Depois de vinte meses, os Estados Unidos, enfim, reabriram as suas fronteiras para os viajantes estrangeiros. Como não poderia deixar de ser, a demanda reprimida explodiu em países como o Brasil, o principal mercado da América do Sul para os americanos. Quem estava com a vacinação completa e o visto em dia não teve dificuldade para embarcar nos aviões, mesmo com as novas exigências do governo americano, ainda em decorrência da pandemia de Covid-19. Prova disso foram os brasileiros que pisaram nos principais aeroportos do segundo destino mais procurado pelos turistas daqui — o primeiro é a Argentina. Quem precisa da documentação para viajar, porém, iniciou uma corrida aos sites dos consulados espalhados pelas principais capitais para agendar as famosas entrevistas. Só em São Paulo, a espera está em quase um ano. No Rio de Janeiro, em cerca de 200 dias. A tendência, segundo as autoridades consulares, é que a situação se normalize ao longo do tempo, já que mais vagas serão abertas frequentemente.
As novas regras têm como principal objetivo adequar os processos de obtenção de visto nos consulados a uma realidade que ainda se impõe. “A pandemia não acabou”, alerta Robin Busse, chefe do setor de vistos de não imigrantes do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. Serão aceitas vacinas aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), agência sanitária americana, ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que inclui todos os imunizantes atualmente em uso no Brasil. A dose final deve ter sido administrada duas semanas antes da data do embarque.
Os viajantes totalmente vacinados têm permissão para entrar no país se apresentarem prova de imunização e um teste de coronavírus negativo — pode ser PCR ou antígeno — três dias antes da partida. Menores de 18 anos estão isentos da exigência, mas devem fazer um teste dentro de 24 horas antes da viagem. Os comprovantes de vacinação comuns não têm a data de nascimento dos titulares e, portanto, não são aceitos pelas autoridades alfandegárias americanas. “Aconselhamos a quem for viajar obter o certificado digital do SUS, que traz o dado requerido”, reforça Natalia Molano, funcionária do consulado americano.
Quem já solicitou visto americano ou pagou as taxas consulares antes do início da pandemia tem algumas facilidades. Portadores de visto expirado há menos de 48 meses entram em um processo de renovação simplificado. As autoridades americanas estenderam a validade dos pagamentos até 30 de setembro de 2023, para permitir que todos os candidatos possam remarcar as entrevistas. Exceções para adiantamento só serão aceitas em casos envolvendo estudantes de intercâmbio, morte em família e situações humanitárias.
A movimentação da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil tem um fundamento. Em março do ano passado, o governo americano fechou as fronteiras para 33 países, incluindo o Brasil, por causa do vírus. Com isso, o turismo local sofreu as consequências. Segundo a US Travel Association, foram registradas perdas de quase 300 bilhões de dólares em gastos de visitantes e o fechamento de mais de 1 milhão de postos de emprego. Só em 2019, os brasileiros gastaram 11,3 bilhões de dólares em território americano. Durante a pandemia, as chegadas do Brasil diminuíram 90%, o que dá a dimensão do impacto financeiro da crise.
Do lado de cá, o setor turístico também sofreu. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), as suas 2 200 empresas associadas movimentaram 34 bilhões de reais em 2019 e, no ano passado, tiveram uma queda de 60% no faturamento. Por enquanto, a expectativa é que 2021 seja um pouco melhor e que, em 2022, o setor registre um aumento de 5% a 10% em relação aos níveis pré-pandemia. “O interesse das pessoas por viagens foi retomado 100%, porque elas querem sair”, diz Magda Nassar, presidente da Abav. A abertura das fronteiras no Brasil e no exterior, associada ao combate da pandemia e à manutenção das medidas de segurança sanitárias, é o melhor caminho para o turismo respirar aliviado.
Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2021, edição nº 2764