Famílias relatam casos repetidos de abuso sexual contra crianças na Líbia, revela a ONG Save the Children
A organização não-governamental americana Save the Children divulgou nesta terça-feira que recebeu uma série de relatos em Bengasi de que crianças foram estupradas durante a guerra da Líbia. Famílias que fugiram de Misrata, Ajdabiya e Ras-Lanuf e agora estão em acampamentos temporários em Bengasi contaram a representantes da Save the Children no local que crianças a partir de oito anos foram abusadas sexualmente – algumas vezes em frente às suas famílias.
Em um dos relatos, mães contam que um grupo de garotas foram sequestradas, mantidas em cativeiro por quatro dias e estupradas. Quando elas foram soltas, mal podiam falar, segundo as fontes. Algumas crianças ainda disseram que foram testemunhas da morte de seus pais e do estupro de suas mães, antes de que fossem elas mesmas espancadas. “Os relatos de violência sexual contra crianças não estão confirmadas, mas são consistentes e foram repetidas em todos os quatro acampamentos que visitamos”, afirmou o conselheiro da ONG responsável por essa avaliação, Michael Mahrt.
“As crianças nos contaram que foram testemunhas de coisas horríveis. Algumas descreveram cenas do que teria acontecido a outras crianças, porém, provavelmente foi o que também aconteceu a elas próprias, mas estão muito atordoadas para falar sobre. Esse é um mecanismo típico, usado de forma recorrente por crianças que sofreram esse tipo de abuso”, acrescenta. “O mais preocupante é que apenas pudemos falar com um número limitado de crianças. O que mais estará acontecendo àquelas presas em Misrata e outras partes do país e que não tiveram voz?”
Segundo Mahrt, algumas crianças já dão sinais de sofrimento psicológico e emocional: estão retraídas, se recusam a brincar ou acordam chorando durante a noite. “Onde quer que essas crianças ouvirem um tiro, voltarão a viver a terrível experiência que viveram. Para muitas delas, o sofrimento está longe do fim”, lamenta.
Em comunicado, Save the Children faz um apelo à comunidade internacional para assegurar que o direito da criança de ser protegida da violência e dos abusos está sendo respeitado. De sua parte, a ONG, ao lado de outras organizações, está conduzindo um trabalho de treze dias ao lado de famílias em Bengasi – até agora, já falou com 200 crianças e 40 adultos. Seus representantes pedem ajuda para proteger as crianças na área e treinar assistentes sociais para promover suporte psicossocial a elas.