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Governo dos EUA recorre a Bolsonaro para salvar Cúpula das Américas

Estados Unidos temem um esvaziamento do evento devido ao desgaste das relações com os países da América Latina nos últimos anos

Por Da Redação
Atualizado em 25 Maio 2022, 14h22 - Publicado em 24 Maio 2022, 15h24
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  • O governo dos Estados Unidos enviou ao Brasil nesta terça-feira, 24, o enviado especial do país para a Cúpula das Américas, Christopher Dodd, de maneira a convencer o presidente Jair Bolsonaro a comparecer ao evento. Segundo Dodd, o líder americano, Joe Biden, estaria disposto a fazer uma reunião bilateral com Bolsonaro às margens do evento. 

    O objetivo do governo americano é impedir um possível esvaziamento na próxima edição, que irá acontecer em Los Angeles no início de junho. De acordo com pessoas envolvidas nos preparativos da reunião, a viagem de Dodd teve como objetivo demonstrar a importância da participação do governo brasileiro. 

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    A nona edição da Cúpula das Américas foi idealizada pelos Estados Unidos de maneira a demonstrar a força do país como líder em assuntos relacionados à América Latina, posição negligenciada pelo ex-presidente, Donald Trump, que faltou ao evento em 2018. 

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    A cúpula ocorre em um momento crítico para o governo americano, que busca combater a influência da China na região, reparar os relacionamentos danificados por Trump e controlar o fluxo de imigrantes na fronteira sul dos EUA. 

    Com o evento marcado para começar no próximo dia 6, a lista final de convidados ainda não foi fechada. Além de Bolsonaro, Dodd também tenta persuadir o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, a participar. Recentemente, ele sinalizou que pretende comparecer apenas se os Estados Unidos convidarem todos os países do continente, o que inclui Cuba, Venezuela e Nicarágua, pensamento ecoado por outros governos.

    Segundo analistas, líderes locais sentem que podem ameaçar não participar sem medo ou custo, principalmente pelo fato de que não parece haver tantas consequências em uma eventual ausência. 

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    Ainda que dificilmente os convites sejam estendidos à Cuba, Venezuela e Nicarágua, a Casa Branca vem tentando sinalizar uma maior aproximação com esses países. Na semana passada, o governo americano anunciou a flexibilização de algumas sanções da era Trump, facilitando o envio de dólares para familiares que morem na ilha, além de permitir que a estatal petrolífera venezuelana possa realizar negócios antes proibidos. 

    Autoridades do do governo americano disseram que os Estados Unidos estão buscando alternativas para incluir as delegações de tais países, de forma a satisfazer as objeções de Obrador. Desse modo, é provável que membros do governo de Havana, provavelmente alguém do Ministério das Relações Exteriores cubano, seja convidado para a cúpula. 

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    Outra estratégia adotada pelo governo democrata é a presença da primeira-dama, Jill Biden, que está em uma viagem de seis dias pelo Equador, Panamá e Costa Rica para promover o evento. No entanto, os movimentos têm produzido pouco resultado. A ascensão de líderes pouco interessados na manutenção de fortes laços com Washington nos moldes antigos tem ligado o sinal de alerta no governo americano. 

    Após quatro anos de governo Trump, com uma série de ataques a países da América Latina, era esperado que Biden fizesse um trabalho de recuperação das relações diplomáticas, principalmente devido a suas falas durante a campanha presidencial.

    No entanto, o que se viu na prática foi pouco ou nenhum movimento direcionado a isso, fazendo com que muitos países recorressem à China para suprir o buraco deixado pelos americanos. 

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    “Há um sentimento de separação. Além da dimensão econômica, há uma mudança na opinião pública sobre a eficácia da democracia. Os recentes problemas políticos dos Estados Unidos tiraram essa imagem de sucesso do norte”, disse o ex-embaixador americano no México e na Argentina, Earl Anthony Wayne, ao jornal americano Los Angeles Times.

    Aproveitando desse sentimento, a China entrou com força no continente. Desde 2017, 21 dos 35 países do continente americano aderiram à ambiciosa Iniciativa do Cinturão e da Rota da China, de US$ 4,3 trilhões, que está construindo infraestrutura e expandido acordos comerciais por todo o mundo. 

    Pesa ainda a favor dos chineses que esses acordos, embora muitas vezes tenham um alto valor financeiro, não constam com nenhuma exigência sobre democracia ou corrupção. 

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    Apesar da Cúpula das Américas ter como foco as mudanças climáticas e a questão da migração, o evento surge como uma boa oportunidade para que os desafios econômicos e comerciais sejam discutidos entre os líderes, principalmente devido à recessão nas economias locais causada pela pandemia da Covid-19. 

    No entanto, às vésperas do início da reunião, nenhuma agenda ainda foi divulgada pela Casa Branca, o que dificulta a avaliação de sua real eficácia. Segundo analistas, um roteiro detalhado poderia ter ajudado a garantir que a vantagem em participar fosse maior do que a desvantagem de se afastar de Washington. 

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    A reunião, que não é realizada nos Estados Unidos desde sua primeira sessão em Miami, em 1994, teve sua parcela de crises diplomáticas ao longo dos anos. Cuba, por exemplo, foi excluída ou impedida de participar por duas décadas, até retornar em 2015, quando o famoso aperto de mão entre Obama e Raúl Castro pareceu quebrar o gelo nas relações.

    Três anos depois, Trump decidiu por desprezar o evento, enviando em seu lugar o então vice-presidente, Mike Pence, tirando, mais uma vez, a legitimidade da cúpula.

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