Crianças estão morrendo de fome e doenças no Iêmen enquanto sete caminhões com remédios e equipamentos médicos estão bloqueados no porto de Hodeidad há duas semanas, afirmou Geert Cappelaere, diretor de Oriente Médio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Cappelaere descreveu cenas “de partir o coração” de crianças esquálidas em hospitais na cidade portuária de Hodeidah e na capital do Iêmen, Sanaa. Ambas são controladas pelos rebeldes xiitas houthis, que lutam pela deposição do presidente Abedrabbo Mansour Hadi, apoiado pela coalizão militar comandada pela Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Entre as crianças afetadas está Ghazi Ali bin Ali, de 10 anos de idade, internado no hospital Jabal Habashi para o tratamento de desnutrição grave. “Temos indícios de que hoje, a cada 10 minutos uma criança de menos de 5 anos está morrendo de doenças evitáveis e de desnutrição grave no Iêmen”, disse Cappelaere.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 14 milhões de pessoas – a metade da população do Iêmen – estão à beira de um surto de fome em breve. Já existe 1,8 milhão de crianças iemenitas desnutridas, das quais mais de 400.000 delas sofrendo de o estágio mais grave da enfermidade, que as deixa em estado esquelético e correndo risco de morte.
“Mas há mais. Muitas crianças estão morrendo de doenças evitáveis por meio de vacinação. Hoje, não mais do que 40% das crianças de todo o Iêmen estão sendo vacinadas.”
Sarampo, cólera e difteria podem ser mortais para crianças, especialmente as de menos de 5 anos. Tratam-se de doenças exacerbadas pela desnutrição.
“Por causa desta guerra brutal, por causa dos obstáculos e obstruções criados, infelizmente não é possível fazer mais”, afirmou Cappelaere.
Mira ruim
Na última terça-feira, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Jim Mattis, pediu um cessar-fogo no Iêmen e conclamou todos os lados do conflito a se sentarem à mesa de negociações nos próximos 30 dias.
O chefe do Pentágono disse que seu país vem observando o conflito “por tempo suficiente” e declarou acreditar que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, apoiados pelos Estados Unidos, estejam prontos para negociações.
“Temos que nos mover em direção a um esforço de paz aqui, e não podemos dizer que vamos fazer isso em algum momento no futuro”, disse Mattis no Instituto de Paz, em Washington. “Precisamos fazer isso nos próximos 30 dias”.
Mattis disse que os Estados Unidos estão pedindo a todas as partes em conflito que se encontrem na Suécia com o enviado especial das Nações Unidas, Martin Griffiths, em novembro, para “chegar a uma solução”.
O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, pediu nesta terça-feira o fim de todos os ataques aéreos nas áreas povoadas do Iêmen, conduzidos pela coalizão liderada pela Arábia Saudita.
“A hora é agora para a cessação das hostilidades, incluindo ataques com mísseis e UAV (drones) de áreas controladas por huthis no Reino da Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos”, disse Pompeo, por comunicado. “Posteriormente, os ataques aéreos da coalizão devem cessar em todas as áreas povoadas do Iêmen”, acrescentou.
A Arábia Saudita e seus aliados intervieram em 2015 no conflito entre o presidente do Iêmen Hadi e os huthis. Quase 10.000 pessoas já foram mortas no país.
Os Estados Unidos enfrentaram duras críticas internacionais por seu papel no apoio à coalizão liderada pela Arábia Saudita, especialmente depois que uma série de ataques matou dezenas de civis.
Mattis disse que esse apoio se baseia principalmente no treinamento da Força Aérea saudita – para que os pilotos melhorem suas miras e não bombardeiem quando houver dúvida sobre o alvo a ser atingido. Em um desses ataques da coalizão, em 9 de agosto passado, um ônibus escolar foi atingido, o que provocou a morte de 51 pessoas, entre as quais 40 menores. O número de feridos chegou a 79, dos quais 56 crianças.
“Nosso objetivo agora é alcançar um nível de capacitação por parte dessas forças que lutam contra os huthis para que eles não matem pessoas inocentes”.
No mês passado, as negociações de paz lideradas pelas Nações Unidas não avançaram. Os rebeldes huthis se recusaram a voar para Genebra por causa do que eles disseram ser “uma falha da ONU” em garantir o retorno seguro deles a Sanaa, controlada pelo grupo desde 2014.