Debate democrata destaca divisão entre centro e esquerda
O esperado confronto entre os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren não aconteceu. Um pacto de não agressão pareceu ocorrer, mas deve ter vida curta
A primeira noite da segunda rodada de debates de pré-candidatos democratas tornou claro o dilema da oposição para impedir a reeleição de Donald Trump em 2020. A ala progressiva poderia deslocar o partido para a esquerda o bastante para alienar eleitores de Barack Obama que ficaram em casa ou votaram no atual presidente em 2016?
O mais esperado confronto da noite, entre os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, não aconteceu. Um pacto de não agressão pareceu marcar o debate de 10 pré-candidatos, mas a trégua deve ter vida curta. Warren precisa dos eleitores de Sanders, um independente que usa a sigla democrata, mas não se filia ao partido. Mas precisa também convencer moderados de que sua agenda, especialmente na defesa de um plano universal de seguro saúde, é economicamente viável e mais realista do que a do declarado socialista democrático Sanders.
Questionada pelo pré-candidato John Delaney, de Maryland, sobre seu plano de seguro público, Warren retrucou, “Não entendo por que alguém enfrenta uma candidatura à presidência dos Estados Unidos apenas para falar do que não podemos fazer e pelo que não podemos lutar.”
Além do seguro saúde, imigração e mudança climática dividem moderados e progressistas. Todos concordam sobre a urgências desses temas, enquanto divergem sobre a ousadia das soluções. No centro do debate está a angústia sobre a elegibilidade.
Com uma boa economia, o Partido Democrata teme apresentar uma família desunida que aumente a vantagem tradicional da campanha de um presidente em exercício. Apesar do protagonismo recente da nova esquerda do partido, de figuras como a novata deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, a recuperação da maioria democrata na Câmara, na eleição de novembro passado, foi possível em grande parte graças a eleitoras mulheres e moderadas.
Despedidas
Não interessa à direção do Partido Democrata manter duas dezenas de pré-candidatos em campanha. A liderança espera que os dois debates desta semana despachem um número de azarões, conhecidos ou não no cenário nacional, que não passam de um dígito nas pesquisas, como o deputado Tim Ryan ou a autora de auto-ajuda Marianne Williamson. As primeiras pesquisas pós-debates devem desidratar várias campanhas de doações.
Saúde pública x privada
A maioria dos americanos – 53% – quer que o governo garanta o seguro saúde para todos. A diferença, entre os candidatos e a opinião pública, é como chegar lá. Embora 44% dos eleitores identificados como democratas ou favoráveis ao partido favoreçam um sistema único de seguro saúde, 34% preferem uma combinação se seguros privados e seguro garantido pelo estado.
Vantagem de Biden
O ex-vice-presidente Joe Biden, ausente na noite de terça e incluído no grupo do segundo debate, na quarta-feira, 31, poderia ser um beneficiado da noite. Biden continua liderando com folga as pesquisas, à frente dos senadores Elizabeth Warren, Kamala Harris e Bernie Sanders, todos situados à sua esquerda. Biden foi surpreendido por Harris no primeiro debate em junho com uma crítica contundente sobre sua posição sobre o transporte obrigatório de negros em ônibus escolares nos anos pós-segregação racial e sofreu uma queda nas pesquisas, da qual já se recuperou. Diante da civilidade da primeira noite, Biden, frequentemente acusado de centrista demais e insensível a novas gerações de democratas, chega ao debate de quarta com menos controvérsia. Mas vai encontrar Kamala Harris de novo, a autora do estrago temporário em sua campanha.