EUA vão enviar tropas a Cabul para retirar funcionários da embaixada
Decisão é um dos sinais mais significativos da preocupação de Washington com situação do país e fracasso do governo afegão em proteger áreas-chave
Os Estados Unidos manterão aberta sua embaixada em Cabul, mas reduzirão o nível de funcionários no Afeganistão a uma “presença diplomática essencial”, disseram autoridades nesta quinta-feira, 12. De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, mais tropas serão enviadas à capital para auxiliar a possível retirada de funcionários diplomáticos, à medida que o Talibã faz rápidos avanços em amplas faixas do país.
Price negou que este movimento, motivado pela piora da situação de segurança no Afeganistão, seja uma retirada completa. O porta-voz explicou que a embaixada continuará ativa, inclusive tramitando os vistos especiais para os afegãos que trabalharam com as tropas americanas. Estima-se que cerca de 1.400 funcionários trabalhem na embaixada dos EUA em Cabul.
A operação de “esvaziamento” terá apoio de cerca de 3.000 soldados que serão enviados ao país, reforçando temporariamente o contingente militar americano. À medida que a missão militar americana se aproxima de seu fim, marcado para 31 de agosto, há cerca de 650 militares no país, focados em proteger o aeroporto e a embaixada.
A decisão é um dos sinais mais significativos da preocupação do governo americano sobre a situação de segurança do país e o fracasso do governo afegão em proteger áreas-chave. Em um comunicado mais cedo nesta quinta-feira, a embaixada do país em Cabul chegou a ordenar que todos os seus cidadãos civis deixem o Afeganistão imediatamente em voos comerciais.
De acordo com o porta-voz, a prioridade do governo americano é a segurança dos funcionários, motivo pelo qual essa movimentação contará com o apoio de tropas adicionais que o Departamento de Defesa enviará ao principal aeroporto de Cabul.
As tropas dos Estados Unidos e da OTAN ocuparam o Afeganistão em 2001 e tiraram o Talibã do poder. No entanto, mesmo com toda a presença militar estrangeira e bilhões de dólares de investimento no poderio militar nacional, o grupo conseguiu gradualmente recuperar sua força.
Desde que as tropas americanas iniciaram seu processo de retirada do país em maio, os talibãs avançam contra as cidades que ainda estão sob controle do governo central. De acordo com a Al Jazeera, 65% do território afegão está ocupado pelo grupo atualmente. Antes das ofensivas iniciadas em 7 de agosto, os jihadistas já controlavam parte do país, principalmente as áreas rurais.
Nesta quinta-feira, no sexto dia de ofensivas contra o governo afegão, o Talibã ocupou a cidade de Ghazni, a 150 km a sudoeste de Cabul. Esta é a décima capital provincial a cair nas mãos do grupo extremista em uma semana.
“Posso confirmar que Ghazni caiu nas mãos dos talibãs esta manhã (quinta-feira). Eles assumiram o controle de áreas-chave da cidade: o gabinete do governador, a sede da polícia e a prisão”, disse o chefe do Conselho da Província de Ghazni, Nasir Ahmad Faqiri. Ele afirmou ainda que combates ainda estão sendo travados em algumas partes da cidade, mas que os talibãs têm “o controle majoritariamente”.
Ghazni é a cidade mais próxima de Cabul ocupada até agora. Diante do avanço, a inteligência dos Estados Unidos estima que os combatentes podem isolar a capital em 30 dias e possivelmente dominá-la em 90 dias.