Filho de brasileiros, ex-deputado George Santos se declara culpado por fraude nos EUA
Republicano enfrentava 23 acusações, que incluíam lavagem de dinheiro, roubo de identidade qualificado e desvio de fundos públicos
O ex-deputado americano George Santos, filho de brasileiros, se declarou culpado nesta segunda-feira, 19, de 23 acusações de fraude, que incluem lavagem de dinheiro, roubo de identidade qualificado e desvio de fundos públicos. Com isso, Santos consegue escapar do julgamento sobre o conjunto de denúncias, marcado para setembro, mas enfrentará ao menos dois anos de prisão.
Em outubro do ano passado, o republicano se declarou inocente após as acusações da promotoria saltarem de 13 para 23. As denúncias adicionais mostravam que ele usou cartões de crédito de doadores de campanha sem o consentimento deles para comprar roupas de grife e pagar contas do seu cartão de crédito pessoal. Ele também mentiu em documentos de divulgação financeira da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
A mudança desta segunda-feira ocorre depois de depoimentos de dois ex-funcionários da campanha eleitoral de Santos. A tesoureira Nancy Marks disse que o então candidato forjou relatórios financeiros para apresentar-se mais rico do que era. Nos documentos, ele afirmava que havia emprestado US$ 500.000 à sua campanha, atraindo doadores e o ajudando a atingir limites de arrecadação de fundos para se qualificar ao apoio de um comitê nacional do Partido Republicano. A informação, no entanto, era falsa.
Em dezembro, Santos teve o mandato cassado no Congresso dos EUA. Na ocasião, 311 legisladores se disseram a favor da expulsão, incluindo 105 republicanos. A votação ocorreu após o Comitê de Ética da Câmara publicar um relatório apontando diversas irregularidades e crimes financeiros de Santos. Quem apresentou a resolução para expulsar o deputado foi o presidente de ética da Câmara, Michael Guest.
+ A longa lista de mentiras contadas por George Santos nos Estados Unidos
As mentiras de George Santos
Santos entrou no centro dos holofotes mundo afora após o jornal americano The New York Times publicar uma reportagem investigativa, em dezembro de 2022, sobre o seu currículo ser “em grande parte ficção”. A teia de mentiras do ex-deputado envolve desde a morte da sua mãe até o convívio na alta sociedade americana. Em seu site de campanha, Santos alegou que sua mãe era uma sobrevivente do atentado às Torres Gêmeas, ocorrido em 11 de setembro de 2001, por estar “na Torre Sul”. Ela teria, então, definhado após lutar contra o câncer.
Mas sua mãe, Fátima Devolder, entrou com pedido de green card apenas em 2003 e afirmou que não havia estado no país desde 1999, contrariando a versão de Santos. O início da sua carreira em Wall Street integra as investigações. Santos confessou, inclusive, ter metido sobre ter trabalhado para a empresa de serviços financeiros Citigroup e o banco Goldman Sachs.
Além disso, o republicano teria inflado o seu currículo ao dizer que havia frequentado a escola preparatória Horace Mann, se formado na Baruch College e obtido um mestrado em negócios internacionais pela New York University. Ao jornal americano New York Post, ele disse que não chegou a concluir a graduação, enquanto o centro educacional Horace Mann não apresenta registros da sua inscrição na instituição.
O congressista é acusado também de ter divulgado informações falsas sobre a sua origem judaica. Ele alega que seus avós maternos fugiram da Ucrânia por causa da perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial. Os registros genealógicos analisados pelo The Forward indicam, contudo, que seus avós teriam nascido no Brasil, informação que Santos discorda por ter crescido com histórias de que sua família falsificou “muitos de seus documentos em nome da sobrevivência.”