Após pressão popular, o governo golpista do Níger permitiu nesta quarta-feira, 16, um recrutamento em massa de voluntários para incrementar as forças do exército diante de ameaças da CEDEAO, bloco regional da África Ocidental. O grupo disse que está aberta a usar sua força militar se Mohamed Bazoum, líder eleito democraticamente e deposto em um golpe no mês passado, não voltar ao poder.
A campanha de recrutamento será lançada no próximo sábado, 19, em Niamey, capital do país, bem como em cidades expostas às forças invasoras, como perto das fronteiras com a Nigéria e o Benin, dois países favoráveis à intervenção. O governo disse não estar diretamente envolvido, mas ciente da iniciativa.
Moradores da capital nigerense, Niamey, pediram para participar do recrutamento. O grupo participaria de combates, prestaria assistência médica e forneceria logística técnica e de engenharia, entre outras funções, caso a junta militar precisasse de ajuda.
“Precisamos estar preparados sempre que isso acontecer”, disse Amsarou Bako, um dos fundadores da campanha, à agência de notícias AP.
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As tensões regionais se aprofundam à medida que o impasse entre o Níger e a CEDEAO não mostra sinais de arrefecimento. Na semana passada, depois de rejeitar os múltiplos esforços do bloco africano nas negociações, o governo golpista do Níger disse que estava aberto ao diálogo. Logo depois acusou Bazoum de “alta traição”.
A CEDEAO ativou uma “força de prontidão” para restaurar a ordem no país depois que os militares nigerenses ignoraram um prazo para libertar e restabelecer o poder de Bazoum. Os chefes do bloco vão se reunir nesta semana e não está claro se a invasão vai acontecer, o que pode gerar consequências devastadoras, como uma guerra regional.
Até o golpe, o Níger era visto como um dos últimos países democráticos na região do Sahel, ao sul do deserto do Saara, e um parceiro das nações ocidentais no esforço de conter a crescente violência jihadista ligada à Al Qaeda e ao Estado Islâmico. Agora, França e Estados Unidos, que tinham militares na região, suspenderam suas operações e os ataques jihadistas estão aumentando.
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De acordo com o ministério de Defesa, pelo menos 17 soldados foram mortos e quase 20 ficaram feridos em uma emboscada de extremistas na região de Tillaberi. O ataque ocorreu na tarde da última terça-feira, 15, quando um destacamento militar viajava entre as aldeias de Boni e Torodi. Os feridos foram levados para Niamey.
Esse foi o primeiro grande ataque contra o exército do Níger em seis meses e é um sinal preocupante da potencial escalada do conflito. Analistas dizem que quanto mais tempo o golpe se arrastar e o governo militar cimentae seu controle do poder, menos provável será uma intervenção.
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O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que ainda há espaço para a diplomacia devolver o país ao regime constitucional e afirmou que Washington apoia os esforços de diálogo da CEDEAO.
Washington não têm um embaixador no país há quase dois anos, o que especialistas afirmam que deixou o Níger sem acesso aos principais círculos de informações. Porém, Kathleen FitzGibbon, a nova embaixadora, deve chegar a capital Nimey no final de semana.