Gotson Pierre.
Porto Príncipe, 15 dez (EFE).- O Haiti alcançou uma aparente normalidade institucional no final de 2011, um ano marcado por um tenso processo eleitoral que culminou com a ascensão ao poder do ex-cantor Michel Martelly e pela expansão da epidemia de cólera iniciada em 2010, que causou cerca de sete mil mortes.
O processo eleitoral presidencial e legislativo começou em novembro de 2010 e terminou em março deste ano por causa de vários problemas administrativos e, sobretudo, políticos, que causaram momentos de forte tensão e violência.
Após distúrbios que deixaram pelo menos um morto e vários feridos, devido aos questionados resultados preliminares, a Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu analisar o processo. O organismo então decidiu excluir do segundo turno o candidato governista, Jude Celestin, e colocar em seu lugar o agora presidente, Michel Martelly, um ex-cantor sem experiência de Estado.
Martelly obteve 67,57% dos votos no segundo turno, contra 31,74% de sua oponente, a ex-primeira-dama Mirlande Manigat, que havia vencido o primeiro turno.
O nível de participação nas eleições foi de pouco mais de 1 milhão de eleitores, frente aos 4,5 milhões aptos a votar.
As eleições também permitiram renovar um terço do Senado, de 30 membros, e as 99 cadeiras da Câmara dos Deputados.
Martelly tomou posse em 14 de maio, mas demorou cinco meses a formar o Governo devido a divergências com os legisladores. Esse fato causou preocupação dentro da comunidade internacional, que apoia o plano de reconstrução da nação por causa do terremoto de janeiro de 2010. O sismo deixou mais de 300 mil mortos e 1,2 milhão de afetados.
Isso ocorreu porque o presidente não conta com maioria no Parlamento, onde as forças afins a seu antecessor, René Préval, mantêm o controle.
Em outubro, o governante conseguiu que os legisladores aprovassem a nomeação do médico Garry Conille, de 45 anos, como novo chefe do Governo, após a rejeição das candidaturas de Daniel Rouzier e Bernard Gousse.
Conille, que foi assessor do ex-presidente americano Bill Clinton, enviado especial da ONU para o Haiti, assumiu oficialmente o cargo em 18 de outubro e prometeu o ‘renascimento’ do país, ao tempo que convidou seus compatriotas a manterem ‘a fé no futuro’.
Apesar da promessa de uma mudança por parte do Governo, os planos não começaram a sair do papel, e o Executivo ainda não dispõe de um documento oficial de seu programa de trabalho.
Martelly, no entanto, promoveu o reinício das aulas em outubro, e segundo os números oficiais, entre estudantes antigos e novos, sua administração colocou 900 mil crianças nas escolas.
Por outro lado, poucos resultados foram alcançados em dois dos mais importantes temas no Haiti – alojamento e saúde – desde o sismo de janeiro de 2010, que deixou o país em uma crítica situação, e a epidemia de cólera iniciada em outubro desse mesmo, que agravou o panorama.
Apesar de já ter sido iniciado o despejo de parques públicos que tinham sido ocupados pelos desalojados após terremoto, as últimas estatísticas calculam em mais de 600 mil o número de pessoas que seguem em acampamentos em várias zonas afetadas pelo tremor.
A cólera, que passou por vários períodos de forte propagação, causou a morte de quase sete mil pessoas e afetou mais de 500 mil.
Relatórios técnicos atribuem a presença da doença no país ao vazamento de águas contendo coliformes fecais do contingente nepalês da Missão da ONU para a Estabilização do Haiti (Minustah) em um rio de Mirabalais, no centro do país, onde foram detectados os primeiros casos.
Em plena crise política e sanitária, os haitianos presenciaram a chegada ao país em janeiro deste ano, desde o exílio na França, de Jean-Claude Duvalier, que foi acusado nos tribunais de ser o responsável por milhares de mortes e crimes contra os direitos humanos.
Dois meses depois, em 18 de março, dois dias antes do segundo turno das eleições, retornou desde a África do Sul o também exilado ex-governante Jean Bertrand Aristide. EFE