Como presidente temporário da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o presidente argentino, Alberto Fernández, decidiu não convidar Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), para um encontro do fórum regional na próxima semana, em Buenos Aires. A informação foi publicada pelo periódico argentino Clarín nesta quinta-feira, 19.
No último encontro da Celac, em setembro de 2021 na Cidade do México, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, já havia decidido não convidar Luis Almagro, que tradicionalmente participa dos fóruns como convidado, à medida que não é representante da organização ou de Estados-membros.
Nos anos recentes, o mexicano e o argentino já haviam pedido publicamente a demissão de Almagro, que apesar disso foi reeleito em 2020 por uma maioria de países para um segundo mandato.
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Em 2021, Fernández afirmou que caso Almagro “tivesse um mínimo de dignidade, daria um passo para o lado”, reafirmando que houve um “golpe de Estado na Bolívia” em 2019 e que o organismo regional teve “responsabilidade” pela ruptura institucional.
“Na Bolívia houve um golpe de Estado, eu não tenho nenhuma dúvida, não permitindo que Evo Morales fosse reeleito, e um ano depois ficou comprovado, porque Evo ganhou novamente com uma diferença ainda muito maior”, destacou Fernández à agência pública argentina Télam. “A OEA teve responsabilidade nisso”.
Além das questões políticas, Almagro se tornou alvo em outubro do ano passado de uma investigação interna por se relacionar consensualmente com uma assessora mexicana 20 anos mais nova, o que possivelmente viola o código de ética da organização.
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A Celac foi criada em 2010, a partir da iniciativa do então presidente venezuelano Hugo Chávez, sob argumento de que a OEA responde aos interesses dos Estados Unidos, e não dos países latinos. Durante o governo de Jair Bolsonaro, o Brasil teve sua participação suspensa, já que, segundo o ex-mandatário, o fórum teria se tornado “palco dos regimes não democráticos de Venezuela, Cuba e Nicarágua”.
Com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, o Itamaraty volta a ter um foco na reconstrução da diplomacia. Durante discurso de posse, o chanceler Mauro Vieira prometeu reconduzir o Brasil ao “grande palco das relações internacionais” e dar atenção especial ao resgate de laços com a América Latina e o Caribe.
“A política externa voltará a traduzir em ações a visão de um país generoso, com mais justiça social”, declarou Vieira. Entre os fóruns que o novo governo pretende reforçar, disse Vieira, estão justamente a Celac e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).