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Ernesto Araújo remove embaixador do Brasil em Washington

Decisão vem a público na semana em que chanceler é acusado de deslealdade e traição pelo embaixador Mário Vilalva e o demite da Apex

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 10 abr 2019, 19h24 - Publicado em 10 abr 2019, 18h26
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  • Depois de exonerar seu colega diplomata Mário Vivalva da presidência da Agência de Promoção de Exportações (Apex) e deixar outros veteranos embaixadores sem postos no Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, decidiu retirar Sérgio Amaral da embaixada do Brasil em Washington e dar-lhe uma posição de menor envergadura. A transferência de Amaral para o Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo foi publicada na edição desta quarta-feira, 10, no Diário Oficial da União (DOU).

    A saída de Amaral de Washington já era carta marcada e deverá lhe trazer imenso alívio. Aposentado, depois de um longo período de licença durante os governos petistas, ele fora indicado para o principal posto do Brasil no exterior pelo então chanceler José Serra durante o governo de Michel Temer.

    Sérgio Silva do Amaral
    Embaixador Sérgio Amaral: retorno a São Paulo pode ser alívio para veterano diplomata. (Roque de Sá/Agência Senado)

    O embaixador é historicamente conectado ao PSDB. Foi porta-voz do Palácio do Planalto e, depois, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) na gestão de Fernando Henrique Cardoso.

    Embora no Itamaraty haja nomes à altura para substituí-lo, o chanceler Ernesto Araújo e o presidente Jair Bolsonaro tendem a escolher uma pessoa ideologicamente afinada  para o principal posto do Brasil no exterior. O guru do governo do PSL, Olavo de Carvalho, é um dos nomes cotados, além do de seu discípulo Nestor Forster, nomeado e exonerado em apenas sete dias por Araújo como seu chefe de gabinete, em dezembro. O setor militar do governo, porém, insiste no cientista político Murillo Aragão.

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    A mudança em Washington vem a público apenas um dia depois do episódio da demissão do embaixador Mário Vilalva do comando da Apex, ao final de noventa dias de gestão nesse feudo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República. A VEJA, Vivalva afirmou ter “caído em uma grande arapuca” ao aceitar o convite de Araújo para assumir essa posição e se sentir “aliviado e frustrado” com sua saída.

    Com 43 anos de carreira diplomática – catorze anos a mais que Araújo -, o embaixador deverá se licenciar do serviço público. Sua atitude, porém, o tornou mais um dos heróis do Itamaraty, onde perseguições a quadros não vinculados ideologicamente ao novo governo estão na ordem do dia e uma corrida a postos no exterior – em especial, para consulados – tem sido a válvula de escape. O último diplomata a enfrentar Araújo foi Paulo Roberto de Almeida, exonerado do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) por suas críticas à condução do Itamaraty neste governo.

    “Foram noventa dias de luta insana para colocar as coisas nos devidos lugares na Apex e tocar o trabalho de promoção do comércio e da boa imagem do Brasil”, afirmou Vilalva, um dos mais experientes nessa área do Itamaraty. “Acabei sozinho e alvo de jogadas desleais e traiçoeiras desferidas pelos meus colegas da cúpula do Itamaraty”, completou, referindo-se a atitudes consideradas surpreendentes do chanceler Ernesto Araújo e do secretário-geral das Relações Exteriores, Otávio Brandelli.

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    Vivalva disse não ter sido chamado nenhuma vez por Araújo para conversar reservadamente sobre o funcionamento da Apex que, na gestão de Dilma Rousseff, esteve subordinada ao MDIC. Recebera apenas uma visita de Eduardo Bolsonaro, acompanhado de um guarda-costas armado. Do chanceler, afirmou o embaixador, recebeu o “golpe” inesperado.

    Golpe

    Mário Vilalva
    Embaixador Mário Vilalva: armadilhas na Apex e demissão por telefone (APEX Brasil/Reprodução)

    Vilalva acusou publicamente Araújo de ter se engajado com os dois diretores da agência, Márcio Coimbra e Leticia Catelani, na elaboração de um novo estatuto para a agência  “na calada da noite”. O documento, registrado em cartório, esvazia a presidência da Apex e repassa boa parte de suas atribuições aos dois diretores. Embora Araújo, como ministro, presida o Conselho Deliberativo da Apex, o novo estatuto não foi submetido à aprovação dos demais membros desse órgão.

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    Ao denunciar o “golpe”, Vivalva estava ciente das consequência. Foi demitido por telefone na terça-feira. O Itamaraty limitou-se a publicar uma nota na qual agradeceu os serviços prestados pelo embaixador. Seu sucessor ainda não foi designado.

    Segundo o embaixador, desde o início do governo, a Apex tem sido controlada por Coimbra e Letícia Catelani, mais conhecida como Catel. Ambos são ligados às colunas bolsonaristas e, como diretores da Apex, recebem salário de cerca de 45.000 ao mês. A empresária Catelani, sócia-administradora da empresa Liderusi, é conhecida amiga do deputado Bolsonaro desde os tempos de faculdade e tem sido protegida por Araújo.

    Embora não tivesse experiência em comércio exterior nem no serviço público federal, ela fora nomeada pelo chanceler para a Diretoria de Negócios, a pedido do filho do presidente. A área sob seu controle é responsável por 81% do orçamento da agência, de 700 milhões de reais ao ano.

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    Desde sua chegada à Apex, Vivalva viu-se minado pela atuação dos dois diretores. Não conseguiu alterar o estatuto da Apex para reduzir o poder financeiro da área de Negócios nem substitui-los por quadros profissionais. Tampouco teve sucesso em suas iniciativas de trazer para a Apex um auditor com carreira na Corregedoria Geral da União, um militar para a área de gestão, uma diplomata como sua chefe de gabinete e uma jornalista para a área de Comunicação Social. Viu-se ainda amarrado pela determinação estatutária de que as decisões deveriam ser tomadas com as assinaturas do presidente da Apex e de um diretor – ou dos dois diretores, na ausência do líder.

    Em uma das armadilhas dos diretores, Catelani desapareceu no dia da assinatura da renovação do contrato da Apex com a empresa de marketing Terroá, responsável naquele momento pela montagem de um estande do Brasil na feira de móveis de Milão, com a presença dos irmãos Campana, célebres designers brasileiros. A diretora insistiu para que Vivalva enviasse o contrato, já com a assinatura dele, para o local onde estava.

    “Eu expliquei que não poderia fazer isso, que um contrato público deve ser assinado conjuntamente pelos seus responsáveis e com a presença de testemunhas. Fiquei até as 20 horas esperando por ela, que não apareceu. No dia seguinte, ela acusou a empresa Terroá de ter sido disse mencionada na Lava Jato, fato que eu não conhecia e que deveria ter sido apresentado por ela para nossa reunião prévia”, afirmou.

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