Crise da Venezuela e acordo com União Europeia dominam reunião do Mercosul
Bloco quer concluir neste ano o tratado de livre comércio com o bloco europeu e explorar possíveis negociações com a China e a Rússia
Com foco nas crises econômica e humanitária venezuelana, os presidentes do Mercosul concordaram na segunda-feira (18) em Assunção, no Paraguai, em coordenar esforços para atender ao fluxo de refugiados do país sul-americano e para convencer o regime de Nicolás Maduro a aceitar o ingresso de ajuda internacional para os venezuelanos “para aliviar a crise social e migratória”.
Em uma declaração específica sobre a Venezuela, lida pelo presidente do Paraguai, Horacio Cartes, o Mercosul destacou a necessidade de coordenar esforços para responder ao fluxo migratório de venezuelanos na região “de forma consistente com a dignidade e a preservação dos direitos fundamentais dos imigrantes”.
Há dois anos, o Mercosul suspendeu a filiação da Venezuela ao bloco por rompimento da “ordem democrática” e passou a pressionar o país a abandonar seu viés autoritário. A onda de refugiados venezuelanos, que fogem do colapso econômico e social e do cenário político adverso, chama agora a atenção do bloco à crise humanitária no país vizinho.
De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 33,8 mil venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil em 2017. No mesmo ano, 10,1 mil já haviam conseguido o registro. A Prefeitura de Boa Vista (RR) estima que, até fevereiro, recebeu 40 mil venezuelanos. Apesar desse fluxo, o Brasil não é o destino preferencial dos venezuelanos. A Colômbia recebeu mais de um milhão nos últimos 16 meses.
Outra declaração condenou a violência das forças de segurança da Nicarágua durante sucessivos protestos realizados desde o início do ano. A reação policial provocou 180 à morte. No texto, o Mercosul pediu para às autoridades e aos manifestantes para “retomarem o diálogo”, sob a mediação da Igreja católica.
A reunião de Assunção fechou o período de presidência paraguaia do Mercosul. O Uruguai comandará os trabalhos do bloco no segundo semestre.
Acordo com a UE
O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, não poupou críticas à falta de entendimento com a União Europeia para a conclusão do acordo de livre-comércio. À sua equipe caberá a condução dos trabalhos do Mercosul para a finalização do tratado até o final deste ano.
“Quando você quer, você pode”, disse Vázquez, ironicamente, observando que a União Europeia está fechando um acordo com o Japão depois de apenas um ano de negociações. As negociações com o Mercosul foram iniciadas no final da década de 1990, mas permaneceram suspensas por mais de uma década até a retomada do diálogo, em 2016.
O presidente Michel Temer, no entanto, defendeu os diálogos com a União Europeia e observou que eles “avançaram enormemente nos últimos anos”. Temer acrescentou que um grande acordo com a Europa “não se resolve da noite para o dia” e que o trabalho deve prosseguir.
As negociações estão travadas em questões sensíveis para os dois lados. Entre outros temas, o Mercosul insiste em obter uma cota mais volumosa para a exportação de carnes com tarifa zero. Os europeus querem maior acesso ao mercado automotivo do bloco sul-americano.
O Mercosul tratou também no encontro de Assunção da abertura de novas frentes para a negociação de acordos de livre-comércio. Entre os parceiros possíveis estão a China, a Rússia, Singapura e o Japão. O bloco atualmente está negociações com o Canadá e a Coreia do Sul, além das conversas com a União Europeia.
Temer ponderou sobre as negociações com a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México). “Essa aliança é fundamental para fazer uma integração latino-americana das nações. Essa aliança sólida deve ser uma política de Estado”, afirmou.
Vázquez lembrou que os presidentes dos países do Mercosul estarão presentes na reunião de cúpula da Aliança do Pacífico, prevista para julho em Puerto Vallarta, no México. “Reafirmamos nossa convicção em uma integração pragmática dos dois blocos”, completou.
Além dos presidentes do Paraguai, Brasil e Uruguai, os vice-presidentes da Argentina, Gabriela Michetti, e da Bolívia, Álvaro Linera, participaram desta reunião de cúpula. O ministro das Relações Exteriores do Chile, Roberto Ampuero, representou o país.
(Com AFP)