Em visita a Washington, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, discutiu com Steve Bannon, um dos responsáveis pela campanha de reeleição de Donald Trump, sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro na sessão de abertura dos trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 24 de setembro. O encontro entre Araújo e Bannon deu-se na embaixada do Brasil na quarta-feira 11, informou o jornal O Estado de S Paulo.
Bannon foi figura importante na eleição de Trump, em 2016, e presidiu por anos o portal de notícias Breitbart, de extrema direita. Foi demitido da Casa Branca, onde ocupava o cargo similar ao do ministro da Casa Civil, e também do grupo Breitbart. Tornou-se um dos elos do governo de Bolsonaro com os setores ultraconservadores americanos, motivado por sua conexão com o guru Olavo de Carvalho, e conduz o projeto de criar uma espécie de “universidade do populismo”, o Dignitatis Humanae Institute (DHI).
O Estado questionou o caráter do encontro do chanceler com Bannon e recebeu como resposta que se tratava de “jantar privado”.
O discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral será uma prova de fogo para a diplomacia do governo do PSL. O episódio dos incêndios na Amazônia tornou-se tema de repercussão mundial por causa dos discursos ferinos do presidente brasileiro em favor da expansão das atividades produtivas na região de florestas, contra multas ambientais e de rejeição às evidências sobre a mudança climática.
Alguns países ameaçam orientar seus representantes a abandonarem o plenário da Assembleia-Geral assim que Bolsonaro pisar no palco. O Brasil também se vê duramente criticado pela Alta Comissionária das Nações Unidas para os Direitos Humanos por seu distanciamento de preceitos democráticos e pelo aumento da violência policial.
Mesmo que esse ato de repúdio ao Brasil não venha a ocorrer, o discurso do presidente terá de ser elaborado com cuidado para não acentuar ainda mais o confronto do país com outras nações e com a própria ONU – a menos que o acirramento dos atritos seja o propósito de Brasília. O cuidado se deve basicamente a uma vantagem dada ao Brasil desde os primórdios da ONU, o direito de fazer o primeiro discurso da sessão de abertura da Assembleia Geral.
O texto tem de ser enviado antecipadamente para a ONU e não pode ser alterado durante a fala do presidente. A regra se deve ao fato de os tradutores acompanharem o texto vertido aos outros idiomas como base para seu trabalho. A ocasião será também um teste a Bolsonaro, que não costuma ler seus discursos e prefere falar espontaneamente.
Segundo o jornal O Estado, Araújo esteve com Bannon na casa dele, que chama de “Embaixada Breitbart”, em fevereiro. Ambos se reencontraram em jantar na embaixada brasileira em Washington no mês seguinte, durante a visita oficial de Bolsonaro ao presidente americano, Donald Trump.