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Cinco histórias inéditas e dramáticas de quem sobreviveu ao 11 de Setembro

Novo documentário 'Sobrevivendo ao 11 de Setembro' relembra maior tragédia da História americana

Por Ernesto Neves 11 set 2021, 08h05
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  • Previsto para chegar às plataformas de streaming dos Estados Unidos neste sábado (11), exatos 20 anos após os ataques de 11 de setembro de 2001, o documentário Surviving 9/11 (Sobrevivendo ao 11 de setembro, em tradução livre), narra uma série de histórias e até aqui desconhecidas do grande público de pessoas que viveram aquele fatídico dia.

    A produção entrevistou pessoas que estavam nas Torres Gêmeas  do World Trade Center, em Nova York, e no Pentágono, em Washington, assim como familiares das vítimas, bombeiros e policiais envolvidos nos resgates de vítimas.

    Leia abaixo histórias inéditas dos sobreviventes:

    Melodie Homer

    Melodie Homer: seu marido, LeRoy Homer, foi comandante do voo 93 da United Airlines, que caiu na Pensilvânia após a tentativa de sequestro ser frustrada pelos passageiros
    Melodie Homer: seu marido, LeRoy Homer, foi comandante do voo 93 da United Airlines, que caiu na Pensilvânia após a tentativa de sequestro ser frustrada pelos passageiros (Top Hat Productions/Divulgação)

    O marido de Melodie Homer, LeRoy Homer, comandava o vôo 93 da United Airlines. A aeronave foi sequestrada como parte dos ataques de 11 de setembro, mas acabou caindo num campo da Pensilvânia após passageiros retomarem o controle. Ao todo, 37 passageiros e sete tripulantes morreram.

    “LeRoy sempre quis trabalhar para a United Airlines. Era o emprego dos seus sonhos. Quando o conheci, ele tinha dez álbuns de fotos cheios de todos os lugares que visitou graças ao seu trabalho. Ele escrevia atrás de cada foto o lugar e a data da visita.

    “Eu perguntei, “Por que você fica anotando tudo?” E ele disse, “Bem, e se eu esquecer quando ficar velho?”

    “Naquela manhã, liguei a televisão. Meu telefone começou a tocar com as pessoas querendo saber onde LeRoy estava. Foi quando comecei a entrar em pânico. Ninguém sabia o que estava acontecendo e quantos aviões mais haviam sido sequestrados. Liguei para o escritório de voos da United Airlines. Eles disseram que estava tudo bem com o voo do meu marido. Especificamente, a frase que a pessoa me atendeu foi: “Não se preocupe. Eu prometo a você, está tudo bem.”

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    LeRoy Homer: piloto sempre sonhou trabalhar para a United Airlines
    LeRoy Homer: piloto sempre sonhou trabalhar para a United Airlines (Top Hat Productions/Divulgação)

    “Ela me disse: “Você gostaria que eu enviasse uma mensagem para ele na cabine do piloto? E eu respondi que sim: “Por favor, diga a ele que queria ter certeza de que ele estava bem.”

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    “Pouco tempo depois, alguém da United Airlines me ligou ligou novamente. A pessoa me perguntou: “Você está sozinha?” E ele disse: “Acho que o último avião foi do LeRoy.”

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    Eu estava perto da janela. Me lembro de bater minha mão contra o vidro e dizer “Não, não, não.”

    E gritei de volta: “Você me prometeu que ele estava bem.”

    Nancy Suhr

    Nancy Suhr: casada com Danny Suhr, o primeiro bombeiro a morrer ao entrar na Torre Sul
    Nancy Suhr: casada com Danny Suhr, o primeiro bombeiro a morrer ao entrar na Torre Sul (Top Hat Productions/Divulgação)
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    O marido de Nancy Suhr, Danny, era bombeiro de Nova York e foi morto durante os resgates na Torre Sul. Ele foi atingido por uma das pessoas que se atirou da janela para fugir das labaredas.

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    “Danny adorava ser bombeiro. Ele dizia que se ganhássemos na loteria, e eu quisesse largar meu emprego, tudo bem, mas ele nunca sairia do corpo de bombeiros. Ele simplesmente amou cada minuto que pode atuar como bombeiro. Quando ele estava de férias, eu o ouvia ligar para o quartel e perguntar: “Perdi alguma coisa? Perdi meu bom emprego?” Quando sintonizei a TV naquela manhã, pensei: Isso vai ser muito ruim.”

