A menos de três dias das eleições presidenciais na Venezuela, a pesquisa de intenção de votos mais recente do Instituto Datanálisis mostra o candidato oposicionista Henri Falcón na primeira posição, com 7,1 pontos percentuais na frente do atual presidente Nicolás Maduro.
Falcón concorre pelo partido Avanço Progressista e lançou sua candidatura contrariando a decisão da principal coalização opositora do país, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), de boicotar o pleito para evitar legitimar a provável reeleição de Maduro. Seu principal assessor de campanha é o economista Francisco Rodríguez, PhD de Harvard e ex-acionista de Wall Street.
Em entrevista a VEJA, Rodríguez falou sobre o ousado plano de dolarização que Falcón planeja para a economia do país. Trata-se de permitir aos venezuelanos escolher se querem receber seus salários em dólares ou bolívares, para assim combater a hiperinflação.
Escolhido por Falcón para ocupar a posição de Ministro das Finanças em caso de vitória, o economista também admitiu que para garantir governabilidade na Venezuela é preciso dialogar com o chavismo e conseguir alcançar consensos, porém negou qualquer tentativa de legitimar as eleições.
Por que o senhor decidiu deixar sua posição em Wall Street para se juntar à campanha de Henri Falcón?
Porque mais do que analista financeiro e economista, eu sou venezuelano e, portanto, decidi colocar meu compromisso com o país antes de qualquer outra coisa. Mas também porque acredito que esta é a melhor oportunidade que os venezuelanos têm para deixar o governo de Nicolás Maduro, que destruiu nossa economia, para trás. Não vamos ter outras oportunidades como esta de uma eleição presidencial em que os venezuelanos possam claramente expressar sua vontade.
A campanha de Henri Falcón está muito focada na dolarização da economia. Além disso, o que mais pretende fazer para melhorar a situação do país?
Elaboramos propostas completas, como a dolarização, para encontrar estabilidade econômica, parar a hiperinflação, recuperar o salário real dos venezuelanos e começar a permitir que a economia e as pessoas possam trabalhar e produzir. Mas também temos como objetivo o restabelecimento das liberdades econômicas, a eliminação do controle de câmbio e do controle artificial da economia e a devolução das empresas que foram expropriadas ao setor privado. E vamos desenvolver um plano para recuperar a produção petroleira, estimulando a autonomia, a profissionalização, a despolitização da produção e uma abertura ao capital privado, que é um marco da verdadeira transparência.
O salário mínimo hoje na Venezuela é muito baixo quando comparado com os preços de produtos básicos, como alimentos e medicamentos. Como solucionar essa questão?
Nossa proposta é fixar o salário mínimo inicialmente em 75 dólares [hoje gira em torno de 6 dólares, no câmbio negro]. Atualmente, os salários são prejudicados pela distorção cambial e pela hiperinflação. Mas, por meio da dolarização e dos nossos planos de transformação econômica e de recuperação dos interesses do setor público, vamos tentar combater essas questões e restaurar nossa economia, o que vai permitir uma recuperação dos salários reais. Calculamos que, por volta do quarto ano de governo, podemos chegar a um salário mínimo de 300 dólares, que é mais parecido com a média das nações vizinhas.
Nossa ideia básica é apoiar os emigrantes que queiram regressar e que viviam aqui em situação precária, mas também ajudar aqueles que permanecerem no exterior
A crise no país está fazendo com que muitos venezuelanos cruzem as fronteiras com o Brasil e Colômbia. Quais as propostas da campanha para solucionar essa questão?
Nosso plano chamado de “Venezuela Vuelve” [Venezuela Volta, em português] inclui uma série de iniciativas de apoio do setor público para estimular o regresso dos venezuelanos. Inclui exoneração de impostos, particularmente o ISLR, o imposto sobre a renda, aos que queiram regressar ao país. Teremos também apoio e subsídios à educação, para aqueles que pararam seus estudos e precisam de incentivo. Nossa ideia básica é apoiar os emigrantes que queiram regressar e que viviam aqui em situação precária, mas também ajudar aqueles que permanecerem no exterior, para que vivam da forma mais produtiva possível com seus familiares.
Muitos críticos estão dizendo que a campanha de Henri Falcón está sendo usada para legitimar a reeleição de Nicolás Maduro. Isso é verdade?
É absolutamente falso. Muitas dessas críticas vêm do próprio governo, que se beneficia da abstenção eleitoral. A administração de Nicolás Maduro é extremamente impopular, mais de 80% dos venezuelanos a reprovam, mas tem como estratégia incentivar os opositores a não votarem. A abstenção favorece Nicolás Maduro.
A principal coalizão da oposição, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), tem incentivado justamente a abstenção. Por que não concordam com essa posição?
A história nos mostra que muitos ditadores saíram do poder justamente quando se viram obrigados a enfrentar uma eleição. Foi o caso de Augusto Pinochet, no Chile. Eu imagino o que teria acontecido se a oposição chilena tivesse desistido de participar das eleições porque não queriam legitimar uma ditadura. Nossa maior chance está na possibilidade de todos os opositores votarem. Com a enorme reprovação ao governo de Maduro, a força do povo está conosco. Nós temos votos, portanto, temos de competir.
A primeira ação de Henri Falcón será a libertação de todos os presos políticos, começando por Leopoldo López
Quais serão as primeiras ações do governo, caso Henri Falcón seja eleito?
Nossos planos irão claramente em direção à democracia. Isso quer dizer que a primeira ação de Henri Falcón será a libertação de todos os presos políticos, começando por Leopoldo López. Reconheceremos a Assembleia Nacional, que foi legitimamente eleita pelos venezuelanos, e vamos desfazer todas as ações do governo contra essa instituição. Além disso, vamos iniciar um programa de reformas econômicas para integrar nossa economia com o resto do mundo.
A natureza ditatorial do governo de Nicolás Maduro indica que será difícil para um opositor assumir a Presidência. Se Henri Falcón ganhar as eleições, pode haver algum tipo de negociação com o chavismo para garantir governabilidade?
Essa pergunta é muito complexa. Nossa abordagem é simples: o plano é restabelecer a democracia, portanto, não temos de negociar ou entregar o poder a ninguém. Não se negocia a Presidência. Entretanto, estamos dispostos a iniciar um processo de diálogo e entendimento para conseguir uma série de consensos nacionais e levar nosso governo adiante. Todos os setores do país estariam convidados a fazer parte desse diálogo, incluindo os chavistas e a opositora MUD. Mas não estou falando de negociação e, sim, de busca por consenso para que o país possa resolver seus principais problemas.
Estão otimistas com os resultados?
As pesquisas nos dão uma grande vantagem, mas entendemos que o governo lamentavelmente tem um maquinário de mobilização de votos pago com recursos do Estado e usa e abusa do poder do estatal. É uma realidade com a qual temos de competir, por isso estamos incentivando todas as pessoas que estão descontentes a irem votar e nos ajudar a tirar Nicolás Maduro do poder.