Como discurso de Bolsonaro na ONU repercutiu na imprensa internacional
'Fazendo campanha como fez em Londres', 'alívio por não criticar urnas eletrônicas' e 'aproximação com a Rússia': as avaliações dos jornais estrangeiros
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) abriu os discursos de chefes de Estado na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira, 20. A principal impressão da mídia internacional foi que ele passou a maior parte de seu tempo no palanque fazendo um resumo das realizações de seu governo, diante da eleição presidencial no Brasil em 12 dias.
“O discurso parecia uma fala relativamente plácida para os eleitores, o que provavelmente aliviou os líderes mundiais e diplomatas presentes”, escreveu o jornal americano The New York Times.
O alívio se deveu, segundo o Times, à expectativa da comunidade internacional de que o discurso adotasse um tom mais combativo, em razão da dúvida quanto a Bolsonaro aceitar os resultados da eleição. Seguindo a cartilha do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, ele vem questionando a credibilidade dos sistemas eleitorais do Brasil desde que venceu o pleito de 2018, sem evidências.
“Mas, nesta terça-feira, ele evitou qualquer menção às urnas. O sinal mais notável de sua personalidade política muitas vezes combativa foi a afirmação de que ele havia erradicado a corrupção causada por governos de esquerda anteriores, incluindo o de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente que agora lidera nas pesquisas para a eleição do próximo mês”, reportou o Times.
O jornal também destacou que Bolsonaro disse que algumas das principais prioridades do Brasil em direitos humanos eram “a defesa da família, o direito à vida desde a concepção, a autodefesa e o repúdio à ideologia de gênero”.
“Foi um discurso menos controverso do que seu discurso nas Nações Unidas no ano passado, no qual ele argumentou que os médicos deveriam poder prescrever medicamentos não testados para combater o coronavírus, enquanto mais tarde admitiu que não foi vacinado”, diz a reportagem. Nesta terça, Bolsonaro escolheu destacar o sucesso da campanha de vacinação no país, que já imunizou mais de 80% da população.
O Clarín, da Argentina, focou a tentativa de Bolsonaro de transformar as Nações Unidas em palanque eleitoral, dizendo que, “em seu discurso na Assembleia Geral, o presidente do Brasil concentrou-se em suas conquistas domésticas a menos de duas semanas das eleições”.
“Durante sua apresentação, Bolsonaro destacou as conquistas da agenda doméstica, desde a campanha de vacinação contra a Covid até suas conquistas econômicas, ao mesmo tempo em que afirmou que seu governo ‘baniu a corrupção da esquerda’, mensagem dirigida contra Lula da Silva, ex-presidente que atualmente lidera as pesquisas antes das eleições de 2 de outubro”, reportou o jornal argentino.
“Em mensagem claramente para consumo interno no Brasil, Bolsonaro aproveitou a janela global da Assembleia para fazer campanha, como já havia feito em Londres, durante o funeral da rainha Elizabeth II”, completou a reportagem.
Enquanto isso, a emissora americana CNN sublinhou as falas do presidente sobre a guerra na Ucrânia, em que repudiou sanções “unilaterais” e defendeu a diplomacia como a melhor maneira de acabar com o conflito.
“Bolsonaro disse que o Brasil não vê as sanções contra a Rússia como uma maneira viável de acabar com o conflito de sete meses, que começou após a invasão da Ucrânia pela Rússia”, reportou a CNN.
A emissora contextualizou a fala lembrado que, em abril, a Rússia pediu apoio ao Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Mundial e no grupo G20 diante das sanções econômicas em reprimenda à guerra.
“Bolsonaro, que manteve o Brasil neutro na crise da Ucrânia, expressou ‘solidariedade’ quando visitou o presidente russo, Vladimir Putin, em 16 de fevereiro, cerca de uma semana antes do início da invasão. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, disse anteriormente que o Brasil se opõe à expulsão da Rússia do G20”, afirmou a emissora.
O portal de notícias italiano Open também manchetou: “Do palco da ONU, Bolsonaro rejeita sanções contra a Rússia: ‘Somos contra o isolamento econômico'”.
No restante de seu discurso, disse o portal, “o presidente brasileiro concentrou-se sobretudo, em tom eleitoral, nas iniciativas tomadas por seu governo nos últimos anos”, diante das eleições de 2 de outubro.
“Do palco das Nações Unidas, o presidente brasileiro listou os ‘excelentes resultados econômicos’ do Brasil e o alto índice de vacinação contra a Covid-19, apesar de o presidente ter sido um dos maiores negacionistas da Covid”, reportou o Open.
No ano passado, o portal relembrou, sua presença na sede das Nações Unidas em Nova York gerou controvérsia, pois, sem se vacinar, Bolsonaro se viu obrigado a comer uma pizza na rua, e não no restaurante.