As paredes do olho do furacão Iota, de categoria 5, com ventos de 260 quilômetros por hora, atingiram a Nicarágua na noite de segunda-feira 16, provocando ventos fortes e chuvas torrenciais. O fenômeno avança nesta terça, 17, pelo interior da América Central, uma região devastada há duas semanas pelo furacão Eta, e meteorologistas preveem estragos que podem demorar décadas para serem reparados.
“O furacão Iota perde força rapidamente sobre o noroeste da Nicarágua”, afirmou o Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em seu boletim de 9h GMT (6h de Brasília), que mesmo assim faz uma advertência sobre “ventos catastróficos e chuvas torrenciais”.
O Iota segue a mesma trajetória do furacão Eta, que deixou mais de 200 mortos e desaparecidos na América Central. Segundo estimativas oficiais, 2,5 milhões de pessoas foram afetadas na passagem da primeira tempestade.
Milhares de moradores foram retirados de suas casas e levados para abrigos em vários países, enquanto seus líderes políticos entraram em um acordo de frente comum para solicitar recursos internacionais enquanto os danos das tempestades se acumulam.
O Iota é o 13º furacão da temporada atual, particularmente intensa com um número recorde de ciclones, o que obrigou a usar o alfabeto grego para nomear novos fenômenos.
Albergues lotados
Bilwi, a cidade mais populosa do Caribe Norte nicaraguense, começou a sentir na segunda-feira fortes rajadas de vento e chuvas intensas. Centenas de indígenas miskitos e afrodescendentes moradores do bairro El Muelle, na costa de Bilwi, esperavam assustados a ajuda das autoridades para serem evacuados.
Os abrigos na Nicarágua, já demandados pelas evacuações durante a passagem do Eta, estavam saturados depois de terem recebido no domingo novas levas de refugiados ameaçados pelo Iota, disse Eufemia Hernández, coordenadora de um destes centros na universidade Uraccan.
O diretor do Sistema Nacional de Prevenção, Mitigação e Atenção a Desastres (Sinapred) da Nicarágua, Guillermo González, informou que são esperadas enchentes e deslizamentos de terra no Caribe Norte e nos departamentos de Chinandega, principalmente nos arredores do Vulcão Casitas, onde o furacão Mitch matou milhares de pessoas após um deslizamento de terra em 1998.
A Nicarágua se encontra em “alerta máximo vermelho na zona do Caribe Norte”, acrescentou González. “É um dos fenômenos mais violentos que já se aproximaram do nosso país”, ressaltou.
Ajuda internacional
O nordeste da Nicarágua, uma região extensa e muito populosa, com moradores das etnias miskito, sumos, garífunas, créole e mestiços, esperava o impacto de Iota sem ter terminado de assimilar os efeitos do furacão Eta.
O governo e organismos de socorro da Nicarágua se apressavam para enviar por terra alimentos e outras provisões aos desabrigados no Caribe, antes de a região ficar incomunicável pela cheia dos rios caudalosos que a atravessam.
Em Honduras, Iota provocou rajadas de ventos e fortes chuvas na segunda-feira nos departamentos orientais de Gracias a Dios – habitados por indígenas miskitos –, Colón, norte de Olancho e parte de Atlántida, segundo a Comissão Permanente de Contingência (Copeco) estadual.
De acordo com a mídia local, mais de 175.000 pessoas deixaram suas casas desde sábado, especialmente em áreas inundadas durante o flagelo Eta no Vale de Sula, perto de San Pedro Sula, capital industrial do país, 180 quilômetros ao norte de Tegucigalpa.
A Guatemala mantém a vigilância nas províncias de Alta Verapaz, Izabal, Quiché, Huehuetenango, Petén, Zacapa e Chiquimula, nas regiões norte, oeste e leste, duramente castigadas pelo Eta e ainda com dezenas de comunidades isoladas por deslizamentos e inundações, segundo Yelson Samayoa, diretor do Instituto de Meteorologia.
O Panamá, atingido pelas bandas do furacão Iota, declarou um alerta vermelho nas províncias ocidentais de Chiriquí e Boca del Toro e na região indígena Ngäbe-Buglé. E autoridades colombianas informaram nesta segunda que a Ilha da Providência, onde moram umas 6.000 pessoas, estava incomunicável pelo impacto do furacão.
Diante do impacto dos furacões, os presidentes da Guatemala, Honduras, Nicarágua e Costa Rica pediram nesta segunda-feira por ajuda a comunidade internacional, em um encontro virtual.
O presidente do Banco Centro-Americano de Integração Econômica (CABEI), Dante Mossi, presente no evento online, propôs à entidade o envio de 2,5 bilhões de dólares “para restaurar infraestrutura, barragens e construção de moradias populares”.
(Com AFP e EFE)