A Coreia do Sul anunciou nesta sexta-feira, 17, a doação de oito milhões de dólares em ajuda humanitária para a Coreia do Norte. Segundo o governo de Seul, a ação deve beneficiar crianças subnutridas e mulheres grávidas em um momento em que o país vizinho enfrenta estiagem severa e a pior colheita agrícola da última década.
Inicialmente, esta quantia doada por Seul já teria sido enviada em 2017, por meio do Programa Alimentar Mundial e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O auxílio foi protelado a pedido do líder japonês, Shinzo Abe, depois que o governo do norte-coreano Kim Jong-un lançou um míssil contra o país, naquele mesmo ano.
Desta vez, a Coreia do Sul deixa claro que não enxerga o debate sobre o programa nuclear do Norte como uma razão para negar a ajuda humanitária. “A posição do nosso governo é de que ofereceremos a assistência para o povo norte-coreano, independentemente da situação política”, afirmou um comunicado do Ministério da Unificação.
O Programa Alimentar Mundial e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgaram neste mês que 10 milhões de norte-coreanos – 40% da população – estão enfrentando “racionamento extremo de comida” nos últimos meses. Segundo o governo norte-coreano, o país passa pela pior seca em 37 anos, que deverá afetar as colheitas de trigo e cevada em junho.
Por enquanto, não foi reportada uma ‘epidemia’ de desnutrição na Coreia do Norte, que enfrentou uma grande crise de fome nos anos 1990. Mas as agências humanitárias da Organização das Nações Unidas (ONU) alertam sobre a expansão dos problemas nos próximos meses, “se ações urgentes e apropriadas não forem tomadas.”
O pacote de ajuda da Coreia do Sul deve incluir 4,5 milhões de dólares repassados para o Programa Alimentar Mundial para a compra de suplementos alimentícios para hospitais e creches. Também inclui 3,5 milhões de dólares para projetos do Unicef de compra de vacinas, remédios e vitaminas para crianças e mulheres grávidas.
Os mísseis de Kim
O presidente sul-coreano Moon Jae-in espera que as doações convençam o governo vizinho a retomar o diálogo com os Estados Unidos sobre seu projeto nuclear militar. Segundo Moon, o líder americano, Donald Trump, apoia a ideia de ajuda humanitária posta em prática pela Coreia do Sul.
Apesar do tom otimista, o gabinete de Moon teme as acusações da oposição conservadora da Coreia do Sul sobre uma suposta coalizão com Kim Jong-un, especialmente depois de novos testes do ditador com mísseis. Os conservadores argumentam que o Norte desperdiça recursos no programa nuclear em vez de investi-los na ajuda para o próprio povo.
“Este é o momento de interromper qualquer ajuda ao Norte e não de fornecê-la”, disse Jun Hee-kyung, porta-voz do Partido Coreia Liberdade, logo depois do anúncio do pacote nesta sexta-feira. Ela acusou Moon de fazer uma “pacificação irresponsável”, segundo o New York Times.
Desde 2016, os Estados Unidos vêm ampliando sanções rígidas contra a Coreia do Norte em represália ao seu programa nuclear, banindo o carvão, o minério de ferro e outros produtos essenciais exportados pelo país asiático. Também limitou as alternativas de fornecimento de petróleo ao país. Essas medidas reduziram fontes de renda importantes do governo, diminuindo também sua habilidade de importar alimentos.
Kim Jong-un esperava alívio das restrições econômicas com a desativação de parte do projeto de armas nucleares. Trump recusou a oferta em fevereiro, em seu segundo encontro com Kim, no Vietnã, exigindo que a Coreia do Norte acabe com todas as ogivas. Desde então, as negociações estão travadas.
Em 9 de maio, os norte-coreanos lançaram dois mísseis de curto alcance em direção a uma base próxima a Seul, capital da Coreia do Sul, apenas quatro dias após realizar um primeiro lançamento.
Essas operações do país comunista são vistas como um alerta de seu governo sobre possíveis lançamentos bélicos mais ambiciosos caso não obtenha maior abertura econômica do exterior. Kim deu até o final do ano para Washington mostrar mais flexibilidade na relação diplomática, indicando que depois disso seu país buscaria outras vias para se fazer ouvido.