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Confrontos entre manifestantes e militares deixam três mortos na Bolívia

Jeanine Áñez, presidente interina do país, assinou decreto que isenta militares de processo penal se gerarem vítimas em tarefas 'para manter a paz'

Por AFP 20 nov 2019, 01h47

Confrontos entre manifestantes e militares que liberavam o acesso a uma central de combustíveis em El Alto, cidade vizinha a La Paz, deixaram três mortos e 30 feridos nesta terça-feira, um dia antes de a OEA discutir uma resolução pedindo eleições urgentes na Bolívia.

“Se constatou a existência de três mortos, dois deles confirmados (por impacto) de bala”, inclusive Dayvi Posto Cusi, de 31 anos, disse um porta-voz da Defensoria do Povo.

Além disso, a entidade revisou para 30 o número de feridos, todos leais ao ex-presidente Evo Morales, que está asilado no México, após renunciar ao cargo em 10 de novembro, depois de ser reeleito em eleições denunciadas como fraudulentas pela oposição e a OEA, que encontrou “irregularidades”.

Um comunicado das Forças Armadas destacou que “agitadores e vândalos enfurecidos” atacaram e destruíram parcialmente a central de hidrocarbonetos de Senkata, “utilizando explosivos de alto poder”.

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Pouco antes, uma força combinada de policiais e militares, apoiada por blindados e helicópteros, entrou na planta, ocupada há dias por manifestantes, para retomar em carros-tanque o abastecimento de combustível, cuja escassez começa a se aprofundar em La Paz.

Na noite desta terça-feira, o ministro da Defesa, Luis Fernando López, disse que apesar das três mortes “das Forças Armadas não partiu um só disparo”.

López atribuiu a violência a “hordas” que “estão recebendo ordens, dinheiro, álcool e coca para causar temor, pânico”.

Do México, Morales escreveu no Twitter: “Eu denuncio ao mundo que o governo de fato no estilo de ditaduras militares novamente mata meus irmãos em El Alto, que resistem pacificamente ao golpe e lutam em defesa da vida e da democracia”.

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A presidente interina Jeanine Áñez (direita) assinou um decreto nos últimos dias, descrito pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) como “grave”, que isenta os militares de processos penais se gerarem vítimas em suas tarefas de manutenção da ordem no país, convulsionado há um mês.

OEA

Para tentar acalmar a situação, Áñez prometeu realizar eleições presidenciais e legislativas em breve, mas sem precisar a data.

A crise boliviana será analisada nesta quarta-feira pelo Consejo Permanente da OEA, órgão executivo do bloco regional com sede em Washington, que discutirá a proposta de Brasil e Colômbia pela adoção de um calendário eleitoral urgente e que dê todas as garantias democráticas.

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A iniciativa instrui ainda a Secretaria Geral da OEA a conceder à Bolívia todo o apoio técnico “para que se dê o início imediato ao processo eleitoral, conforme os princípios de transparência, independência, credibilidade e confiança”.

Nesse quadro conflituoso e de múltiplas pressões, a Igreja Católica mantém um espaço para o diálogo com autoridades e opositores para chegar a um acordo sobre a eleição das autoridades eleitorais e a convocação de novas eleições, depois das denúncias de fraude nas eleições presidenciais de 20 de outubro que desencadearam a crise atual.

Cocaleros seguidores de Morales, que renunciou e está no México há uma semana, entraram em confronto na segunda-feira com militares e policiais na região de Cochabamba (centro), desejosos de continuar seu trajeto até La Paz, sede do poder executivo, para buscar a renúncia da presidente interina.

Os incidentes foram registrados nos arredores da cidade de Cochabamba (400 km a leste de La Paz), depois de outros confrontos violentos na cidade vizinha de Sacaba, que deixaram na sexta-feira nove mortos. Os cocaleros partiram dias antes da região de Chapare, reduto de Morales, para passar por Cochabamba e terminar em La Paz.

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Na segunda-feira, enfurecidos pela morte de seus companheiros, os seguidores de Morales tentaram entrar na cidade à força, mas foram dispersos com gás lacrimogêneo e veículos blindados, enquanto a multidão respondia com pedras.

Em La Paz, indígenas aimarás seguem mobilizados, detonando fogos de artifício, sob vigilância policial.

Eleições gerais

O poderoso líder regional de Santa Cruz e peça-chave na renúncia do ex-presidente, Luis Fernando Camacho, estabeleceu um prazo até quinta-feira para o Congresso eleger os membros do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).

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“Exigimos eleições até 19 de janeiro de 2020, com a incorporação de novos atores e um Tribunal Eleitoral transparente e acima de tudo imparcial”, escreveu Camacho no Twitter, sem especificar quais medidastomará se seus pedidos forem ignorados.

Todas os cargos do TSE ficaram vacantes desde a prisão de suas autoridades, após uma auditoria da OEA, mais de uma semana atrás, que constatou irregularidades na contagem de votos nas eleições de outubro que reelegeram Morales contra o ex-presidente Carlos Mesa.

Mesa e o também ex-presidente Jorge Quiroga pediram a Áñez que convoque eleições gerais o mais rápido possível, mesmo que por decreto presidencial, se o Parlamento – onde o partido de Morales é maioria – não conseguir organizar a formação do corpo eleitoral.

A violência social na Bolívia, que começou após as eleições de 20 de outubro, qualificadas de fraudulentas pelos adversários de Morales, já deixou 27 mortos e mais de 400 feridos, segundo a Defensoria do Povo.

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