Evo Morales renunciou neste domingo (10) ao cargo de presidente da Bolívia. O anúncio foi feito pela televisão, em rede nacional.
“Eu decidi, escutando meus companheiros, renunciar ao meu cargo da presidência. Por que tomei essa decisão? Para que Mesa e Camacho não sigam perseguindo meus irmãos dirigentes sindicais. Para que Mesa e Camacho não sigam queimando a casa dos governadores de Oruro e Chuquisaca.”, disse durante seu discurso de renúncia. Segundo Morales, sua carta de renúncia será enviada ao Congresso nas próximas horas.
Minutos depois, o vice-presidente Álvaro García Linera, também anunciou sua renúncia. “O golpe de Estado se consumou”, disse Linera.
Imediatamente após o anúncio, houve comemoração nas ruas de La Paz, com milhares de manifestantes soltando rojões e balançando bandeiras bolivianas.
De acordo com a Constituição boliviana, o presidente do Senado seria o próximo na linha de sucessão. Mas não se sabe se ele assumirá a presidência, devido à oposição generalizada ao partido de Morales. Antes da renúncia, Morales disse que convocaria novas eleições. O fato foi mencionado em seu pronunciamento de renúncia: “De manhã cedo estivemos reunidos com alguns ministros e decidimos, inclusive, renunciar nosso triunfo para novas eleições ocorram em toda a amplitude”. Agora, não está claro como vão acontecer as novas eleições e nem se ele mesmo será candidato.
Neste domingo, Morales e Linera deixaram a capital da Bolívia, La Paz, a bordo do avião presidencial, rumo à zona cocalera de Chimoré, berço político de Evo Morales, na região central de Cochabamba. O anúncio de renúncia foi feito no local.
Fraude e protestos
A renúncia acontece após três semanas de protestos contra sua polêmica reeleição e depois de perder o apoio das Forças Armadas e da Polícia. Pouco antes do anúncio de Morales, os chefes das Forças Armadas e da Polícia haviam pedido que ele deixasse o cargo para pacificar o país. Mais cedo neste domingo, ao menos três ministros também entregaram seus cargos.
Morales, de 60 anos, está no poder desde 2006. Após três mandatos, em 2016, a Bolívia fez um referendo para decidir se Morales poderia concorrer à quarta reeleição. O resultado foi negativo, mas após recorrer ao Tribunal Constitucional, recebeu sinal verde da justiça.
A apuração da votação realizada em 20 outubro, disputada entre Morales e Carlos Mesa, apontava para um segundo turno. Entretanto, o resultado da contagem definitiva, anunciado em 24 de outubro, apontou Morales como vencedor, com 10,56 pontos percentuais à frente de Carlos Mesa. Desde então, a votação foi questionada e os protestos, iniciados em 22 de outubro, se intensificaram.
Neste domingo, a missão da auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou um relatório no qual informou que numerosas irregularidades foram detectadas durante as eleições. Por isso, a organização recomendava novas eleições.
Sobre o relatório da OEA, Morales disse após anunciar sua renúncia: “A comissão da auditoria da OEA tomou uma decisão política. Alguns técnicos da OEA estão a serviço de grupos de poder”. “A vida não acaba aqui. A luta continua”, acrescentou.
(Com AFP)