Algumas das grandes cidades do sudoeste dos Estados Unidos já estão sentindo de forma intensa os efeitos da mudança climática. Além de englobar a lista de metrópoles que mais crescem no país, Las Vegas, Phoenix, Houston, Fort Worth e Seattle também estão atualmente no ranking de locais com maior risco para desastres naturais associados ao aquecimento global – entre eles furacões, inundações, incêndios florestais e ondas de calor.
Segundo o Índice Nacional de Riscos Naturais elaborado em 2021 pela Agência Federal de Gerenciamento de Emergências americana (FEMA), os condados com maiores riscos estão localizados nos estados da Califórnia, Arizona, Nevada, Washington, Texas e Flórida. Quando analisado apenas o perigo de ondas de calor, o sudoeste americano aparece em destaque.
Chama atenção, porém, que algumas das cidades localizadas na região estão entre as que mais crescem no país. Phoenix, no Arizona, já é a quinta maior dos Estados Unidos, enquanto a população de Las Vegas aumentou 18.7% entre 2010 e 2020.
As duas metrópoles desérticas têm atraído cada vez mais trabalhos e investimentos, mas não é só ali que o fenômeno acontece. De acordo com um relatório do Censo americano divulgado em setembro, os investimentos empresariais na área desértica do sudoeste dos Estados Unidos vêm dobrando década após década desde 1950, com especial atenção também em Houston e Fort Worth, no Texas, e Seattle, em Washington.
A intensa concentração populacional e de indústrias, assim como a quantidade de emissões emitidas nas metrópoles, aumentam ainda mais a preocupação dos especialistas com as ondas de calor e outros desastres naturais causados pelo aquecimento global.
Os moradores já sentiam os efeitos da mudança climática antes mesmo da divulgação do índice da FEMA. Phoenix sempre foi quente, mas o processo de aquecimento acelerou consideravelmente nos últimos anos e a temperatura local chegou a 43,8ºC no início de setembro. As condições não são muito melhores em Las Vegas, localizada a cerca de 483 quilômetros ao norte, onde os termômetros atingiram 41,3ºC no mesmo período.
É justamente no verão que os maiores perigos começam a se revelar. O calor extremo é a principal causa de mortes relacionadas ao clima, podendo desencadear derrames, ataques cardíacos e falhas renais. Em locais desérticos, onde a população não percebe o superaquecimento porque o suor seca rapidamente no ar árido, o risco é ainda maior.
Segundo um estudo publicado em maio na revista Nature Climate Change, mais de um terço das mortes registradas todos os anos por calor extremo são causadas diretamente pelo aquecimento global. Só nos Estados Unidos, a mesma pesquisa foi registrada uma média de 1.100 mortes todos os anos, em cerca de 200 cidades, causadas pela mudança climática. Muitas dessas cidades estão localizadas no leste e meio-oeste do país, onde muitas casas não têm ar-condicionado.
As pessoas em maior situação de risco vivem geralmente nas comunidades pobres e onde há mais negros e imigrantes. Nesses locais, muitas famílias não têm os meios necessários para se prevenir ou recuperar dos desastres naturais, incluindo as cada vez mais frequentes ondas de calor.
O condado de Maricopa, em Phoenix, registrou 323 mortes relacionadas ao calor somente em 2020, enquanto o condado de Clark, onde fica Las Vegas, teve 82 mortes.
As altas temperaturas também levaram os Estados Unidos a declarar a pior seca em mais de 20 anos em junho. A estiagem atingiu especialmente o oeste do país e os níveis da água no maior reservatório do rio Colorado, o Lago Mead, caíram para níveis recordes. A bacia atende 40 milhões de pessoas e a situação de emergência obrigou muitas cidades a cortar o fornecimento no estado do Arizona durante o verão.
A situação emergencial tem obrigado os governos locais a correr contra o relógio em busca de soluções. Las Vegas e Phoenix já anunciaram um plano para plantar dezenas de milhares de árvores resistentes à seca em áreas vulneráveis, enquanto a capital do Arizona propôs instalar 400 pontos de ônibus refrigerados e com proteção para o sol nos próximos anos.
Organizações não-governamentais também têm trabalhado para ampliar o acesso das populações mais carentes a aparelhos de ar-condicionado doméstico e construir mais coberturas contra o sol em escolas e outros serviços públicos. São iniciativas pequenas que se tornarão cada vez mais necessárias enquanto essas cidades não param de crescer.