Em meio ao agravamento de tensões em seu país, o presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, decidiu interromper a viagem para a Suíça, onde acontece o encontro do Fórum Econômio Mundial (WEF), e voltou no começo desta terça-feira, 22, à capital da nação africana, Harare.
Protestos na cidade começaram na última semana, provocados pela alta no preço dos combustíveis. Na noite de segunda-feira 21, Mnangagwna afirmou que a suposta violência abusiva das forças de segurança de seu país são “inaceitáveis e uma traição”. O líder também não poupou críticas aos manifestantes, que acusou de roubo e ameaças, em seu primeiro pronunciamento desde o início de confrontos entre os lados.
Os manifestos emergiram depois do anúncio de um reajuste de 150% no valor dos combustíveis, e rapidamente sofreram uma forte repressão das forças de segurança do governo. A Organização pelos Direitos Humanos do Zimbábue diz que pelo menos 12 pessoas foram mortas e outras 78 estão internadas, a maioria feridas a bala.
A ONG também informa que mais de 240 pessoas foram atendidas depois de ser agredidas ou torturadas, e a oposição garante que forças do governo atacaram vítimas dentro de suas próprias casas. Ministros do governo acusam o Movimento para Mudança Democrática (MDC) de estar usando o aumento nos preços como pretexto para violência, mas o MDC, por sua vez, afirma que autoridades fazem uma repressão desproporcional dos protestos.
Mnangagwa utilizou sua conta no Twitter para fazer as primeiras declarações sobre a evolução dos protestos: “Há uma semana, eu anunciei medidas para estabilizar o estoque fundamental de combustível em nossa nação. Estava ciente de que elas podiam ser impopulares, e não foi uma decisão que tomamos facilmente. Mas esta era a coisa certa a ser feita.”
“O que se seguiu foi lamentável e trágico. Todos tem o direito a protestar, mas este não foi um protesto pacífico. Violência devastadora e destruição; saque em postos de polícia, com o roubo de armas e uniformes; incitação e ameaças de violência. Este não é o modo zimbabuense de ação”, acrescentou.
O presidente ainda informou que “violência e má conduta das forças de segurança são inaceitáveis e uma traição ao novo Zimbábue. Caos e insubordinação também não serão tolerados. Má conduta será investigada e, se necessário, cabeças vão rolar.”
O líder, que em 2018 substituiu o ditador Robert Mugabe no poder, já havia acenado no domingo 20 sua intenção de voltar mais cedo do Fórum Econômico Mundial. Ele disse que a decisão foi tomada “depois de uma semana muito produtiva de acordos bilaterais e reuniões de investimento”, deixando seu Ministro de Finanças, Mthuli Ncube, como responsável por continuar sua agenda no WEF.
Com a desistência, Mnangagwa se junta a líderes como Donald Trump, Theresa May e Emmanuel Macron, que também cancelaram suas viagens à Davos em meio a crises políticas e sociais em seus países.
Prisão arbitrária
Na segunda-feira 21, o Supremo Tribunal do país ordenou que as operadoras de telefone restaurassem imediatamente o acesso ilimitado às redes móveis e serviços de internet, depois de dias de bloqueio. A internet no país permaneceu cortada por vários dias, com muitos cidadãos da nação africana impossibilitados de acessar redes sociais ou portais de notícia para receber atualizações sobre os protestos.
Também ontem, Japhet Moyo, secretário geral do Congresso dos Sindicatos do Zimbábue (ZCTU), que esteve envolvido em organizar os protestos, foi preso no principal aeroporto do país, e enfrenta acusações de subversão.
Moyo não estava ciente de que era procurado pela polícia, disseram à CNN representantes dos Advogados pelos Direitos Humanos do Zimbábue. O ZCTU era um dos principais grupos incitando uma greve geral depois do anúncio dos reajustes.
Segundo a BBC, com o reajuste, o Zimbábue se tornou o país com o combustível mais caro no mundo. Muitos zimbabuenses não podem nem mesmo pagar as tarifas de transporte público para o trabalho, já que elas também sofreram aumento.