China usa ‘House of Cards’ para dizer que Ocidente é corrupto
Artigo publicado em site ligado ao partido afirma que escândalos retratados na série são a verdadeira cara da política dos EUA
Um artigo publicado no site da Comissão de Disciplina do Partido Comunista Chinês usou a premiada série House of Cards, produzida pelo Netflix, como exemplo da corrupção em países ocidentais, em especial os Estados Unidos.
Na série, o ator Kevin Spacey interpreta um político americano corrupto chamado Frank Underwood, que ganha espaço em Washington com táticas pouco republicanas. Como o programa faz sucesso entre os chineses, os burocratas locais resolveram mostrar que o enredo ficcional representa a política ocidental — sem tirar nem por.
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“Na verdade, se você analisar profundamente, vai descobrir que a corrupção nos países ocidentais desenvolvidos, como os EUA, é disseminada”, diz um trecho do artigo, assinado por Zhao Lin, membro de um grupo acadêmico ligado à comissão do partido. “Eles são menos íntegros do que se vangloriam”.
O artigo também cita o filme O Gângster (2007), que conta a história da ascensão de um traficante negro americano, como exemplo da podridão ocidental.
Segundo o The New York Times, o artigo é uma tentativa de afastar o foco da corrupção dentro da China, com a mensagem “Os ocidentais são tão ruins, ou até mesmo piores”.
O texto é ilustrado com uma foto do personagem Frank Underwood em uma cena em que ele se encontra com um lobista. A legenda diz: “negociatas envolvendo lobistas são comuns nos EUA”. O artigo, no entanto, não faz nenhuma menção sobre referências à corrupção de autoridades chinesas feitas na segunda temporada da série.
Em outro trecho, o autor enumera casos de corrupção que ocorrem nos EUA, na França e em Israel, como a recente condenação do ex-primeiro-ministro Ehud Olmert.
O The Wall Street Journal afirmou que o artigo desagradou fãs chineses do seriado, que criticaram a atitude do partido em fóruns na internet. “Nós podemos ver a corrupção deles [os ocidentais] pela TV, mas a nossa corrupção é sentida diariamente em nossas vidas”. Outro escreveu que “existe uma diferença fundamental entre os dois países [a China e os EUA] – só um deles poderia produzir um programa sobre esse tema”.
Censura – Enquanto os chineses discutem House of Cards, as autoridades locais lançaram nesta sexta-feira restrições para o trabalho de jornalistas e a publicação de reportagens críticas. Agora, repórteres chineses são impedidos de fazer reportagens fora das suas regiões e têm de pedir autorização para seus empregadores antes de escreveram textos críticos. Além disso, eles passaram a ser proibidos de possuir blogs pessoais. As novas regras foram criadas pela Administração Estatal de Imprensa, Publicação. Rádio, Filme e Televisão. O objetivo, segundo a comissão, é coibir o trabalho de ‘maus jornalistas’.
A China consta em 173º lugar em ranking elaborado pela ONG Repórteres sem Fronteiras que analisa a liberdade de imprensa em 179 países. Mesmo com a censura, muitos veículos de imprensa chineses conseguem publicar histórias investigativas sobre autoridades corruptas. Citado pelo NYT, o jornalista Ji Shuoming afirmou que as novas regras vão dificultar a elaboração esse tipo de reportagem.