Mesmo com a série de sanções ocidentais impostas desde a invasão à Ucrânia, a economia da Rússia apresenta estabilidade, ao contrário do previsto no início da guerra. Taxas relativamente baixas de desemprego e a estabilidade da moeda do país, o rublo, acrescentam otimismo à economia de Vladimir Putin, presidente russo, mas as restrições tendem a prejudicar os planos do Kremlin no longo prazo.
Assim que os embargos foram estabelecidos, bancos russos, experientes em decorrência das restrições impostas com a anexação da Crimeia em 2014, aumentaram a taxa de juros em uma tentativa de controlar a inflação. Ao final de 2022, a economia contraiu 2,1%, bem longe da previsão inicial de 12%. Na estimativa do banco central russo, a queda no PIB deve ser menor em 2023, de 1,5%. Se essa projeção se concretizar, o tombo seria de 3,6% no biênio, um número relevante, mas pequeno comparado a contrações registradas em outros países fora do contexto de guerra, como o Brasil, que chegou a cair mais de 6% entre 2015 e 2016.
Enquanto empresas como McDonald’s e Apple retiraram suas filiais do país em forma de protesto, comércios locais supriram as demandas e sites de grandes varejistas russos, Wildberries e Svaznoy são exemplos, passaram a comercializar produtos de tecnologia americana, como iPhones e Air Pods de última geração, em valores similares aos europeus.
A importação desses artigos por terceiros tem sido uma rota de fuga utilizada pelo Kremlin para contornar as restrições, como é o caso das exportações realizadas da Armênia para a Rússia. A compra de produtos chineses também tem auxiliado na estabilidade do mercado local. O impacto foi amortecido e não afetou fortemente a população, apesar de um aumento mínimo no valor das mercadorias.
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Além disso, as principais moedas de troca usadas por Moscou são o petróleo e o gás, já que grande parte da Europa depende da matriz energética russa, obrigando países da União Europeia a seguirem com as importações no ano passado. Em 2022, o faturamento russo alcançou o recorde de 325 bilhões de dólares, o que levou ao fortalecimento do rublo.
Apesar da relevância nesse setor, os reflexos das sanções ocidentais sobre os combustíveis devem ser sentidos em maior escala neste ano com a determinação de um teto de preço do petróleo para China, Índia e Turquia, aliados de Putin.
No entanto, especialistas ouvidos pela Associated Press indicaram que o líder russo tem reservas para contornar os imprevistos e tende a seguir dominando a comercialização dos combustíveis. Os vínculos com os parceiros comerciais também atuam como impedimentos para uma queda econômica abrupta do país neste ano.
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Um calcanhar de Aquiles expressivo para Putin, no entanto, é o setor automobilístico. As montadoras Renault, Volkswagen e Mercedes-Benz interromperam as fabricações na Rússia e, como consequência, as vendas despencaram 63%. Com a diminuição da oferta, os preços de carros estrangeiros aumentaram consideravelmente. De acordo com informações da Escola de Economia de Kiev, 1.169 empresas ainda planejam deixar o país.
Ainda segundo um estudo da Escola, a economia russa perderá 50% na receita de combustíveis fósseis. Contudo, especialistas não enxergam o surgimento de problemas financeiros graves no horizonte russo a curto prazo. A tendência é que a economia de Moscou tenha uma queda lenta e gradual.