A França volta às urnas neste domingo, 7, para o segundo turno das eleições legislativas, antecipadas por decisão do presidente do país, Emmanuel Macron. O pleito pode marcar a chegada da extrema direita ao poder após diversas tentativas frustradas nas últimas décadas.
Segundo o Ministério do Interior, a participação foi de 67%, a maior desde 1981, e ligeiramente superior à registrada no primeiro turno.
Na primeira rodada, realizada no último domingo 30, o Reunião Nacional, partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen, conquistou 33% dos votos. Já a Nova Frente Popular, de esquerda, ficou com 28% dos votos, enquanto o bloco centrista de Macron terminou em terceiro, com 20%.
Diante dos resultados do primeiro turno, a esquerda e o centro devem se unir para não permitir que a extrema direita conquiste a maioria do Parlamento francês. Caso isso ocorra, Macron deve noemar o líder do Reunião Nacional, Jordan Bardella, de 28 anos, como primeiro-ministro.
Pesquisas realizadas ao longo da semana indicam que o RN é favorito para vencer, mas sem conquistar maioria (289) dos assentos.
A votação encerra às 18h (13h em Brasília) em cidades pequenas e vilas e às 20h (15h no Brasil) nos municípios maiores. As primeiras projeções devem começar a partir das 20h no horário local, com base em contagens iniciais de uma amostra de postos de votação.
Como foi o primeiro turno?
Cerca de 66,71% dos pouco mais de 49,33 milhões de eleitores aptos a votar participaram no domingo 30 do primeiro turno das eleições legislativas na França. Conforme os resultados que o Ministério do Interior divulgou, o índice de comparecimento foi um dos maiores das últimas décadas, evidenciando o grande interesse da população no pleito, cujo segundo turno está agendado para o próximo domingo.
A taxa de participação espontânea (na França, o voto não é obrigatório) foi a maior para o primeiro turno de uma eleição legislativa francesa desde 1997, quando 67,9% dos eleitores foram às urnas para escolher os 577 deputados que compõem a Assembleia Nacional – equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. No primeiro turno das últimas eleições legislativas, em 2022, mais da metade (52,5%) dos eleitores se abstiveram de votar.
Os 577 deputados, mais 348 senadores, integram o Parlamento francês, responsável por criar ou alterar as leis nacionais e controlar as ações do governo federal. O mandato de um deputado tem duração de cinco anos, mas pode ser interrompido pela dissolução da Assembleia Nacional, conforme aconteceu este ano.
Por que Macron antecipou o pleito?
No início de junho, Macron dissolveu a Assembleia Nacional e anunciou a antecipação da eleição que estava prevista para 2027, quando também termina o mandato de Macron. O presidente francês anunciou a medida após eleitores de 21 países da União Europeia, incluindo a França, votarem para a formação do Parlamento Europeu. A iniciativa foi motivada pelo avanço dos candidatos do partido de extrema direita Reunião Nacional. Na ocasião, Macron disse que os resultados das eleições europeias foram “um desastre” para seu governo e que ele não poderia ignorar.
A antecipação da eleição foi considerada uma estratégia arriscada, já que Macron terá que dividir o poder com os adversários políticos, caso a guinada à direita dos eleitores franceses se confirme. Ao menos no primeiro turno das eleições antecipadas, foi isso o que aconteceu. O RN, de Le Pen, obteve 29,25% dos votos, sendo seguido pela Nova Frente Popular, uma coalizão de partidos de esquerda, com 27,99% dos votos. O Juntos Pela República, da base de apoio a Macron, terminou na terceira posição, com 20,04% dos votos nacionais. Com o resultado, os três partidos conquistaram, respectivamente, já no primeiro turno, 37, 32 e 2 assentos da futura legislatura.
A vantagem que a extrema direita alcançou no primeiro turno é ainda maior quando se leva em conta que União da Extrema Direita (UXD), aliada do RN, obteve 3,9% dos votos e um assento, motivando vários veículos de imprensa e analistas a apontarem que, no total, o campo ideológico representado por Le Pen conquistou 33,15% dos votos e 38 assentos.
Como funciona o sistema político francês?
Na França, o presidente não é chefe de governo, mas sim de Estado. “O chefe de governo é o primeiro-ministro. O Reagrupamento Nacional garantiu que só indicará o primeiro-ministro caso obtenha maioria absoluta na Assembleia. Se isso ocorrer, teremos uma situação já conhecida na França, que é a coabitação: um presidente de um viés ideológico, e um primeiro-ministro de outra corrente política. A novidade, em termos franceses, será a extrema direita chefiar o governo”, explica o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Adrian Nicolas Albala Young, destacando que a eventual vitória do Reunião Nacional neste domingo terá impactos para a União Europeia, com eventuais reflexos também para o Brasil.
(com Agência Brasil)