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Estudantes brasileiros são vítimas de xenofobia na Universidade de Lisboa

Reitoria promete abrir processo disciplinar contra os membros do grupo Tertúlia, acusados de incitar a violência e de discriminar

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 19 mar 2021, 00h44 - Publicado em 29 abr 2019, 20h11

Um caixote de madeira com pedras amanheceu em um corredor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) com a seguinte frase: “Grátis se for para atirar em um ‘zuca’ (que passou na frente no mestrado)”. Não houve dúvidas de que o convite ao apedrejamento teria como alvo os brazucas, como são chamados os brasileiros em Portugal.

A atitude xenofóbica e de incitação à violência foi atribuída ao grupo Tertúlia, que compete na eleição para a Associação Acadêmica da faculdade, e que é conhecido por seu humor áspero e sátiras controversas. Gerou imediata reação dos mestrandos brasileiros, que exigiram da diretoria da instituição medidas punitivas.

“Nunca fui maltratada aqui. A faculdade sempre foi inclusiva e mantém um ambiente ótimo”, afirmou a pernambucana Maria Eduarda Callado, de 24 anos, estudante de mestrado em direito internacional comercial desde setembro do ano passado. “Eu não esperava essa atitude xenofóbica. Eles podem ter achado engraçado. Mas, para nós, não teve graça nenhuma.”

Callado explica que a razão está em uma mudança no calendário do processo de admissão de estudantes de mestrado. Desde o ano passado, a primeira fase de inscrição foi antecipada para maio/junho, quando os estudantes portugueses ainda não concluíram a graduação e, portanto, ainda não podem se inscrever. Com isso, os brasileiros, que em geral terminam o curso superior no fim do ano anterior, têm a chance de se inscrever e conseguir a maioria das vagas do mestrado. Aos portugueses, restam as vagas remanescentes da segunda chamada, em setembro.

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A faculdade de direito, em comunicado, tentou contemporizar. Atribuiu o incidente aos ânimos exaltados pela proximidade das eleições internas e informou que “não serão toleradas quaisquer ações ofensivas”. “A nossa faculdade orgulha-se de ser um espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocrítica, o humor e a sátira”, afirma o texto, assinado pela subdiretora Paula Vaz Freire.

Freire informou ao jornal O Público ter determinado a retirada imediata do cartaz. Identificados os responsáveis, a faculdade se comprometeu a “apurar os fatos e agir em conformidade com aquilo que é a legalidade. Mas a própria vice-diretora disse não haver decisão sobre a adoção de procedimentos disciplinares – e foi corrigida em seguida pelo próprio reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, que prometeu abrir um processo disciplinar.

“Não é admissível na Universidade de Lisboa nenhum comportamento de xenofobia, e serão tomadas posições para punir exemplarmente os responsáveis”, afirmou Serra.

Segundo O Público, os alunos se mobilizaram em protesto contra a iniciativa do grupo Tertúlia, com cartazes e uma bandeira brasileira. O Núcleo de Estudantes Luso-Brasileiro reuniu-se com a diretoria da faculdade para tratar do “lamentável episódio”.

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