Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

EUA devem ter cautela com a Coreia do Norte, dizem especialistas

Encontro entre Trump e Kim Jong-un não significa paz automática; se ocorrer, desnuclearização deve ser um processo longo e cheio de obstáculos

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 mar 2018, 11h05 - Publicado em 9 mar 2018, 19h08

O anúncio na quinta-feira, 8, da surpreendente decisão do presidente dos Estados UnidosDonald Trump, de se reunir com o ditador norte-coreano Kim Jong-un representa talvez um dos cenários mais improváveis na conflituosa relação bilateral entre os dois países — talvez até a efetiva eclosão de um conflito já tivesse contornos mais próximos da realidade. Na dança de bastidores da diplomacia internacional, a valsa anunciada para a dupla Trump e Jong-un é a mais imprevisível e inesperada dos últimos anos.

Os dois líderes passaram o ano de 2017 trocando ameaças e farpas com frequência. Em janeiro de 2018, Trump e Kim ainda mediam forças e comparavam quem possuía o maior “botão nuclear”. É, portanto, fácil entender porque a notícia de uma tentativa de negociação entre os dois países tenha sido recebida com espanto pela comunidade internacional e até mesmo por membros do governo americano.

“Os dois líderes se encontrarem pessoalmente e construírem algum tipo de relacionamento, ao mesmo tempo em que ouvem um do outro seus respectivos objetivos e exigências, é um bom começo”, diz Soojin Park, pesquisadora do think tank internacional Wilson Center e ex-porta-voz adjunta do Ministério da Unificação da Coreia do Sul. 

Para muitos especialistas, contudo, é necessário ter cautela. O encontro não significa uma declaração de paz instantânea e ainda é muito cedo para dizer se Kim Jong-un realmente pretende abrir mão de suas aspirações armamentistas.

“Kim Jong-un buscava até recentemente o desenvolvimento de armas nucleares e o desenvolvimento econômico de seu país, de modo que seria uma grande mudança de paradigma se ele decidisse de repente abandonar um desses objetivos”, diz o professor e especialista em política coreana da Universidade Católica da América em Washington, Andrew Yeo. “Embora o ritmo do comprometimento diplomático esteja muito rápido, devemos lembrar que o caminho para a desnuclearização pode ser um processo longo e demorado.”

O ditador norte-coreano afirmou, por meio de uma carta entregue a Trump pela delegação sul-coreana, que está totalmente comprometido com a desnuclearização e com as negociações com o governo americano.

Continua após a publicidade

Ainda não está claro onde acontecerá esse encontro e quais serão os temas discutidos pelos líderes. Mas, para o pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI) da USP e diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco, Alexandre Uehara, a retirada das tropas americanas da península coreana deve ser uma das demandas de Kim Jong-un.

Segundo Uehara, tudo faz parte de uma grande estratégia de sobrevivência do ditador norte-coreano. “Ele já mostrou que tem capacidade militar, agora sua estratégia é diminuir a tensão com os Estados Unidos e com a comunidade internacional para se preservar”, diz.

Ao tomar o primeiro passo, Kim de certa forma passou a responsabilidade de prosseguir com as negociações aos Estados Unidos. Mas o histórico de tentativas de conciliação entre Washington e Pyongyang não traz grandes esperanças de sucesso.

O pai do atual ditador, Kim Jong-il, assinou em outubro de 1994, após meses de negociações com Washington, um acordo em que se comprometia a congelar seu programa nuclear e manter-se no Tratado de Não-Proliferação (TNP), em troca do fornecimento de petróleo. Os anos que se seguiram foram cheios de rodadas de conversas e tentativas de novos acordos, que não levaram a nada.

A Coreia do Norte continuou a testar seus mísseis balísticos e a exigir o alívio imediato das sanções americanas. Mais de 20 anos depois, portanto, não há qualquer tipo de garantia de que Jong-unn pretenda realmente cumprir com eventuais acordos.

A recente participação nos Jogos Olímpicos de Inverno com uma delegação unificada com a Coreia do Sul e a visita da irmã de Kim Jong-um, Kim Yo-jong, a Pyeongchang durante o evento esportivo, sinalizam pelo menos a abertura e a boa vontade para o diálogo. A visão prevalente por acadêmicos da área é a de que o ditador norte-coreano está em busca de vantagens, mas não pretende dar nada em troca além de promessas.

Para a pesquisadora Soojin Park, a liderança norte-coreana busca alívio para sua economia e viu no novo governo sul-coreano de Moon Jae-in uma possibilidade de negociação. “As sanções econômicas começaram a incomodar e a Coreia do Norte viu que elas só se intensificarão nos próximos meses, paralisando efetivamente sua economia e dificultando a manutenção do sistema atual que fornece bens e meios para que a elite norte-coreana sustente seu modo de vida”, diz 

“Mas ainda é muito cedo para dizer se são sinceros sobre a renúncia de suas armas nucleares”, defende Andrew Yeo.

Ainda assim, é consenso geral que um diálogo diplomático e um canal aberto de negociações são um cenário muito mais otimista e tranquilizador do que aquele repleto de trocas de ameaças e tomado pelo temor constante de uma ação militar experimentado até poucas semanas.

“Com grande cautela e medidas coordenadas para garantir que a Coreia do Norte siga com suas palavras, os Estados Unidos e a Coreia do Sul, juntamente com as outras partes relevantes e a comunidade internacional, devem trabalhar em conjunto para fazer progressos”, diz Park. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.