As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciou nesta segunda-feira que se transformará em um partido político, depois de permanecer mais de 50 anos na clandestinidade. A mudança, ponto fundamental do acordo de paz entre a guerrilha e o governo, ocorrerá no dia 1º de setembro e foi aprovada pelo Plenário do Estado Maior do grupo, reunido em Bogotá. “A abertura democrática de que a Colômbia precisa se avizinha”, escreveu o líder das Farc, Rodrigo Londoño, mais conhecido como “Timochenko”, em sua conta no Twitter”.
O grupo definirá o seu alinhamento político, nome e candidatos que disputarão eleições futuras em um congresso no fim de agosto, mas não descarta manter a sigla Farc, embora com nova denominação. O comandante Carlos Antonio Lozada disse que o evento público do partido acontecerá na Praça de Bolívar, centro político de Bogotá, bem perto da sede da Presidência, Casa de Nariño. “Será um grande ato político-cultural daquela que foi a principal e mais antiga guerrilha do continente”, acrescentou Lozada, cujo nome de batismo é Julián Gallo. Cada ex-guerrilheiro definirá se participa da política com o nome de guerra ou com o nome de batismo.
“Chegamos à paz para participar da política”, declarou o chefe negociador das Farc, Iván Márquez, ao anunciar o lançamento do movimento. Márquez aproveitou para registrar a preocupação com o assassinato de vários membros do grupo. Segundo ele, seis guerrilheiros que receberam o perdão do governo foram assassinados após deixar as prisões para visitar parentes.
Com um alto índice de desaprovação, que em maio chegava a 82%, de acordo com um estudo da empresa Gallup, um dos principais medos do grupo com sua passagem à vida legal é a possibilidade de que seus líderes sejam vítimas da violência política, similar ao extermínio de 3.000 simpatizantes, militantes e dirigentes da União Patriótica (UP, de esquerda), assassinados nos anos 1980 e 1990 por grupos paramilitares junto com forças estatais.
Acordo de Paz
A transformação das Farc em partido político é a última fase do acordo de paz assinado em novembro, após quatro anos de negociação, entre a organização e o governo de Juan Manuel Santos. Até o momento, as Farc entregaram mais de sete mil armas a 450 observadores internacionais da Organização das Nações Unidas em 26 zonas rurais do país.
Segundo o acordo, a antiga guerrilha terá um mínimo de 10 cadeiras no Congresso durante oito anos. “O partido das Farc pode ser um passo para a abertura do sistema político na Colômbia”, disse Marc Chernick, professor das universidades de Georgetown (Washington) e Los Andes (Bogotá). Para o cientista político, as Farc buscarão consolidar um partido político de esquerda, mas não necessariamente marxista.
“Estamos abertos ao diálogo com todas as forças e os movimentos políticos do país”, assegurou a ex-guerrilheira Erika Montero, que adiantou que o coletivo terá um caráter “anti-patriarcal” e “anti-imperialista”, focando no gênero, nos jovens, e nas questões agrária e urbana.
(com agências internacionais)