China alerta para risco da Ásia ser ‘peça de xadrez’ do Ocidente
Chanceler chinês sugeriu que nações do sudeste asiático estariam sendo pressionadas a tomar partido em atrito entre EUA e China

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, recomendou nesta segunda-feira, 11, que os países asiáticos devem evitar serem usados como “peças de xadrez” por potências globais do Ocidente. Segundo o chanceler, a região poderia sofrer efeitos colaterais da rivalidade entre Estados Unidos e Pequim.
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“Devemos isolar esta região dos cálculos geopolíticos, de ser usada como peças de xadrez da rivalidade entre as grandes potências e da coerção”, declarou Wang em uma reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), na Indonésia.
O chanceler também afirmou que muitos países da região estariam sofrendo pressão para tomar partido no atrito entre EUA e China. “O futuro da nossa região deve estar em nossas próprias mãos”, disse ele.
O Sudeste Asiático há muito é uma área de atrito entre as potências, dada sua importância estratégica.
A China reivindica quase todo o Mar da China Meridional como seu território com base no que diz serem mapas históricos, colocando-a em desacordo com alguns países da ASEAN que dizem que as reivindicações são inconsistentes com a lei internacional.
O discurso de Wang ocorre poucos dias depois de um encontro entre Wang e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. O ministro chinês comentou que propôs à autoridade americana o estabelecimento de regras para interações positivas e que sugeriu que ambos deveriam defender conjuntamente o regionalismo na Ásia-Pacífico.
“Os elementos centrais são apoiar a centralidade da ASEAN, defender a estrutura corporativa regional existente, respeitar os direitos e interesses legítimos de cada um na Ásia-Pacífico, em vez de tentar antagonizar ou conter o outro lado”, disse o chanceler.
Outro assuntou polêmico abordado durante a cúpula das nações do sudeste asiático foi a disputa de influência entre Washington e Pequim sobre Taiwan. Wang disse que a ilha irá desfrutar de um desenvolvimento pacífico, desde que os princípios do regime chinês sejam respeitados.
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“Quando o princípio de Uma Só China for arbitrariamente desafiado ou mesmo sabotado, haverá nuvens escuras ou até mesmo tempestades ferozes no estreito (de Taiwan)”, afirmou, sobre o conceito de “um país, dois sistemas” que deveria reger as relações internacionais com Taiwan.
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O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan repercutiu as declarações do chanceler chinês, classificando-as como “absurdas”. “Taiwan está na vanguarda da resistência à expansão autoritária e não sucumbirá às ameaças de força do governo chinês”, disse a porta-voz do ministério, Joanne Ou.
Apesar da ilha ser autogovernada há mais de 70 anos, desde que uma guerra civil que expulsou os nacionalistas da região, o Partido Comunista Chinês (PCC) não reconhece a independência do território.
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Em junho, o ministro da Defesa da China, Wei Fenghe, acusou os Estados Unidos de tentar ter interferir sobre a questão e de “sequestrar” o apoio de outras nações na região do Indo-Pacífico para a soberania de Taipei.
As tensões entre Pequim e Taipei aumentaram nos últimos meses, quando os militares da China realizaram repetidas missões aéreas sobre o Estreito de Taiwan.
No fim do mês passado, um avião da Marinha estadunidense sobrevoou a mesma região em uma demonstração do “compromisso dos Estados Unidos com um Indo-Pacífico livre e aberto”, segundo comunicado do governo americano.