Congresso dos EUA cassa mandato de deputado filho de brasileiros
George Santos é expulso do legislativo após virar alvo de uma série de acusações, desde mentir sobre currículo até desvio de dinheiro de campanha
O Congresso dos Estados Unidos decidiu nesta sexta-feira, dia 1º, cassar o mandato do deputado George Santos, filho de imigrantes brasileiros, e expulsá-lo do legislativo americano.
Para isso, era preciso a aprovação de dois terços da Câmara, 287 deputados dos 435 eleitos – ou seja, tanto democratas quanto os colegas republicanos de Santos deveriam apoiar a medida. Ao final da votação, 311 legisladores se disseram a favor da expulsão, incluindo 105 republicanos, e 114 contra.
A votação ocorreu após o Comitê de Ética da Câmara publicar um relatório apontando diversas irregularidades e crimes financeiros nos quais Santos está envolvido. Quem apresentou a resolução para expulsar o deputado foi o presidente de ética da Câmara, Michael Guest.
“Fraude para lucro pessoal”
O relatório, publicado em 16 de novembro, afirmou ter descoberto “condutas ilegais” por parte de Santos, além das acusações criminais já pendentes contra ele.
Santos “procurou explorar de forma fraudulenta todos os aspectos de sua candidatura à Câmara para obter lucro financeiro pessoal”, concluiu o relatório, que foi encaminhado ao Departamento de Justiça para investigações mais aprofundadas.
Após a divulgação do relatório, Santos, eleito em janeiro deste ano, anunciou que não se candidatará à reeleição. No entanto, classificou o texto do Comitê de Ética como “tendencioso”.
Problemas na justiça
Anteriormente, o deputado já havia se declarado inocente de 23 acusações federais, incluindo:
- lavagem de fundos de campanha para pagar suas despesas pessoais;
- recebimento ilegal de seguro-desemprego;
- mentiras à Câmara dos Deputados sobre seu patrimônio.
Ele também teria usado cartões de crédito de doadores de campanha sem o consentimento deles e relatado um empréstimo falso para sua candidatura, de US$ 500 mil (R$ 2,4 milhões).
Santos, mesmo assim, havia sobrevivido a várias tentativas anteriores de expulsá-lo da Câmara.
No início de novembro, um esforço liderado pelos seus correligionários do Partido Republicano falhou. Vários congressistas expressaram preocupação em expulsar um membro da legenda durante uma batalha judicial inacabada, e portanto sem condenação criminal. Antes da votação, Santos defendeu seu direito à “presunção de inocência”.
Rede de mentiras
Antes das acusações criminais, Santos já havia sido pego em uma teia de inverdades, que podem tê-lo ajudado a ser eleito. Ele admitiu ter mentido sobre sua suposta ascendência judaica, sobre ter trabalhado em dois grandes bancos de Wall Street – Goldman Sachs e Citigroup –, sobre seu diploma universitário e um suspeitíssimo histórico como estrela do voleibol.
Santos teria afirmado que havia trabalhado como modelo para a Vogue, na produção do musical Spider-Man: Turn Off The Dark na Broadway e no ramo de venda de iates, informações essas que não foram comprovadas.
Somado à longa lista de farsas, Santos informou que tinha um apartamento de US$ 1 milhão no Brasil e 13 propriedades familiares. Ele esclareceu posteriormente que vive no Queens com a irmã e que não tem posses imobiliárias. Além disso, já foi réu em um processo criminal no Tribunal do Rio de Janeiro. Filho de uma mineira e um santista que emigraram do Brasil, em 2008, ele teria utilizado um talão de cheques de um dos pacientes de sua mãe, que na época era enfermeira em Niterói, falsificado sua assinatura.