Em um ambiente caótico, os senadores americanos do Comitê de Assuntos Judiciários não conseguiram nesta terça-feira dar o andamento previsto à sabatina do juiz conservador Brett Kavanaugh, de 53 anos, o escolhido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Suprema Corte. A sessão foi “sequestrada” pelas brigas entre senadores progressistas e conservadores e por ativistas que acabaram presos.
Hoje deu-se o primeiro dos três dias de audiências públicas do Comitê para avaliar a indicação presidencial. Mais de sete horas de sessão se passaram antes de Kavanaugh, da corte federal de apelações de Washington (DC), conseguir fazer seu discurso de abertura.
Indicado por um presidente que frequentemente critica o Judiciário, Kavanaugh disse a senadores que “um juiz precisa ser independente e não oscilar por pressão pública”. “Nosso judiciário independente é a joia da coroa de nossa república constitucional”, declarou.
O tumulto foi alimentado pela recusa dos senadores republicanos, obedientes à Casa Branca, em entregar documentos sobre as posições anteriores de Kavanaugh. Entre 2003 e 2006, ele foi secretário do então presidente George W. Bush. Sob sua responsabilidade estavam os documentos de assessores para Bush. Antes disso, ele atuara como advogado no conselho da Casa Branca.
Será difícil ele não ser confirmado na quinta-feira (6), uma vez que os republicanos tem maioria no Senado. Kavanaugh deverá ocupar a cadeira deixada pelo ministro Anthony Kennedy, que tinha posições centristas.
Senadores democratas repetidamente interromperam a audiência desta terça, sem que o presidente do comitê, o republicano Chuck Grassley, conseguisse manter a ordem. Cerca de 61 manifestantes foram removidos da sala e acusados de conduta desordeira, junto a nove outros do lado de fora.
Mulheres vestidas como a protagonista da série O Conto da Aia, baseada no livro da canadense Margaret Atwood, caminharam pelo Senado até a sala do comitê, em protesto silencioso contra a aprovação de Kavanaugh. Suas posições conservadoras deverão impedir o aval da Suprema Corte a questões sensíveis, como a descriminalização do aborto, o acesso dos mais pobres à saúde e a proibição de venda de armas a civis.
Os manifestantes gritavam: “Esta é uma paródia da Justiça”; “Nossa democracia está quebrada”; “Votem não para Kavanaugh”. Manifestantes expressaram preocupação sobre o que veem como uma ameaça apresentada por Kavanaugh para direito de aborto, acesso à saúde e controle de armas.
“Esta é a primeira confirmação para um juiz da Suprema Corte que eu vi, basicamente, conforme o governo da multidão”, disse o senador republicano John Cornyn. “O que nós ouvimos é o barulho da democracia”, respondeu o colega democrata Dick Durbin.
O senador democrata Cory Booker apelou ao “senso de decência e integridade” de Grassley ao pedir a liberação dos documentos sobre o sabatinado. Insistiu que a retenção deles deixara os parlamentares incapazes de examinar Kavanaugh devidamente.
“Nós não podemos avançar. Nós não tivemos uma oportunidade de ter uma audiência significativa”, concordou a senadora democrata Kamala Harris.
Diante da recusa dos republicanos, os democratas pediram o adiamento da sessão. Grassley considerou a proposta “fora de cogitação” e acusou os oposicionistas de obstrução. Os líderes democratas no Senado prometeram uma dura luta nos próximos dois dias para bloquear a confirmação do juiz. Prometeram pressionar Kavanaugh sobre aborto, direitos de armas e poder presidencial quando puderem fazer perguntas, a partir desta quarta-feira (05).
Os republicanos argumentam haver documentos mais que suficientes para avaliar o histórico de Kavanaugh, incluindo seus 12 anos de opiniões judiciais como juiz da Corte de Apelações para Washington.
Trump criticou os democratas no Twitter, dizendo que a audiência foi “verdadeiramente uma exibição do quão desprezível, irritado e vil o outro lado é”. Acusou ainda seus opositores de “buscarem infligir dor e constrangimento” a Kavanaugh.