EUA expandem operação no Caribe com novo ataque a barco, agora no Pacífico
Secretário da Defesa fala em 'operação anti-terrorista' contra tráfico de drogas; Forças americanas realizaram oito ataques do tipo, resultando em 32 mortes

Os Estados Unidos atacaram uma embarcação que supostamente transportava drogas na costa da Colômbia, no Pacífico Oriental. As informações foram confirmadas pelo secretário da Defesa americano, Pete Hegseth, nesta quarta-feira, 22, e representam uma expansão das operações militares de Washington na América do Sul, sendo o primeiro ataque do tipo fora do Mar do Caribe.
“Ontem (terça-feira, 21), sob a direção do presidente Trump, o Departamento de Guerra (como foi rebatizada a pasta de Defesa) conduziu um ataque cinético letal a uma embarcação operada por uma Organização Terrorista Designada e que realizava narcotráfico no Pacífico Oriental”, escreveu Hegseth no X (ex-Twitter). “Nossa inteligência sabia que a embarcação estava envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitava por uma rota conhecida de narcotráfico e transportava entorpecentes.”
Yesterday, at the direction of President Trump, the Department of War conducted a lethal kinetic strike on a vessel being operated by a Designated Terrorist Organization and conducting narco-trafficking in the Eastern Pacific.
The vessel was known by our intelligence to be… pic.twitter.com/BayDhUZ4Ac
— Secretary of War Pete Hegseth (@SecWar) October 22, 2025
Segundo o secretário, dois tripulantes foram mortos durante o ataque, que teria sido realizado em águas internacionais. Hegseth afirmou ainda que não haverá nenhum porto seguro nas Américas para “narcoterroristas”.
“Assim como a Al-Qaeda travou guerra contra nossa pátria, esses cartéis estão travando guerra contra nossa fronteira e nosso povo. Não haverá refúgio nem perdão — apenas justiça”, completou.
Essa é a oitava operação promovida pela Casa Branca na costa sul-americana desde o retorno de Donald Trump ao cargo de presidente. O republicano tem se utilizado de uma retórica anti-drogas para empreender ataques a embarcações oriundas da Venezuela que supostamente estariam traficando entorpecentes para o território americano. Ao menos 32 pessoas morreram nas ofensivas, segundo dados oficiais.
Expansão da ofensiva
A operação de terça-feira ampliou o raio de ação dos militares americanos para a costa da Colômbia — país cujo presidente, Gustavo Petro, tem criticado fortemente seu homólogo americano. Durante um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, ele negou que os barcos atingidos tenham relação com o narcotráfico e chegou defender a abertura de um processo criminal contra Trump, com o objetivo de investigar a morte de “jovens que simplesmente queriam escapar da pobreza”.
Os ataques promovidos pelas forças de Operações Especiais dos EUA começaram no dia 2 de setembro. Para Washington, as ofensivas são legítimas por ocorrerem em águas internacionais, contra membros de cartéis designados pelo Departamento de Estado como “terroristas”, e porque o governo Trump entende estar em um conflito armado formal contra tais organizações. De acordo com a Casa Branca, além disso, a identificação dos alvos seria respaldada pelos serviços de inteligência — embora não tenha divulgado as supostas evidências.
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Alguns líderes da América Latina e especialistas jurídicos apontam, porém, que as ações militares são ilegais, e que as forças armadas americanas não têm permissão para atacar deliberadamente embarcações civis — mesmo que tais civis forem suspeitos de crimes.
Washington destaca a alta no número de overdoses por uso de drogas nos Estados Unidos como uma das razões para as medidas. Embora os dados sejam alarmantes, com cerca de 100 mil mortes anuais, o NYT aponta que as mortes de usuários são impulsionadas pelo consumo do fentanil, que entra no país vindo do México. No caso da América do Sul, onde as operações têm se concentrado, a principal droga exportada é a cocaína.
Mesmo se o objetivo fosse combater o tráfico de cocaína, há muitos poréns no que diz respeito à abordagem dos americanos, uma vez que as ações militares têm se concentrado na costa da Venezuela — enquanto a Agência das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes aponta que o fluxo do entorpecente se concentra majoritariamente na rota do Oceano Pacífico.
O governo Trump vem concentrando sua retórica anti-drogas no território venezuelano e no ditador Nicolás Maduro. Indiciado por tráfico de drogas nos Estados Unidos em 2020, o líder chavista foi apontado pela Casa Branca como líder do Cartel dos Sóis e há especulação de que as ações americanas tenham objetivo de retirá-lo do poder.