Mohammed Merah, acusado de perpetrar o ataque contra uma escola judaica em Toulouse, em que morreram três crianças e um adulto na última segunda-feira, está morto, informou o governo francês nesta quinta-feira. A polícia invadiu na manhã desta quinta o apartamento de Merah, que estava cercado há cerca de 30 horas. De acordo com a agência de notícias France-Presse, três policiais teriam se ferido durante o confronto com o suspeito, um deles gravemente.
O ministro do Interior, Claude Guéant, disse em entrevista coletiva que Merah estava usando várias armas para atirar contra os policiais quando se jogou pela janela do banheiro onde estava escondido – ainda atirando. Ele foi encontrado morto no chão logo depois. O jornal Le Figaro afirmou, citando uma fonte policial, que ele já estava morto quando chegou ao solo – já que ele morava no primeiro andar e havia sido baleado pelos oficiais da RAID, a ‘tropa de elite’ francesa. De acordo com o jornal Le Monde, 300 disparos de arma de fogo foram ouvidos logo após a invasão da polícia.
Guéant disse que não houve reação de dentro do apartamento durante a operação, os policiais derrubaram a porta e usaram as janelas para entrar. As forças francesas haviam usado câmeras para determinar onde estava escondido o suspeito e, quando eles começaram a inspecionar o local, ele saiu do banheiro atirando “com extrema violência”. Os policiais tentaram se proteger do ataque – mas três ficaram feridos.
“O autor dos terríveis assassinatos foi identificado e levado para fora de perigo. Às vítimas, as crianças, os soldados, um pai, bem como às suas famílias, eu reservo meu primeiro pensamento”, disse em um anúncio público o presidente Nicolas Sarkozy. “A França provou ter sangue frio e determinação e permaneceu unida. Mas os franceses devem superar a sua indignação. Nossos compatriotas muçulmanos não têm nada a ver com essa história, a culpa não é deles”, afirmou.
Operação – Horas antes da invasão, os policiais atiraram bombas de efeito moral contra o apartamento de Merah e cortaram a energia elétrica no quarteirão, com o intuito de fazer pressão psicológica sobre o suspeito. De acordo com o ministro do Interior francês, Claude Gueant, a intenção das autoridades era capturar Merah vivo: “São contempladas todas as hipóteses. Temos uma prioridade, que é entregá-lo à Justiça, e para isso é preciso detê-lo vivo. Esperamos que siga vivo”, afirmou Gueant durante a madrugada.
O assassino, de 23 anos, estava cercado desde as 3 horas de quarta-feira (horário local) por um forte dispositivo policial, em seu domicílio, um apartamento no primeiro andar de um edifício no bairro Côte Pavée. Durante a noite passada, os agentes do RAID, o corpo de elite da Polícia francesa, produziu diversas detonações para pressionar o suspeito.
Histórico – Merah trabalhava como mecânico e havia tentado entrar na Legião Estrangeira da França em 2010. Conforme o site da revista Le Point, Merah, francês de origem argelina, foi expulso da corporação em seu primeiro dia e atualmente trabalhava como serralheiro em Toulouse, no sul da França.
O jovem procurou grupos islâmicos radicais com os quais também estava envolvido seu irmão, que foi preso nesta quarta-feira. Merah, que afirmou pertencer à Al Qaeda, fez duas viagens à fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, em 2010 e 2011, para se integrar a grupos combatentes de talibãs em uma região onde atua o Movimento dos Talibãs do Paquistão (TIP), informou o jornal Le Monde. A Justiça e a polícia da França acreditam que o assassino de Toulouse realmente agiu sozinho, como ele mesmo havia dito na quarta-feira.
Crimes – Segundo o ministro do Interior, Merah, de 23 anos, era conhecido pela polícia de Toulouse, pois já havia se envolvido em “uma dezena de atos de delinquência, alguns envolvendo violência”. Guéant o descreveu como “um pequeno delinquente que se radicalizou com um grupo salafista de Toulouse antes de viajar para o Afeganistão e Paquistão”. De acordo com o ministro, o grupo salafista, formando por cerca de 15 pessoas, é ideológico e “jamais se envolveu em atos criminais”.
Uma advogada que já defendeu Merah em 2004 e 2005, Marie-Christine Etelin, disse ao jornal francês Le Monde que o suspeito do massacre já foi condenado a um mês de prisão por dirigir sem licença. Merah deveria comparecer no início de abril perante um juiz de execução de penas que decidiria sobre a maneira de cumprir a punição.
Marie-Christine disse que não imaginava que seu cliente, um “jovem educado e cortês”, pudesse cometer atos de “uma dureza absoluta”. “Apesar de casos de delinquência, principalmente roubos, vi-o sempre como um indivíduo flexível em seu comportamento e não rígido até o ponto de pensar em um fanatismo”, afirmou. “Mas, há dois anos soube que havia se radicalizado subitamente e que havia ido ao Afeganistão”, acrescentou a advogada, que incentiva, “é claro”, seu cliente a se render.