Ex-‘número 3’ do Vaticano, cardeal é condenado por pedofilia
George Pell se torna mais alto dignatário da Igreja condenado pelo crime de abuso; papa proíbe religioso de exercer sacerdócio e ter contato com menores
O cardeal George Pell, que já foi considerado o “número três” do Vaticano (atuando como tesoureiro e conselheiro do papa Francisco), foi declarado culpado de crimes sexuais contra menores na Austrália, tornando-se o mais alto dignatário da Igreja Católica condenado em um caso de pedofilia, anunciou uma corte de Melbourne (sul da Austrália) nesta terça-feira, 26.
Como resposta à condenação o papa Francisco confirmou a proibição, de maneira cautelar, do exercício do sacerdócio e do contato com menores de idade ao cardeal australiano.
Pell, de 77 anos, foi declarado culpado em um julgamento em dezembro de ter abusado sexualmente de dois coroinhas de 12 e 13 anos na sacristia da Catedral de São Patrício em Melbourne nos anos 1990. Mas o tribunal proibiu até esta terça-feira (noite de segunda 25 no Brasil) que os meios de comunicação informassem sobre o caso.
O dirigente havia negado as acusações inicialmente e o júri não havia chegado a um veredicto no primeiro julgamento sobre o caso, em setembro, mas o cardeal foi declarado culpado em um novo julgamento, em dezembro.
A corte de Melbourne adotou então uma “ordem de supressão”, que proibia aos veículos fazer qualquer menção ao caso, sob pena de ações legais. Este silêncio forçado foi imposto com o objetivo de proteger o júri de um segundo julgamento em que o cardeal Pell devia responder a outros supostos crimes.
Mas a acusação decidiu abrir mão deste, o que levou à suspensão, nesta terça-feira, da proibição a que a imprensa reportasse o caso, autorizando aos veículos a anunciar o veredicto de culpa. A pena que será imposta ao cardeal não foi decidida. Na quarta-feira está prevista a audiência de sentença.
Os advogados do cardeal anunciam à AFP a intenção de apelar. “O cardeal George Pell sempre manteve sua inocência e continua fazendo”, disse um comunicado publicado nesta terça-feira por seus advogados.
Em 29 de junho de 2017, Francisco concedeu ao cardeal Pell uma permissão para ausentar-se para que pudesse se defender das acusações e, desde então, o cardeal não pôde cumprir com suas responsabilidades como prefeito da Secretaria de Economia, mas mantém o cargo ainda hoje.
No comunicado divulgado nesta terça, o Vaticano confirmou as medidas cautelares e disse que respeita “as autoridades judiciais australianas”.
“Em nome desse respeito, agora esperamos o resultado do processo de apelação, lembrando que o cardeal Pell reiterou sua inocência e tem o direito de se defender até o último grau”, afirma a nota.
Um dos coroinhas vítimas de Pell morreu em 2014. O outro informou em um comunicado publicado por seu advogado que o processo legal é estressante e “ainda não terminou”.
“Como muitos sobreviventes, experimentei vergonha, solidão, depressão e dificuldades. Como muitos sobreviventes, demorei anos para compreender o impacto que deve na minha vida”, disse a vítima, que não foi identificada publicamente.
Às portas da corte, defensores de outras vítimas de abusos receberam Pell aos gritos de “monstro” e “apodreça no inferno”, quando o cardeal deixou a corte ao final da audiência.
(Com AFP)