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Presidente rompe protocolo diplomático ao sinalizar filho como embaixador

Posto é feudo de diplomatas de carreira desde 1967 e foi ocupado por sete ministros de Estado, entre os quais Sérgio Amaral e Rubens Ricupero

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 11 jul 2019, 19h45 - Publicado em 11 jul 2019, 19h29

Avesso a protocolos, o presidente Jair Bolsonaro quebrou uma das regras de ouro da diplomacia nesta quinta-feira, 11, ao afirmar que seu filho Eduardo, deputado federal por São Paulo, “está no radar” para assumir a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos.

O nome do candidato do presidente da República, escolhido em consulta com o Itamaraty, jamais é divulgado antes de o governo receber o “sim” do país onde o embaixador atuará – o chamado agrément. Depois, ainda se faz necessária a sabatina do indicado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado e também a aprovação de seu nome pelo plenário da Casa. Esses ritos são cumpridos à risca pelos governos, sempre ciosos em não causar situações de constrangimento e atritos diplomáticos.

Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff rejeitou a indicação de Dani Dayan para a embaixada de Israel no Brasil porque o governo israelense anunciara a sua nomeação antes de receber o agrément de Brasília. O governo brasileiro daquela época dificilmente aceitaria a vinda de Dayan, um defensor dos assentamentos israelenses no território palestino da Cisjordânia. Há dois anos, um embaixador teve seu nome rejeitado para a missão do Brasil na Organização dos Estados Americanos ao final da sabatina da Comissão.

É bastante improvável que, mesmo com essa gafe de Bolsonaro pai, o filho conhecido como “03” perca o posto em Washington por causa dos rituais diplomáticos. Na visita do líder brasileiro ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. em março passado, Eduardo Bolsonaro recebeu um tratamento diferenciado. Primeiro, entrou na reunião privada de seu pai com Trump no Salão Oval – honraria subtraída do chanceler Ernesto Araújo. Depois, foi elogiado pelo americano diante da imprensa, na entrevista coletiva no Jardim das Rosas. Os três se encontraram novamente na reunião de cúpula do G20 em Osaka, no Japão.

“Está no meu radar, sim. Existe uma possibilidade. Ele daria conta do recado perfeitamente”, afirmou à imprensa, ao destacar que seu filho fala inglês e espanhol e é amigo dos filhos do presidente americano, com se esses fossem os únicos requisitos para um bom embaixador do Brasil em Washington.

“Imagine se o filho do (Mauricio) Macri como embaixador da Argentina no Brasil. Obviamente, o tratamento seria diferente do de outro embaixador normal”, comparou, ao final da cerimônia de posse do diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem.

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O presidente afirmou que a decisão caberá a seu filho, que teria de renunciar a seu mandato na Câmara dos Deputados para seguir para os Estados Unidos A sinalização, porém, fere completamente o protocolo sobre a nomeação de embaixadores. Também atropela os planos do Itamaraty, cujo candidato era o diplomata Nestor Forster Júnior, responsável por apresentar  Ernesto Araújo ao guru Olavo de Carvalho. Forster foi promovido a embaixador em junho passado e já atua na embaixada em Washington como ministro-conselheiro.

Eduardo Bolsonaro já havia viajado várias vezes aos Estados Unidos em busca de apoio ao governo de seu pai na ala ultraconservadora americana. Um de seus contatos mais próximos é Steve Bannon, ex-assessor especial que Trump demitiu da Casa Branca. Outro nome é o guru ideológico da atual gestão em Brasília, Olavo de Carvalho. Durante a visita do presidente a Washington, ambos foram convidados para jantar na embaixada brasileira.

O posto de embaixador do Brasil em Washington é o mais importante da diplomacia brasileira no exterior. Há mais de 50 anos, porém, as designações têm recaído a diplomatas no topo da carreira com experiência comprovada em negociações políticas e econômicas. Sete deles foram ministros de Estado antes ou depois da passagem por Washington. O último não diplomata a assumir o posto foi o ex-governador da Bahia Juracy Magalhães, entre 1966 e 1967.

Entre os nomes que passaram pela embaixada em Washington estão Marcílio Marques Moreira, Paulo Tarso Flecha de Lima, Vasco Leitão da Cunha, Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, Antonio Patriota, Mauro Vieira e Luiz Fernando Figueiredo.

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O último embaixador do Brasil em Washington foi Sérgio Amaral, diplomata de carreira que foi porta-voz do Palácio do Planalto e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na gestão de Fernando Henrique Cardoso e chefe das representações do Brasil em Londres e Paris. Amaral permaneceu três anos no posto, que deixou depois da visita de Bolsonaro a Washington.

 

 

 

 

 

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