Em mais um episódio do vexaminoso reality show em que um ex-presidente dos Estados Unidos responde a noventa acusações em quatro processos, Donald Trump prestou depoimento durante quatro horas no tribunal de Nova York onde transcorre o julgamento dele, dos filhos Eric e Donald Jr. e de vários executivos da Trump Organization por terem inflado seu patrimônio para obter condições favoráveis em empréstimos e seguros. O candidato republicano afirmou que as supervalorizações eram irrelevantes manobras, usuais na contabilidade, embora a maracutaia tenha resultado em ganhos ilícitos de 168 milhões de dólares. No mais, Trump foi Trump — ora sarcástico, ora raivoso, divagando e entremeando as respostas com as conhecidas queixas de “caça às bruxas”, “julgamento muito injusto” e motes eleitorais. “Responda à pergunta sem discursos”, repetiu várias vezes o juiz Arthur Engoron — que, por sinal, já deliberou pela culpa dos acusados. Cabe a ele agora determinar a punição — a promotoria pede indenização de 250 milhões de dólares ao estado, dissolução das empresas e proibição de que a família faça negócios em Nova York. Por mais incriminatórios que sejam este e outros processos, a condição de réu até agora não abalou em nada a vantagem do ex-presidente na disputa pela Casa Branca em 2024: segundo pesquisa do jornal The New York Times, Trump hoje venceria seu principal rival, o presidente Joe Biden, em cinco dos seis estados-chave para a definição do resultado da eleição do ano que vem. Pelo visto, o reality show vai continuar.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867