    Nancy Suhr e o marido, Danny: 'Ele amou cada minuto em que foi bombeiro'
    Nancy Suhr e o marido, Danny: ‘Ele amou cada minuto em que foi bombeiro’ (Top Hat Productions/Divulgação)

    “Eu estava assistindo o desenrolar dos fatos na TV e senti um pânico e terror absolutos. E então o telefone tocou. Era Brian, um amigo do Corpo de Bombeiros. Ele disse: “Nancy, Danny se machucou. Estou indo buscar você”. Você sabe que isso não é bom. Eles não vão te buscar em casa se seu marido somente quebrou o braço”.

    “Brian me buscou. Não falamos nada durante o trajeto, mas não havia um carro na rua, só nós. Foi assustador. Chegamos ao hospital e as enfermeiras e médicos estavam do lado de fora. Eu corri para dentro. Todos os companheiros do Corpo de Bombeiros estavam no corredor, e seu chefe, Jinkowski, apenas olhou para mim.

    “Ele estava sem conseguir falar muito apenas dizia, “Nancy …” E eu gritava: “Onde ele está?”. Até que ele disse: “Brian se foi”. 

    E ele disse, “Ele se foi.”

    Eu olhei para cima e lá estava Chris Barry, outro cara que estava com Dan naquele dia. Ele estava grisalho, coberto de poeira.

    “Então me disseram: Aparentemente … alguém que se jogou do prédio caiu sobre Danny quando ele e seu grupo estavam indo para a Torre Sul. Partiu sua testa ao meio, quebrou seu nariz, quebrou a órbita do olho, quebrou seu pescoço”.

    “Só lembro que me trouxeram seu corpo e ele estava coberto até em cima. Lembro-me de apenas beijá-lo na bochecha e sussurrar em seu ouvido e dizer a ele que eu sempre o amaria e que faria com que Brianna [nossa filha] soubesse de sua importância. Ela saberia que ele era um homem maravilhoso e que faria parte de nossas vidas para sempre”.

    “Ele tinha tanto orgulho de jogar futebol desde os seis anos de idade e nunca ter quebrado o nariz, e me lembro de ter pensado: “Meu Deus, ele deve estar puto porque quebrou o nariz”.

    Pelo que eu soube, quem acabou se chocando contra ele foi uma mulher. As pessoas me perguntaram: “Você não ficou com raiva?” Respondi assim: “Você está brincando comigo? Quais foram os últimos pensamentos dessa mulher?”

    “Ao mesmo tempo, ele estava indo para a Torre Sul. A Torre Sul desabou. Ele iria morrer de uma forma ou de outra naquele dia”.

    Bill Spade

    Bill Spade: bombeiro, foi um dos primeiros a ser avisado que um avião havia atingido o World Trade Center
    Bill Spade: bombeiro, foi um dos primeiros a ser avisado que um avião havia atingido o World Trade Center (Top Hat Productions/Divulgação)

    Bill Slade, bombeiro de Staten Island, na Grande Nova York, foi o único dos 12 homens de plantão no seu quartel a sobreviver ao 11 de setembro. 

    “Lembro de entrar pela porta do quartel naquela manhã. O rádio estava no máximo. Havia cheiro de café fresco com baunilha e uma dúzia de bagels à mesa. Portanto, sem nem mesmo olhar muito, sabia que meus colegas Doug e Nicky estão trabalhando e que Joe está fazendo torradas francesas. Lembro de dizer a ele: “Joe, quero a primeira torrada que ficar pronta, preciso provar isso”

    “Aí recebemos um telefonema de um bombeiro de folga. Ele me diz: “Bill, acabei de ver um avião atingir o World Trade Center.”

    “Ele diz que parece que vai ser algo grande. “É melhor você sair também.” Eu coloquei meu equipamento. Certifique de que tinha tudo o que precisava: duas boas lanternas, uma corda resistente. Mas ao chegar lá, não pude acreditar no que estava vendo. Corpos estavam caindo bem na nossa frente. Uma senhora caiu gritando, espatifando-se no chão”.

