Previsto para chegar às plataformas de streaming dos Estados Unidos neste sábado (11), exatos 20 anos após os ataques de 11 de setembro de 2001, o documentário Surviving 9/11 (Sobrevivendo ao 11 de setembro, em tradução livre), narra uma série de histórias e até aqui desconhecidas do grande público de pessoas que viveram aquele fatídico dia.
A produção entrevistou pessoas que estavam nas Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e no Pentágono, em Washington, assim como familiares das vítimas, bombeiros e policiais envolvidos nos resgates de vítimas.
Leia abaixo histórias inéditas dos sobreviventes:
Melodie Homer
O marido de Melodie Homer, LeRoy Homer, comandava o vôo 93 da United Airlines. A aeronave foi sequestrada como parte dos ataques de 11 de setembro, mas acabou caindo num campo da Pensilvânia após passageiros retomarem o controle. Ao todo, 37 passageiros e sete tripulantes morreram.
“LeRoy sempre quis trabalhar para a United Airlines. Era o emprego dos seus sonhos. Quando o conheci, ele tinha dez álbuns de fotos cheios de todos os lugares que visitou graças ao seu trabalho. Ele escrevia atrás de cada foto o lugar e a data da visita.
“Eu perguntei, “Por que você fica anotando tudo?” E ele disse, “Bem, e se eu esquecer quando ficar velho?”
“Naquela manhã, liguei a televisão. Meu telefone começou a tocar com as pessoas querendo saber onde LeRoy estava. Foi quando comecei a entrar em pânico. Ninguém sabia o que estava acontecendo e quantos aviões mais haviam sido sequestrados. Liguei para o escritório de voos da United Airlines. Eles disseram que estava tudo bem com o voo do meu marido. Especificamente, a frase que a pessoa me atendeu foi: “Não se preocupe. Eu prometo a você, está tudo bem.”
“Ela me disse: “Você gostaria que eu enviasse uma mensagem para ele na cabine do piloto? E eu respondi que sim: “Por favor, diga a ele que queria ter certeza de que ele estava bem.”
“Pouco tempo depois, alguém da United Airlines me ligou ligou novamente. A pessoa me perguntou: “Você está sozinha?” E ele disse: “Acho que o último avião foi do LeRoy.”
Eu estava perto da janela. Me lembro de bater minha mão contra o vidro e dizer “Não, não, não.”
E gritei de volta: “Você me prometeu que ele estava bem.”
Nancy Suhr
O marido de Nancy Suhr, Danny, era bombeiro de Nova York e foi morto durante os resgates na Torre Sul. Ele foi atingido por uma das pessoas que se atirou da janela para fugir das labaredas.
“Danny adorava ser bombeiro. Ele dizia que se ganhássemos na loteria, e eu quisesse largar meu emprego, tudo bem, mas ele nunca sairia do corpo de bombeiros. Ele simplesmente amou cada minuto que pode atuar como bombeiro. Quando ele estava de férias, eu o ouvia ligar para o quartel e perguntar: “Perdi alguma coisa? Perdi meu bom emprego?” Quando sintonizei a TV naquela manhã, pensei: Isso vai ser muito ruim.”
“Eu estava assistindo o desenrolar dos fatos na TV e senti um pânico e terror absolutos. E então o telefone tocou. Era Brian, um amigo do Corpo de Bombeiros. Ele disse: “Nancy, Danny se machucou. Estou indo buscar você”. Você sabe que isso não é bom. Eles não vão te buscar em casa se seu marido somente quebrou o braço”.
“Brian me buscou. Não falamos nada durante o trajeto, mas não havia um carro na rua, só nós. Foi assustador. Chegamos ao hospital e as enfermeiras e médicos estavam do lado de fora. Eu corri para dentro. Todos os companheiros do Corpo de Bombeiros estavam no corredor, e seu chefe, Jinkowski, apenas olhou para mim.
“Ele estava sem conseguir falar muito apenas dizia, “Nancy …” E eu gritava: “Onde ele está?”. Até que ele disse: “Brian se foi”.
E ele disse, “Ele se foi.”
Eu olhei para cima e lá estava Chris Barry, outro cara que estava com Dan naquele dia. Ele estava grisalho, coberto de poeira.
“Então me disseram: Aparentemente … alguém que se jogou do prédio caiu sobre Danny quando ele e seu grupo estavam indo para a Torre Sul. Partiu sua testa ao meio, quebrou seu nariz, quebrou a órbita do olho, quebrou seu pescoço”.
“Só lembro que me trouxeram seu corpo e ele estava coberto até em cima. Lembro-me de apenas beijá-lo na bochecha e sussurrar em seu ouvido e dizer a ele que eu sempre o amaria e que faria com que Brianna [nossa filha] soubesse de sua importância. Ela saberia que ele era um homem maravilhoso e que faria parte de nossas vidas para sempre”.
“Ele tinha tanto orgulho de jogar futebol desde os seis anos de idade e nunca ter quebrado o nariz, e me lembro de ter pensado: “Meu Deus, ele deve estar puto porque quebrou o nariz”.
