Manifestantes invadem prédios do governo no Líbano
Forças da segurança responderam com gás lacrimogêneo; Um policial morreu e centenas de pessoas ficaram feridas
Manifestantes invadiram prédios do governo do Líbano neste sábado, incluindo o Ministério das Relações Exteriores e o da Energia, e destruíram o escritório da Associação de Bancos Libaneses, de acordo com a mídia local. Em resposta, forças da segurança usaram gás lacrimogêneo, incluindo contra pessoas que tentaram ultrapassar uma barreira para chegar ao Parlamento. Os protestos são parte de atos populares por conta da explosão que deixou ao menos 158 mortos e 6.000 feridos.
Pedindo a “queda do regime”, cerca de 10.000 pessoas se reuniram na Praça dos Mártires, no centro da capital libanesa. Durante os confrontos deste sábado, um policial foi morto, segundo um porta-voz. De acordo com um oficial presente no local, o policial caiu em um poço de um elevador após ser perseguido por manifestantes.
“Vamos ficar aqui. Convocamos o povo libanês a ocupar todos os ministérios”, disse um manifestante com um megafone.
Segundo a Cruz Vermelha, 117 pessoas receberam primeiros socorros em pontos próximos ao centro da manifestação, enquanto outras 55 foram levadas para um hospital.
Na noite de quinta-feira, manifestantes já haviam entrado em confronto com a tropa de choque da polícia após lançarem pedras e tentarem invadir o Parlamento. Na ocasião, alguns manifestantes ficaram feridos, de acordo com a mídia local, embora o número exato não seja claro.
“Queremos um futuro com dignidade, não queremos que o sangue das vítimas da explosão seja em vão”, disse Rose Sirour, uma das manifestantes deste sábado. Além dos mortos e feridos, cerca de 60 pessoas ainda seguem desaparecidas depois da explosão.
A origem do incidente de terça-feira ainda é desconhecida. Segundo o governo, a explosão pode ter sido causada pela detonação de 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam armazenadas de forma incorreta no porto de Beirute. No entanto, na sexta-feira, o presidente libanês, Michel Aoun, afirmou que uma investigação foi aberta para determinar se a explosão foi causada por negligência, acidente ou uma possível interferência externa. Cerca de vinte funcionários do porto e da alfândega foram presos, segundo fontes judiciais e de segurança.
Parte da população culpa a má gestão das autoridades pelo ocorrido. Antes da explosão, já havia protestos contra a profunda crise econômica do país, incluindo grandes manifestações populares em 2019. No entanto, as manifestações desta semana são as maiores desde outubro, quando milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a elite governante.
“Não temos confiança no nosso governo”, disse a estudante universitária Celine Dibo, enquanto limpava as paredes destruídas em seu apartamento.
Se o movimento perdeu força nos últimos meses, especialmente devido à pandemia de coronavírus, que continua se agravando no Líbano, a tragédia pode reanimá-lo.
“Não temos mais nada a perder. Todos devem ir para as ruas”, disse a manifestante Hayat Nazer.
Em discurso televisionado neste sábado, o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, afirmou que irá propor eleições parlamentares antecipadas. Segundo ele, seria a única solução para “permitir a saída da crise estrutural”.
Neste sábado, o Partido Kataeb, um grupo cristão que se opõe ao governo apoiado pelo Hezbollah, anunciou a renúncia de três de seus parlamentares.
“Convido todos os honrosos (parlamentares) a renunciarem para que o povo possa decidir quem irá governá-lo, sem que ninguém imponha qualquer coisa a ele”, disse o chefe do partido, Samy Gemayel, um dos três parlamentares. A decisão foi anunciada durante o funeral de um membro do partido que morreu na explosão.
A explosão provocou uma onda de choque que danificou imóveis e comércios próximos. Os danos materiais são estimados em 15 bilhões de dólares e milhares pessoas estão desabrigadas.
Em mais um ponto da situação caótica que se instaurou no país, o Líbano registrou 255 casos do novo coronavírus na quinta-feira, a maior taxa de infecção para um único dia. É provável que o número aumente, à medida que a explosão desabrigou milhares e levou outras centenas para hospitais lotados.
(Com Reuters e AFP)