Em escala em Cabo Verde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, 19, ter “profunda gratidão por tudo o que foi produzido” pela África durante a escravidão no Brasil. A parada no país lusófono teve como finalidade o abastecimento da aeronave no retorno de Bruxelas, onde participou da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) com a União Europeia (UE).
Apesar de ter recebido o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, no Palácio Itamaraty, em março, a rápida visita desta quarta-feira representa a primeira viagem de Lula ao continente africano neste mandato. Aproveitando a passagem, ele participou de uma coletiva de imprensa ao lado do presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, e tratou dos longos anos de trabalho forçado no período colonial.
“Quero recuperar a relação com o continente africano. Nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, nossa cor, tamanho, é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus”, afirmou. “E nós temos profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”.
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Não é a primeira vez, no entanto, que Lula cita a miscigenação como parte da história brasileira. Em março, após a Assembleia Geral dos Povos Indígenas, ele foi alvo de críticas do movimento negro por elogiar os efeitos da “mistura” étnica dos cidadãos, apesar de ter sido fruto, muitas vezes, da violência sexual de indígenas e de mulheres negras escravizadas.
“Toda a desgraça que isso causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação, da mistura entre indígenas, negros e europeus, que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui”, discursou na ocasião.
No encontro em Cabo Verde, Lula afirmou o Brasil teria capacidade de realizar um “pagamento” aos países africanos através dos setores de “tecnologia”, que estaria voltada para a qualificação da população, “industrialização” e “agricultura”. Ele prometeu, ainda, marcar presença em outros países do continente em 2024 para “abrir embaixadas onde o Brasil ainda não tem”, de forma a estipular “no que que o Brasil pode ajudar mais”.
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Além disso, o petista criticou o “desgoverno” que o antecedeu, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro, pela sua atuação durante a pandemia de Covid-19, responsável pela morte de mais de 700 mil brasileiros. Segundo Lula, autoridades brasileiras poderiam ter auxiliado na produção de vacinas destinadas à população africana.
“Se nós não tivéssemos um governo negacionista, o Brasil poderia ter produzido vacina contra a Covid-19 e ter ajudado o continente africano”, defendeu. “Nós tivemos um desgoverno, que não cumpriu com o que era essencial de cuidar do ser humano. O Brasil voltou à democracia”.
Encontro com o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, com quem tive reunião na nossa escala antes de retornar ao Brasil. Ele falou da importância dos estudantes cabo-verdianos no nosso país. O Brasil tem muito potencial de ajudar o continente africano. Volto com a promessa… pic.twitter.com/Ex70JG7aHY
— Lula (@LulaOficial) July 19, 2023
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Neves, por sua vez, relembrou a ida de estudantes cabo-verdianos ao Brasil e expressou seu contentamento com o retorno do diálogo brasileiro com a comunidade internacional, que teria como objetivo “a construção de um mundo mais igual, onde todos tenham oportunidade de viver com dignidade”.
“A ordem mundial está num processo de transfiguração. Precisamos de lideranças visionárias, transformadoras e catalizadoras desse momento”, afirmou o presidente de Cabo Verde.
Em nota, o portal do governo brasileiro destacou que “o presidente Lula foi o mandatário brasileiro que mais vezes visitou a África, em seus dois mandatos anteriores”, bem como reforçou o plano do petista de “recuperar as relações com países africanos” para auxiliar “no que for preciso para o desenvolvimento econômico e social”.