nomeados pelo papa.
“Qual é a mensagem que esse comunicado transmite aos fiéis na China? ‘Acreditem em nós! Aceitem esse acordo!'”, escreveu ele, acrescentando que o texto é equivalente ao governo chinês dizer aos católicos “nos obedeçam, estamos de acordo com o seu papa”.
Sob a Presidência de Xi Jinping, o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung, os fiéis viram sua liberdade religiosa encolher. Especialistas e ativistas afirmam que conforme Xi consolida seu poder, promove a mais sistemática supressão do cristianismo desde que a constituição chinesa permitiu a liberdade religiosa em 1982. O presidente tenta implementar em todas as religiões do país “características chinesas”, como lealdade ao Partido Comunista.