O presidente da França, Emmanuel Macron, foi alvo de críticas ao assistir a um show de Elton John em Paris, enquanto os manifestações acontecem em todo o país pela morte de um adolescente filho de imigrantes africanos, baleado por um policial. Filmagens mostraram o mandatário batendo o pé enquanto o artista britânico tocava sucessos como “Saturday Night’s Alright for Fighting” e “Burn Down the Mission”.
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Elton e seu marido, David Furnish, também postaram uma foto no Instagram na última quinta-feira, 29, de um encontro com o presidente e a primeira-dama, Brigitte Macron.
Um usuário comentou a foto de Furnish falando que “ao mesmo tempo em que uma criança foi morta pela polícia sob seu governo, ele está curtindo um show. Lamentável para Macron”.
O ministério do Interior da França informou nesta sexta-feira, 30, que 875 pessoas foram detidas na terceira noite de protestos após a morte de um adolescente filho de imigrantes africanos, baleado por um policial. A maioria tem de 14 a 18 anos. O agente teve a prisão preventiva por homicídio decretada pela Justiça.
A violência começou na terça-feira 27, em Nanterre, nos arredores de Paris, depois da morte de Nahel, de 17 anos. O adolescente foi atingido por um disparo à queima-roupa efetuado por um agente durante uma blitz.
Ao longo da madrugada, manifestantes entraram em confrontos com a polícia em várias cidades. Lojas e bancos foram destruídos ou incendiados e ônibus foram virados. Para conter os franceses, o governo mobilizou 40 mil policiais extras em todo o país.
Além de Paris, cidades como Lyon, Lille e Tolouse, entre outras, registraram protestos violentos. Como medida de contenção, as autoridades locais da segunda maior cidade da França, Marselha, proibiram manifestações nesta sexta-feira. Todos os transportes públicos da região vão parar de funcionar às 19h (15h de Brasília), já que os manifestantes costumam ir às ruas de noite.
Pelo menos três cidades ao redor de Paris, incluindo Clamart, Compiègne e Neuilly-sur-Marne, impuseram toques de recolher noturnos totais ou parciais, depois que um relatório de inteligência policial vazou para a mídia francesa e previu “violência urbana generalizada nas próximas noites”.
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Uma vigília pacífica também organizada pela pela mãe de Nahel, Mounia, que liderou a procissão com um cartaz escrito “Polícia mata” e levantando um sinalizador vermelho.
O policial suspeito de matar Nahel foi acusado preliminarmente de homicídio voluntário, depois que o promotor Pascal Prache disse que suas investigações iniciais indicaram que “as condições para o uso legal da arma não foram atendidas”. Prache disse que os policiais tentaram parar Nahel porque ele parecia muito jovem e estava dirigindo um Mercedes com placas polonesas em uma faixa de ônibus.
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De acordo com o promotor, o depoimento do policial disse que Nahel teria atravessado um sinal vermelho para evitar ser parado antes de ficar preso no trânsito, e ele disparou o tiro disse que temeu que um colega ou um transeunte pudessem ser atropelados pelo carro.
A família do adolescente e seus advogados não disseram que o tiro estava relacionado à raça, mas o ocorrido intensificou a raiva entre os ativistas sobre a má conduta policial.
“Temos que ir além de dizer que as coisas precisam se acalmar”, disse Dominique Sopo, chefe do grupo de campanha SOS Racismo. “A questão aqui é como fazer para que tenhamos uma polícia que, ao ver negros e árabes, não grite com eles, use termos racistas contra eles e, em alguns casos, dê um tiro na cabeça.”
Inicialmente, Macron adotou um tom conciliatório, chamando a morte de Nahel de “inexplicável e imperdoável”. Porém, sua resposta endureceu à medida que a violência se intensificou, denunciando ataques a prédios públicos como “totalmente injustificáveis” e expressando sua gratidão pela tropa de choque lutando contra os manifestantes.