Pesquisadores na Catalunha encontraram os restos mortais de 522 membros das Brigadas Internacionais que desapareceram durante a guerra civil espanhola (1936- 1939), quando o general Francisco Franco tentou implementar um golpe militar contra o governo democraticamente eleito no país. Entre membros estavam 286 da brigada americana, 96 canadenses, 86 britânicos, seis irlandeses e 48 de outros países, informou o Departamento de Memória Democrática do governo catalão nesta terça-feira, 28.
Estima-se que ao menos 35 mil pessoas de 50 países viajaram para a Espanha nos anos de guerra com o objetivo de fortalecer as equipes de defesa do país contra a ditadura de Franco. Dentre elas, cerca de 10 mil foram mortas. Ainda que esqueletos de 900 pessoas tenham sido descobertos desde 2017, somente 30 foram devidamente identificadas. Nenhuma delas era integrante das brigadas.
Desde 2022, o departamento catalão trabalha para exumar as vítimas do confronto e da violência da tirania de Franco, procurando por familiares vivos para identificá-las. Os pesquisadores vasculharam registros civis, bancos de dados das unidades militares e arquivos históricos para confirmar a nacionalidade dos desaparecidos.
Para chegar às centenas de restos mortais, a equipe do departamento, liderada pelo historiador Jordi Martí, também analisou registros hospitalares e acompanhou os movimentos dos soldados durante o conflito — a expectativa era de que, ao seguir as pegadas das tropas, conseguiriam assinalar onde sumiram. Segundo Martí, a maioria morreu ou desapareceu na linha de frente do Ebro em 1938, epicentro do conflito.
“Não estávamos tentando encontrar novas pessoas”, disse ao jornal britânico The Guardian. “O que estávamos tentando fazer era descobrir exatamente onde as pessoas que conhecíamos tinham vindo para lutar desapareceram na Catalunha.”
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Colaboração das famílias
Martí afirmou, ainda, que determinar os pontos de desaparecimento permitirá que surjam novas hipóteses sobre de quem são os restos mortais enterrados em valas dos locais em questão. Em seguida, os historiadores poderão contatar potenciais famílias dos falecidos para solicitar o DNA. Com o código genético, há maior chance de que restos mortais desconhecidos sejam transformados em nomes.
“Devemos ter exumado os restos mortais de alguns membros da brigada, mas não sabemos quem são porque não temos DNA para comparações”, explicou. “Sabemos que alguns deles foram enterrados em cemitérios perto dos hospitais onde morreram, mas noutros casos, se soubermos em que parte da frente do Ebro desapareceram e se tivermos DNA da família, então quando abrirmos uma vala comum naquele área, temos mais opções.”
O pesquisador destacou a importância da empreitada não só para que a história catalã seja traçada precisamente, mas também para oferecer um desfecho para as famílias ainda angustiadas. “Mesmo que já tenham se passado 85 anos, o desaparecimento de um membro da família muitas vezes deixa um buraco nessa família”, ponderou, acrescentando: “Saber o que aconteceu, mesmo três ou quatro gerações depois, pode realmente significar muito”.