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Como França ficou submersa em lixo por protestos da reforma previdenciária

Aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos pode virar lei nesta semana, apesar de uma greve de lixeiros em Paris

Por Da Redação
Atualizado em 15 mar 2023, 11h16 - Publicado em 15 mar 2023, 11h04
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  • Em frente à Torre Eiffel, veem-se montes de restos de comida empilhados há mais de uma semana. Já pequenas ruas de paralelepípedos em Paris, capital da França, foram tomadas com latas de lixo transbordando. E a margem do rio Sena passou a ser contornada por pequenas montanhas de sacos lixo.

    Desde a semana passada, lixeiros em Paris e outras cidades da França entraram em greve, como forma de protesto contra o plano do presidente francês, Emmanuel Macron, de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos – de forma a desonerar o governo, que paga as pensões.

    As pilhas insalubres de lixo , algumas mais altas do que os pedestres, são símbolo forte – e malcheiroso – da indignação popular com o plano do governo. Também serve como um lembrete físico das dificuldades de profissões mais difíceis na velhice, segundo os trabalhadores em greve.

    + Contra reforma de Macron, 1,2 milhão de manifestantes tomam ruas da França

    Após dois meses de debates políticos, grandes protestos em todo o país e greves em múltiplos setores, a decisão final sobre a reforma previdenciária da França provavelmente será tomada nesta semana. Nesta quarta-feira, 15, um comitê de parlamentares se reunirá para elaborar uma última versão da lei proposta. Se for bem-sucedida, o projeto voltará ao Senado e à Assembleia Nacional para aprovação final na quinta-feira, 16.

    A grande questão é se o presidente Macron conseguiu reunir apoio suficiente de fora de seu partido centrista para garantir a votação na Assembleia Nacional, onde não detém mais uma maioria forte. Caso contrário, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, poderia usar seu poder constitucional para aprovar o projeto de lei sem votação, correndo o risco de expor o governo a uma moção de desconfiança.

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    Os franceses desfrutam de um dos sistemas de aposentadoria mais generosos da Europa. Criado após a Segunda Guerra Mundial como parte do elogiado sistema de proteção social do país, o complexo programa de pensões oferece o que muitos consideram uma terceira fase dourada – e longa – da vida, para explorar paixões, desfrutar de netos e se engajar em trabalhos voluntários, aproveitando um padrão de vida até melhor do que a população em geral. Como muitos trabalhadores argumentam, incluindo os coletores de lixo, também é um momento para se recuperar de uma vida de trabalho árduo.

    + Sindicatos ameaçam fechar economia da França contra reforma na previdência

    O governo de Macron diz que a idade de aposentadoria deve ser aumentada para manter o sistema sustentável. Os trabalhadores atuais e seus empregadores pagam pelas pensões dos aposentados, mas com a expectativa cada vez mais alta e o número crescente de aposentados, o sistema enfrenta déficits a longo prazo.

    O órgão oficial encarregado de monitorar o sistema previdenciário da França reconheceu, contudo, que não há ameaça imediata de falência. Sindicatos e oponentes de esquerda acusaram Macron de ignorar outras formas de aumentar o financiamento da previdência social, incluindo impostos sobre grandes fortunas.

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    Desde o início, as pesquisas de opinião mostraram que uma grande e relativamente inabalável maioria dos franceses se opõe à mudança. Milhões foram às ruas para sete grandes marchas nacionais, com outra planejada para esta quarta-feira.

    + Paris em chamas: os protestos contra a reforma da Previdência de Macron

    Embora os oito principais sindicatos do país tenham se juntado, em uma demonstração relativamente rara de unidade, para se opor à mudança, até agora conseguiram pouco. Macron se recusou a se encontrar com eles na semana passada, argumentando que não queria contornar os debates parlamentares.

    A greve dos lixeiros parece ser a última e furiosa resistência antes da votação. Os trabalhadores do setor suspenderam as operações há mais de uma semana em cidades de todo o país, incluindo Le Havre, Nantes, Antibes e Rennes. Em Paris, cerca de metade da cidade foi afetada, desde o elegante 16º arrondissement até o centro intelectual histórico da cidade no Quartier Latin.

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    Na segunda-feira 13, cerca de 5.600 toneladas métricas de lixo permaneciam sem coleta nas ruas, de acordo com a prefeitura de Paris. Os trabalhadores dos três incineradores que queimam o lixo da cidade também estão em greve.

    + Apesar de protestos, reforma da Previdência na França é ‘inegociável’

    Se o projeto se tornar lei, não está claro se os grandes protestos continuarão e quais consequências de longo prazo isso teria, se houver, para Macron e seu governo.

    Analistas políticos preveem que as manifestações se dissiparão. No entanto, eleitores podem punir o partido de Macron, já de olho nas eleições do próximo ano para o Parlamento Europeu.

    Por enquanto, os lixeiros em Paris votaram na terça-feira 14 para continuar em greve por mais uma semana, independentemente da votação. Muitos deles, como pessoas em toda a França, veem a mudança planejada como uma ameaça ao seu modo de vida e valores.

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