O envio à Ucrânia de uma missão de manutenção da paz por forças da Otan seria “muito imprudente” e “extremamente perigoso”, alertou o porta-voz do governo russo nesta quarta-feira, 23. Segundo Dmitry Peskov, “qualquer possível contato entre nosso Exército e o Exército da Otan pode levar a consequências bastante compreensíveis que são difíceis de ser reparadas”.
Na semana passada, o vice-primeiro-ministro da Polônia, Jaroslaw Kaczynski, pediu uma missão internacional de manutenção da paz após um encontro de líderes da Ucrânia, Polônia, Eslovênia e República Checa.
O governo de Varsóvia pretende enviar uma proposta formal para a missão durante cúpula da Otan em Bruxelas na próxima quinta-feira. Segundo embaixador polonês nos Estados Unidos, Marek Magierowski, a aliança militar ocidental precisa considerar “todas as possibilidades” para mandar “um sinal muito claro ao Kremlin”.
Além desta proposta, os ministros das Relações Exteriores e Defesa da União Europeia aprovaram na segunda-feira 21 uma nova estratégia de segurança destinada a aumentar a influência militar do bloco, estabelecendo uma força de reação rápida de até 5.000 soldados em casos de crise. É esperado que os líderes do bloco aprovem a iniciativa já no final da semana, entre os dias 24 e 25.
Apesar da pressão polonesa, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou na semana passada, após uma reunião extraordinária dos ministros da Defesa da aliança, que “não há planos de destacar tropas” em território ucraniano.
Na reunião, convocada para avaliar o reforço imediato da segurança dos membros da aliança militar no leste da Europa e os planos para fortalecer sua postura militar no futuro diante da ameaça russa, os ministros tiveram a oportunidade de comentar a proposta polonesa de enviar tropas à Ucrânia em uma missão de manutenção da paz para garantir a retirada de civis através de corredores humanitários.
“O que precisamos é de paz na Ucrânia, e é por isso que a Rússia e o presidente Putin têm que parar a guerra e retirar suas Forças Armadas”, declarou o político norueguês, acrescentando que o bloco militar apoia “todos os esforços para encontrar uma solução negociada, todos os esforços para uma solução diplomática”.
Stoltenberg também falou sobre a possibilidade de a Ucrânia não aderir à Otan. De acordo com ele, “a mensagem é a mesma que tem sido durante anos”: que a Ucrânia é um país soberano com o direito “de escolher seu próprio caminho”, e que “não cabe à Rússia” decidir por ela.
Na semana passada, em meio às negociações para o fim do conflito provocado pela invasão da Rússia, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmo que seu país precisa entender que “a porta da Otan não está aberta” para admissão. A fala do presidente ucraniano é a mais clara sobre o tema, principal ponto de embate entre Moscou e Kiev.
As exigências de Moscou para encerrar a invasão ao país vizinho, que teve início em 24 de fevereiro, foram explicitadas recentemente quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militares na Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo.
Moscou chama sua incursão de “operação militar especial” para desarmar a Ucrânia e desalojar líderes que chama de “neonazistas”. Kiev e seus aliados ocidentais dizem que se trata de um pretexto para uma guerra não provocada contra um país democrático de 44 milhões de pessoas.