    “Lembro de um homem e uma mulher que se jogaram lá de cima juntos, abraçados. Eles caíram daquele jeito, e ficaram mortos na rua naquela posição”. 

    Lauren Manning

    Lauren Manning: atingida pelo fogo, ela teve 82% do corpo queimado
    Lauren Manning: atingida pelo fogo, ela teve 82% do corpo queimado (Top Hat Productions/Divulgação)

    Lauren Manning havia tido filhos a pouco tempo e voltara ao trabalho no World Trade Center naquele 11 de setembro. Ela foi atingida por chamas e sofreu queimaduras em 82% do corpo total. Lauren passou meses em coma e enfrentou um longo período de reabilitação.

    “Para quem cresceu nas décadas de 70 e 80 como eu, o maior sonho era ser como aquelas pessoas que saem nas páginas da Glamour e da Cosmopolitan. Ter de tudo, ser de tudo, fazer de tudo. Em 2001, eu dirigia a Divisão Mundial de Dados de Mercado da corretora Cantor Fitzgerald. As Torres representavam um lugar de promessas e esperanças. Era minha casa. Eu ainda havia sido mãe muito recentemente, estava cheia de alegrias e sonhava com o novo mundo se abrindo para meu garotinho”.

    “Ao mesmo tempo, estava ansiosa para começar a trabalhar, por causa dos projetos que tinha em mãos. Eu olhei para cima e vi o segundo avião atingir a Torre Sul. Eu podia ver as chamas, mas acima de tudo, podia senti-las descendo cada vez mais e passar através de minhas roupas atingindo minha pele. Comecei a sentir minha consciência se esvaindo e gritei por meu filho: “Tyler, não posso deixá-lo agora. Não vou deixá-lo agora.”

    “Os médicos me diagnosticaram com 82,5% de queimadura corporal total. A maior parte era de terceiro e quarto graus, uma situação da qual ninguém pensou que eu seria capaz de sair. Durante três meses na UTI, aprendi a andar novamente”.

    Lauren Manning: ela teve de reaprender a andar após sofrer queimaduras em praticamente todo o corpo
    Lauren Manning: ela teve de reaprender a andar após sofrer queimaduras em praticamente todo o corpo (Top Hat Productions/Divulgação)

    “Caramba, é difícil lembrar. Eu apanhei muito. Eu era a pessoa mais feliz naquela época. A vida era simples. Eu tive, através da minha lesão, aquele momento aprender a ser forte. Enquanto nos negócios, não podia ter tanta espontaneidade.  Depois de tudo que passei, vi que poderia ser eu mesma”.

    N.J. Burke

    NJ Burke: o repórter de TV trabalhou por quatro dias seguidos
    NJ Burke: o repórter de TV trabalhou por quatro dias seguidos (Top Hat Productions/Divulgação)

    N.J. Burkett trabalhava à época como repórter da rede de TV ABC e passou quatro dias trabalhando direto, só parando para dormir no furgão da empresa.

    “Logo após o primeiro choque, o plano era entrarmos em uma das torres. Eu quero estar lá com os bombeiros. Queria documentar esses resgates heróicos. Queria ver o heroísmo e a bravura dos dos bombeiros. Estacionamos a caminhonete no quarteirão da Torre Norte. Virei a esquina, olhei para cima, e não pude acreditar no que estava vendo”.

    “Não havia como chegar perto o suficiente das torres para entrar. Você tinha esses caras parados lá. Quero dizer, eles estão parados como soldados esperando para ir para a batalha. Alguns deles estavam apenas olhando para as torres, sem piscar, se perguntando se seriam enviados. Em 12/09, cobri a história, dormi no caminhão satélite no Ground Zero. No dia 13/09, cobri o noticiário o dia todo, dormindo novamente no caminhão. Fiz o noticiário do dia 14/09, participei do noticiário das 18 horas e depois fui para casa”.

    “Na época, pensei que o 11 de setembro seria apenas o começo. Que teríamos homens-bomba nos shows da Broadway, homens-bomba no metrô. Eu pensei que isso seria o início de ataques terroristas contínuos contra Nova York”.

    Assista ao trailer do documentário:

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