Repressão a acampamento de manifestantes no Sudão deixa 13 mortos
Estados Unidos e Reino Unido pediram o fim imediato da repressão no país; oposição convocou mais protestos
O governo militar do Sudão dispersaram à força nesta segunda-feira, 3, o acampamento popular que havia sido montado há várias semanas diante do quartel-general em Cartum, como forma de protesto contra a junta. A operação deixou 13 civis mortos.
Membros das forças de segurança fortemente armados e em veículos com metralhadoras se deslocaram por toda capital. Tiros foram ouvidos na área do acampamento.
Os Estados Unidos e o Reino Unido pediram o fim imediato da repressão aos manifestantes. Os protestos se intensificaram após a deposição do ditador Omar Bashir. Os manifestantes exigem o fim do governo militar que substituiu o presidente destituído.
O Comitê Central de Médicos Sudaneses, organização ligada aos manifestantes, afirmou nesta segunda-feira que o número de mortes deixados pelos confrontos no acampamento em Cartum chegou a 13.
A comissão afirmou ainda que um grande número de pessoas ficou gravemente feridas e pediu “apoio urgente” ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a outras organizações humanitárias.
O Conselho Militar de Transição negou, porém, ter dispersado à força o acampamento de opositores.
“Não dispersamos o acampamento à força”, declarou o porta-voz do Conselho, o general Shamsedin Kabashi, ao canal Sky News Arabia, com sede nos Emirados Árabes Unidos. “As barracas continuam no local, e os jovens podem circular livremente”, afirmou.
O porta-voz disse, contudo, que as forças de segurança atuaram em uma zona “perigosa”, conhecida como “Colômbia”, perto do local dos protestos. “Este local, chamado ‘Colômbia’, foi durante muito tempo uma fonte de corrupção e atividades ilícitas”, declarou o general.
Massacre
Os protestos no Sudão começaram em dezembro de 2018 contra o governo ditatorial de Omar Bashir. Aproveitando o clima de instabilidade, uma junta militar tomou o poder em abril e instaurou um governo provisório de 3 anos.
A relação entre militares e manifestantes ficou tensa no mês passado após o fracasso das negociações entre os representantes da junta e a oposição.
Diante da violência registrada em Cartum nesta segunda, a Aliança pela Liberdade e a Mudança (ALC), líder dos protestos e representante da oposição, convocou uma “greve e a desobediência civil total e indefinida a partir de hoje”.
“No momento, não resta ninguém diante do quartel-general das Forças Armadas, apenas os cadáveres de nossos mártires, que não conseguimos retirar”, completou a ALC.
A Associação de Profissionais Sudaneses (APS), outra organização à frente dos protestos, citou um “massacre” e convocou os sudaneses à “desobediência civil total para derrubar o Conselho Militar pérfido e assassino”.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido condenou o ataque aos manifestantes, que chamou de “passo escandaloso”. “O Conselho Militar é plenamente responsável por esta ação, e a comunidade internacional vai cobrar”, escreveu Jeremy Hunt no Twitter.
A embaixada dos Estados Unidos em Cartum exigiu o fim da repressão. “A operação das forças de segurança sudanesas é injustificável e deve cessar”, escreveu a representação diplomática em sua conta no Twitter.
O comandante do Conselho Militar, Abdel Fatah Burhan, visitou recentemente o Egito, os Emirados Árabes Unidos e as Arábia Saudita, três países que expressaram apoio aos militares sudaneses.
Depois de governar o Sudão por quase 30 anos, Omar Bashir foi deposto e detido pelo Exército em 11 de abril. Bashir foi pressionado por um movimento sem precedentes, que teve início em 19 de dezembro após a decisão do governo de triplicar o preço do pão em um país abalado por uma grave crise econômica.
(Com AFP)