Um dia depois de retomar o diálogo com os líderes regionais da Catalunha, o governo do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, reúne-se nesta sexta-feira, 21, em Barcelona, com seu gabinete. O encontro acontece sob um forte dispositivo policial e cercado por muitos protestos de separatistas radicais.
Com lemas como “seremos ingovernáveis”, diversos grupos independentistas convocaram atos para tentar impedir o que consideram uma “provocação” de Sánchez. Ele assumiu o poder em junho, prometendo um apaziguamento da crise catalã.
Desde as primeiras horas da manhã, os ativistas bloquearam várias estradas na região, incluindo rodovias importantes como a AP7 e a A2, que ligam a região com a França e com Madri. Também fecharam importantes vias de acesso a Barcelona, que já foram reabertas, e algumas artérias da cidade, segundo o serviço regional de tráfego.
Os protestos foram convocados pelos chamados Comitês de Defesa da República (CDR), que queimaram pneus no meio das vias e colocaram troncos de árvores cortadas. Ao menos 32 pessoas ficaram feridas nos confrontos com policiais.
Ao menos onze pessoas foram presas, de acordo com a polícia catalã, os Mossos d’Esquadra, por causar distúrbios e bloquear as estradas. Uma pessoa portava material “que pode ser utilizado para a fabricação de artefato incendiário, ou explosivo”, segundo os agentes.
O aeroporto e o porto da cidade funcionam com normalidade e seus acessos estão liberados, assim como o mercado central da capital catalã, Mercabarna.
O encontro com o gabinete
O conselho de ministro começou pouco depois das 10h locais (7h de Brasília) no palácio de Llotja de Mar, perto do litoral mediterrâneo.
O gabinete de Pedro Sánchez aprovará hoje em Barcelona uma série de medidas de forte conteúdo social, como o aumento do salário mínimo em 22% e o aumento do salário dos funcionários públicos para 2019 em 2,25%.
Esta é a segunda vez que Sánchez reúne seu governo fora de Madri — a primeira foi em outubro, em Sevilha. Outro encontro está previsto para o mês de março em Alicante (no leste).
Um forte esquema de segurança foi montado para proteger o local, com várias barreiras erguidas a centenas de metros do edifício para manter os manifestantes longe.
A imagem contrasta com a reunião de quinta-feira 20 entre Sánchez e o presidente da região da Catalunha, o independentista Quim Torra. O encontro terminou com um comunicado conjunto, no qual os dois governos se comprometem a “um diálogo efetivo” para “avançar em uma resposta democrática às demandas dos cidadãos da Catalunha, no âmbito da segurança jurídica”.
Durante o encontro, celebrado em um elegante palácio de Barcelona após dias de negociações sobre o formato, os dois Executivos concordaram em prosseguir os contatos com outra reunião em janeiro.
“Cabe a todos nós abrir uma nova etapa”, afirmou Sánchez posteriormente, em um jantar com empresários, onde voltou a encontrar Torra.
O encontro foi criticado pela oposição conservadora espanhola. Pablo Casado, líder do Partido Popular, afirmou que Sánchez tratou Torre “praticamente como um chefe de Estado”, e disse ter sentido “vergonha”.
Nas ruas, os ânimos também se voltaram contra o Executivo separatista catalão por este diálogo que, segundo foi anunciado, continuará em janeiro.
“O diálogo para mim é um passo atrás. Agora não é o momento de tentar dialogar, esse momento já passou. Parece-me que se tratou apenas de uma encenação para acalmar os ânimos para hoje”, declarou em Barcelona a manifestante Mariona Godia, de 35 anos.
(Com AFP e EFE)