O Parlamento Europeu está disposto a recomendar o aumento da ajuda financeira oferecida pela União Europeia aos venezuelanos refugiados no Brasil, depois de constatar a difícil situação em que vivem em Roraima, na fronteira com a Venezuela.
A informação foi confirmada pelo eurodeputado português Francisco Assis, representante da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e presidente do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul, depois de uma visita nesta terça-feira (26) a vários abrigos para venezuelanos em Boa Vista (RR).
Assis lidera uma missão do Parlamento Europeu que iniciou ontem uma visita de três dias ao Brasil para avaliar no terreno a situação dos cerca de 50.000 venezuelanos que fugiram da crise econômica, social e política do seu país e receberam refúgio no país.
O eurodeputado afirmou que a solução para esta crise passa pela mudança de regime na Venezuela e que, além de pressionar por uma abertura política e adotar sanções sem prejudicar a população, o Parlamento Europeu recomendou ao Conselho Europeu o envio de ajuda para os venezuelanos em fuga de seu país.
“A solução passa por uma mudança de regime na Venezuela porque isso permitirá que estas pessoas possam retornar ao seu país de origem, o que mais elas querem. Não há outra solução, e os próprios venezuelanos têm de resolver o problema”, destacou.
De acordo com dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de dois milhões de venezuelanos abandonaram o seu país desde 2005 com destino a diferentes países.
“A nós, resta chamar a atenção em nível mundial sobre a gravidade do que está ocorrendo e oferecer alguma ajuda financeira aos refugiados. A União Europeia tem fundos que estão previstos para atender situações desta natureza”, acrescentou Assis.
Segundo o eurodeputado português, a União Europeia aprovou inicialmente uma ajuda de 5 milhões de euros para os refugiados venezuelanos no Brasil cuja liberação pode ser assinada no encontro que a delegação europeia terá amanhã com autoridades brasileiras em Brasília.
“Neste momento serão enviados 5 milhões de euros, mas nada impede que mais tarde sejam enviados mais recursos para apoiar projetos em Roraima, porque aqui o problema é mais grave”, ressaltou.
Assis afirmou ter constatado que a ajuda é urgente após sua visita a Nova Canaã, Tancredo Neves e Jardim Floresta, três dos refúgios construídos pelo governo brasileiro para atender aos venezuelanos que chegaram a Boa Vista. Todos são gerenciados pelo Acnur.
Dos 50.000 venezuelanos que teriam buscado refúgio em Roraima – número este que pode ser maior, já que a média nos últimos meses foi de 400 por dia – 25.000 se instalaram em Boa Vista, o que equivale a 7,5% da população total da cidade. O município carece de recursos para atender tal êxodo.
Os refúgios visitados pela delegação europeia só têm capacidade para 1.400 pessoas, razão pela qual muitos imigrantes vivem nas ruas de Boa Vista enquanto esperam vagas nos abrigos ou que as autoridades os enviem a outras cidades do Brasil, em um processo de “interiorização” ainda incipiente.
Segundo dados oficiais, nos nove centros construídos até agora em Roraima vivem 4.200 venezuelanos, enquanto outros 527 foram transferidos às cidades de Manaus, Cuiabá e São Paulo.
“Estamos em um momento de tensão e de dificuldades, principalmente porque as autoridades locais têm uma capacidade limitada para atender todas as demandas e é necessário que se diga isto”, frisou o eurodeputado.
“O problema supera Boa Vista e Roraima e tem que ser assumido por todo o Brasil. Mas confio absolutamente nos brasileiros e acredito que o Brasil saberá encontrar uma resposta para este assunto, inclusive porque o próprio povo brasileiro é resultado de migrações”, acrescentou.
Além de visitar os refúgios, a delegação europeia se reuniu com a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, com oficiais da Superintendência da Polícia Federal e da Brigada de Infantaria de Selva do Exército brasileiro, responsável por parte do atendimento aos refugiados.
“A prefeitura oferece 10.800 refeições por dia e matriculou nas escolas públicas 2.300 crianças venezuelanas, além de oferecer-lhes serviços de saúde, mas chegamos ao limite. Não temos orçamento para isso”, lamentou Surita aos visitantes.
“Chegou o momento de outras cidades do Brasil aceitarem que a solução é a interiorização porque o problema é de todo o País e não só de Boa Vista”, acrescentou Surita, que se queixou da defesa do fechamento da fronteira pela governadora de Roraima, Suely Campos, que também estimula reações xenófobas dos brasileiros.
(Com EFE)