Pelo que eu soube, quem acabou se chocando contra ele foi uma mulher. As pessoas me perguntaram: “Você não ficou com raiva?” Respondi assim: “Você está brincando comigo? Quais foram os últimos pensamentos dessa mulher?”
“Ao mesmo tempo, ele estava indo para a Torre Sul. A Torre Sul desabou. Ele iria morrer de uma forma ou de outra naquele dia”.
Bill Spade
Bill Slade, bombeiro de Staten Island, na Grande Nova York, foi o único dos 12 homens de plantão no seu quartel a sobreviver ao 11 de setembro.
“Lembro de entrar pela porta do quartel naquela manhã. O rádio estava no máximo. Havia cheiro de café fresco com baunilha e uma dúzia de bagels à mesa. Portanto, sem nem mesmo olhar muito, sabia que meus colegas Doug e Nicky estão trabalhando e que Joe está fazendo torradas francesas. Lembro de dizer a ele: “Joe, quero a primeira torrada que ficar pronta, preciso provar isso”
“Aí recebemos um telefonema de um bombeiro de folga. Ele me diz: “Bill, acabei de ver um avião atingir o World Trade Center.”
“Ele diz que parece que vai ser algo grande. “É melhor você sair também.” Eu coloquei meu equipamento. Certifique de que tinha tudo o que precisava: duas boas lanternas, uma corda resistente. Mas ao chegar lá, não pude acreditar no que estava vendo. Corpos estavam caindo bem na nossa frente. Uma senhora caiu gritando, espatifando-se no chão”.
“Lembro de um homem e uma mulher que se jogaram lá de cima juntos, abraçados. Eles caíram daquele jeito, e ficaram mortos na rua naquela posição”.
Lauren Manning
Lauren Manning havia tido filhos a pouco tempo e voltara ao trabalho no World Trade Center naquele 11 de setembro. Ela foi atingida por chamas e sofreu queimaduras em 82% do corpo total. Lauren passou meses em coma e enfrentou um longo período de reabilitação.
“Para quem cresceu nas décadas de 70 e 80 como eu, o maior sonho era ser como aquelas pessoas que saem nas páginas da Glamour e da Cosmopolitan. Ter de tudo, ser de tudo, fazer de tudo. Em 2001, eu dirigia a Divisão Mundial de Dados de Mercado da corretora Cantor Fitzgerald. As Torres representavam um lugar de promessas e esperanças. Era minha casa. Eu ainda havia sido mãe muito recentemente, estava cheia de alegrias e sonhava com o novo mundo se abrindo para meu garotinho”.
“Ao mesmo tempo, estava ansiosa para começar a trabalhar, por causa dos projetos que tinha em mãos. Eu olhei para cima e vi o segundo avião atingir a Torre Sul. Eu podia ver as chamas, mas acima de tudo, podia senti-las descendo cada vez mais e passar através de minhas roupas atingindo minha pele. Comecei a sentir minha consciência se esvaindo e gritei por meu filho: “Tyler, não posso deixá-lo agora. Não vou deixá-lo agora.”
“Os médicos me diagnosticaram com 82,5% de queimadura corporal total. A maior parte era de terceiro e quarto graus, uma situação da qual ninguém pensou que eu seria capaz de sair. Durante três meses na UTI, aprendi a andar novamente”.
“Caramba, é difícil lembrar. Eu apanhei muito. Eu era a pessoa mais feliz naquela época. A vida era simples. Eu tive, através da minha lesão, aquele momento aprender a ser forte. Enquanto nos negócios, não podia ter tanta espontaneidade. Depois de tudo que passei, vi que poderia ser eu mesma”.
N.J. Burke
N.J. Burkett trabalhava à época como repórter da rede de TV ABC e passou quatro dias trabalhando direto, só parando para dormir no furgão da empresa.
“Logo após o primeiro choque, o plano era entrarmos em uma das torres. Eu quero estar lá com os bombeiros. Queria documentar esses resgates heróicos. Queria ver o heroísmo e a bravura dos dos bombeiros. Estacionamos a caminhonete no quarteirão da Torre Norte. Virei a esquina, olhei para cima, e não pude acreditar no que estava vendo”.
“Não havia como chegar perto o suficiente das torres para entrar. Você tinha esses caras parados lá. Quero dizer, eles estão parados como soldados esperando para ir para a batalha. Alguns deles estavam apenas olhando para as torres, sem piscar, se perguntando se seriam enviados. Em 12/09, cobri a história, dormi no caminhão satélite no Ground Zero. No dia 13/09, cobri o noticiário o dia todo, dormindo novamente no caminhão. Fiz o noticiário do dia 14/09, participei do noticiário das 18 horas e depois fui para casa”.
“Na época, pensei que o 11 de setembro seria apenas o começo. Que teríamos homens-bomba nos shows da Broadway, homens-bomba no metrô. Eu pensei que isso seria o início de ataques terroristas contínuos contra Nova York”.